Pesquisadores publicaram na revista científica internacional Ichthyology & Herpetology de junho de 2021 a descoberta de uma nova espécie de anfíbio a que deram o nome de rã-pixinguinha (Scinax pixinguinha). O nome buscou homenagear o músico e compositor brasileiro Alfredo da Rocha Vianna Filho, mais conhecido como Pixinguinha. As instituições envolvidas na pesquisa são o Projeto Bromeligenous, Instituto Marcos Daniel (IMD), Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Museo Argentino de Ciencias Naturales “Bernardo Rivadavia”.
Rã-pixinguinha foi encontrada
também em áreas urbanas no município de Santa Tereza
A rã-pixinguinha foi
encontrada pela primeira vez em Abril de 2020, no Parque
Natural Municipal de São Lourenço, no Município de Santa Tereza, na região
serrana do Espirito Santo, tendo sido
também localizada em áreas do perímetro urbano, no bairro São Lourenço por
exemplo, que fazem limite com a mata. Somente depois de um ano de muita
pesquisa, confirmando que se tratava de uma nova espécie, é que foi publicada
na revista científica- Ichthyology & Herpetology a descrição do novo
anfíbio para a ciência.
A pequena cidade de Santa Teresa,
com população estimada em 23.853 habitantes em 2021, é contígua à Mata onde foi
descoberta a rã-pixinguinha, e está localizada a cerca de 80 km de
Vitória, capital do Estado. O município é conhecido como o habitat de mais de
100 espécies de sapos, rãs e pererecas, a região é considerada como tendo
uma das maiores diversidades de anuros do planeta.
A espécie se caracteriza pelos
machos mudarem de cor com facilidade ao longo do dia
A rã-pixinguinha é um pequeno
anfíbio, medindo entre 2,4-2,8 cm(machos) e 3,1-3,8 cm(fêmeas), portanto estas
são maiores que os machos. Diferencia-se de outras espécies pela característica
de que os machos mudam de cor com facilidade, de dia é cinza, marrom e
bege, e a noite, período em que são ativos, adquire uma cor amarelo vivo. Além
disso, a espécie tem uma coloração verde esbranquiçada na região da virilha, e
os machos tem braços mais fortes do que outras rãs.
Degradação das nascentes e
poluição dos córregos estão entre as ameaças à rã-pixinguinha
Pouco se sabe sobre a rã-pixinguinha,
porém ela corre riscos devido à degradação das nascentes e poluição dos
córregos por esgotos e agrotóxicos. O aspecto positivo é que a área de Mata
Atlântica de encosta onde foi encontrada a nova rã está bem preservada por
estar em um Parque com floresta em excelente estado de conservação, abrigando
uma imensa riqueza de biodiversidade e, cortada por inúmeros córregos que
deságuam no rio São Lourenço.
Fungo é ameaça global aos anfíbios com distribuição restrita
A descoberta é importante porque rãs que possuem uma distribuição restrita em uma pequena área, como parece ser o caso da rã-pixinguinha, podem ser extintos com mais facilidade ao se exporem a doenças como a quitridiomicose panzoótica, doença causada pelo fungo Bd (Batrachochytrium dendrobatidis), também conhecido como quitrídio. Esse fungo é o principal responsável pela maior perda de biodiversidade entre os anfíbios de todo mundo.
Em artigo publicado na revista Science de 29 de março de 2019 pesquisadores identificaram que a infecção por quitrídio é responsável por declínios na população de cerca de 500 espécies de anfíbios em todo mundo, incluindo prováveis 90 extinções, sendo essa uma estimativa conservadora, pois animais desconhecidos pela ciência também foram extintos. Os animais afetados representam 6,5% das espécies de anfíbios conhecidas.
Segundo o estudo das 500 espécies afetadas, cerca de 40% ainda estão em declínio. E as populações de 124 espécies – ou 25% – diminuíram para menos de 10% de seus números anteriores. Os mais atingidos foram espécies de crescimento lento que não atingem a maturidade reprodutiva tão rapidamente, espécies que vivem em áreas mais úmidas (que o fungo prefere) ou em altitudes mais altas (onde os animais estão mais isolados e têm menos opções de habitat). No Brasil o Bd causou extinções na Mata Atlântica, onde rãzinhas como a Holoaden bradei e Phrynomedusa appendiculata estão entre as extintas.
Descoberta da rã-pixinguinha possibilita a adoção de medidas de biossegurança para sua proteção
Fontes: G1Globo, Revista Galileu, AGazeta, Pomeranafm, National Geographic, ES360, CHC, Tribuna On Line, OEco, Science News, Jornal da Unicamp
Fotos: rã-pixinguinha macho durante a noite_ e segunda foto_macho durante o dia_by João Victor Lacerda (ambas as fotos)