O macaco-prego-de-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos), é uma espécie de primata encontrada apenas no Brasil, endêmica da Mata Atlântica. Sua distribuição geográfica é bastante restrita, sendo encontrada em fragmentos de floresta apenas nos estados Minas Gerais (ao norte), Bahia e Sergipe. Os limites de sua distribuição são o rio São Francisco a oeste e a norte, e pelo rio Jequitinhonha ao sul e o limite oriental é o oceano Atlântico.
Macaco-prego-de-peito-amarelo
é bastante versátil e encontrado em diversos habitats
Mesmo sendo uma espécie versátil,
o macaco-prego-de-peito-amarelo tem preferência por florestas maduras e bem
desenvolvidas. É também encontrado em matas do Cerrado. No bioma Caatinga, a
espécie está restrita a serras e morros, onde há formações florestais ou matas
mais úmidas de vales e encostas. No entanto há baixa densidade populacional,
sendo que uma provável causa seja a caça, tanto para a alimentação quanto para
a manutenção de animais de estimação, além da perda de habitat.
Espécie se diferencia por não
apresentar tufos visíveis na cabeça como outros macacos-prego
Essa espécie de macaco-prego
tem um tamanho médio com os machos medindo aproximadamente 39 centímetros e uma
cauda de cerca de 41 cm, pesando entre 2 e 4,8 kg. A fêmea é um pouco menor,
cerca de 36 cm e pesando 1,3 kg. Sua
pelagem é marrom-acinzentada, com a parte superior do tronco e as pernas mais escuras
do que a parte inferior, e possui uma coloração amarelada no peito e na região
abdominal. Já o rosto e as mãos apresentam uma tonalidade dourada.
Diferencia-se de outros macacos pregos pela ausência de tufos na cabeça.
Destacam-se de outros símios por
serem curiosos e inteligentes
Esta espécie de macaco-prego é
bastante social, vivendo em grupos que variam entre 9-27 indivíduos. A
comunicação entre os membros do grupo é realizada por meio de vocalizações,
expressões faciais e posturas corporais. Além disso, eles são bastante ativos e
passam a maior parte do tempo se movimentando em busca de alimentos, que
consistem principalmente de frutas, sementes, flores e insetos. São muito
curiosos e inteligentes.
Risco para sobrevivência é que suas subpopulações não são viáveis a longo prazo
Essa espécie de macaco-prego está
ameaçada de extinção, sendo classificado como uma espécie em perigo crítico
(CR) pela Lista
Vermelha da IUCN. Sua população remanescente estimada está entre
3.000-5.000 no total, no entanto nenhuma subpopulação é viável a longo prazo. A
principal ameaça para a sobrevivência desses primatas é a perda de habitat,
decorrente da expansão urbana, do desmatamento e da fragmentação da floresta.
Além disso, a caça ilegal e o comércio de animais silvestres
também contribuem para a diminuição da população dessa espécie.
Espécie se reproduz bem em
cativeiro o que garante futuras reintroduções na natureza
Para tentar proteger o macaco-prego-de-peito-amarelo
e outras espécies ameaçadas da Mata Atlântica, diversas iniciativas de
conservação vêm sendo desenvolvidas. Uma dessas iniciativas é o PAN
Primatas do Nordeste , coordenado pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que tem como objetivo a conservação e a
pesquisa das espécies de primatas da Mata Atlântica. Outra iniciativa é a
criação com sucesso em zoológicos e criadouros conservacionistas no Brasil e no
exterior, permitindo a existência de uma população de segurança que favorecerá
a reintrodução do primata em áreas pré-determinadas e protegidas, além de
preservar a variabilidade genética da espécie.
O projeto Primatas da Mata
Atlântica realiza diversas atividades, como estudos ecológicos e
demográficos, monitoramento de populações, sensibilização da população local e
combate à caça ilegal e ao comércio de animais silvestres. Além disso, são
realizados programas de educação ambiental e de envolvimento da comunidade no
monitoramento e na conservação dessas espécies.
Em 2018, a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil
(AZAB), Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Ministério do Meio Ambiente (MMA)
firmaram um acordo de cooperação técnica para a preservação de 25 espécies
ameaçadas da fauna brasileira, incluindo o macaco-prego-do-peito-amarelo.
Em 2017, o BioParque do Rio de
Janeiro foi apadrinhado pela AZAB como responsável pela conservação desse
primata. A reprodução em cativeiro de animais em risco de extinção para
reintrodução em seus ecossistemas originais faz parte do projeto. A área para
visitação se tornou mais restrita, já que o espaço dos animais foi ampliado e
voltado para ações de pesquisa.
Unidades de conservação são
fundamentais para proteção das populações desse primata
Outra iniciativa importante é a criação
de unidades de conservação, onde a atividade humana pode ser controlada e
limitada. A criação de unidades de conservação é fundamental para a preservação
dessa espécie ameaçada e dos ecossistemas em que habita. Algumas áreas de
preservação em que são encontrados os macacos-prego-de-peito-amarelo
são: a Reserva Biológica
de Una, no Parque
Estadual da Serra do Conduru e no recém-criado Parque Nacional de Serra
das Lontras, na Bahia; e na Reserva Biológica da Mata
Escura em Minas Gerais e no Parque Estadual da
Lapa Grande Paulinho Ribeiro (PELG) no norte do estado mineiro e que abriga
importante remanescente do bioma Cerrado e áreas de Mata Atlântica.
No entanto, ainda existem fragmentos de floresta que poderiam abrigar mais
indivíduos da espécie, mas para isso é necessário que mais áreas de conservação
sejam criadas, protegidas e fiscalizadas.
Pesquisas científicas se
destacam como auxiliares na orientação de estratégias de conservação da espécie
A pesquisa científica tem sido
fundamental para entender melhor as necessidades e características do macaco-de-peito-amarelo
e orientar as estratégias de conservação. É o caso de um estudo recente
publicado em março de 2021 na revista American Journal
of Primatology e realizado por pesquisadora da USP o qual revela que, em um
hábitat com alta pressão de caça, o risco de predação tem forte impacto
sobre o comportamento de macacos-prego-do-peito-amarelo, fazendo com que
esses animais fiquem menos tempo nos lugares onde há mais comida. A pesquisa
foi realizada na Reserva Biológica de Una (BA) onde há três diferentes
ambientes florestais predominantes utilizados pelos primatas: a floresta madura,
a floresta secundária e um sistema agroflorestal denominado cabruca (no
qual cacaueiros plantados crescem à sombra das árvores mais altas). O resultado
da pesquisa mostrou que grupos de macacos deixam de ir às áreas que ofertam boa
quantidade de alimentos devido ao risco da predação.
Os estudos realizados até o
momento mostram que a dieta do macaco-prego-de-cara-dourada é composta
principalmente por frutos, que a diversidade genética da espécie é baixa
e que a fragmentação da floresta tem um impacto significativo na estruturação
genética das populações. Além disso, os macacos-prego evitam cruzar
rodovias durante o dia, mas utilizam as estradas à noite, quando o tráfego é
menor.
Situação do
macaco-prego-de-peito-amarelo ainda é critica apesar dos esforços de
conservação
Apesar dos esforços de
conservação, a situação do macaco-prego-do-peito-amarelo ainda é
crítica. É fundamental que sejam tomadas medidas urgentes para proteger a
espécie e seu habitat, como a criação de mais áreas de preservação, o combate à
caça ilegal e ao comércio de animais silvestres e a sensibilização da população
local para a importância da conservação da biodiversidade.
Fontes: Instituto
Evandro Chagas, O
Eco, AZAB, Fapesp, F5
News, Gazeta
de Toledo
Fotos: macaco-prego-de-peito-amarelo_by Luciano_Candisani e segunda foto: Macaco-prego-de-peito-amarelo_ by Miguel Rangel Jr , Mapa_distribuição geográfica do macaco-prego-de-peito-amarelo_Wikimedia Commons