Os hipopótamos (Hippopotamus amphibius) são um dos animais
mais agressivos aos humanos encontrados na natureza. Na África são os que
mais atacam seres humanos causando inúmeras mortes todo ano. São animais
pesados, de cerca de 2,5 toneladas e parecem lentos, o que não é verdade, pois
podem atingir velocidade de até 48 km/h e são extremamente violentos na defesa
de seu território. Todos os anos são responsáveis pela morte de cerca de 500
pessoas na África – mais do que a soma das mortes provocadas por leões,
elefantes, leopardos, búfalos e rinocerontes.
Hipopótamos colombianos
tiveram origem no zoo particular do traficante Pablo Escobar
Este animal encontrou na Colômbia
um habitat acolhedor e tem se multiplicado de forma impressionante nos últimos
anos, causando temor aos ambientalistas e aos órgãos ambientais do país. Esses
animais tiveram origem nos hipopótamos mantidos no zoológico particular do narcotraficante
Pablo Escobar. Quando o traficante foi morto, os animais - inicialmente
quatro exemplares em 1993, um macho e três fêmeas -, foram soltos no ambiente e
desde então se multiplicaram muito chegando hoje a constituírem uma população
de 133 exemplares que em sua maioria habitam as margens do rio Magdalena, formando
o maior rebanho de hipopótamos fora da África. Devido a sua origem os hipopótamos
colombianos também são conhecidos como “cocaina hippos” ou “hipopótamos
de Escobar”.
Hipopótamos encontraram um
verdadeiro paraíso na Colômbia
Enquanto na África a população
de hipopótamos se mantém controlada devido às secas sazonais que os tornam
vulneráveis a doenças e predadores, na Colômbia este animal encontrou um
ambiente bastante favorável, onde os rios são perenes e a alimentação é farta
durante todo o ano. Em consequência, a taxa
de crescimento do hipopótamo colombiano é superior à registrada na
África. Segundo cálculos de
pesquisadores, a população dos animais chegará a mais de 1.400 indivíduos já em
2034, caso não ocorra abate ou esterilização, colocando a situação fora de
controle. Pesquisas revelaram que os hipopótamos estão se espalhando pelo país,
identificaram que existem 3 grupos populacionais compostos de 4 a 35
indivíduos, que se concentram em Doradal, Río Cocorná e Isla del Silencio -no departamento
de Antioquia-, enquanto no restante das áreas estudadas existem grupos
familiares compostos por 2 a 4 indivíduos em casais adultos ou famílias com 1
ou 2 filhos.
Devido o seu grande tamanho e
peso os hipopótamos alteram os ecossistemas
Um dos grandes problemas
provocados por esses mamíferos é que alteram substancialmente os
ecossistemas, alterando a estrutura física dos rios. Os hipopótamos são
considerados "engenheiros de bacias hidrográficas" e com seu peso
transformam esses espaços caminhando e se movendo sobre eles. Isso pode acabar
afetando espécies locais ameaçadas de extinção que também dependem do
rio Magdalena, como as lontras e o peixe-boi caribenho.
Hipopótamos colombianos
ameaçam mais de cem espécies endêmicas de peixes
De fato, segundo os
especialistas, os mais ameaçados são as 233 espécies de peixes do rio
Magdalena, porque em uma bacia com mais hipopótamos, dada a poluição gerada por
esses animais com suas fezes, haverá cada vez menos oxigênio e portanto, menos
peixe. Do total de peixes que habitam o rio, 158 são endêmicos, ou seja, só
existem ali e não podem ser encontrados em nenhum outro lugar do mundo. O crescimento
excessivo das populações de hipopótamos poderia então dizimar essas espécies
endêmicas num prazo relativamente curto.
Maioria da população
colombiana não quer a eliminação dos hipopótamos
De posse desses dados revelando que
os hipopótamos na Colômbia representam uma ameaça para espécies nativas
bem como para os ecossistemas estratégicos do país, o Ministério do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável convocou em fevereiro de 2022 um Comitê
Nacional de Espécies Invasoras para definir o futuro dos hipopótamos. Como resultado
desse encontro os hipopótamos foram declarados oficialmente como uma espécie
exótica invasora por uma equipe de cientistas e especialistas que trabalham
no desenvolvimento de uma Estratégia
Nacional de Manejo de Hipopótamos.
Para o controle dos hipopótamos,
o abate parece não ser uma opção viável, porque houve um clamor público quando
um hipopótamo foi morto em 2009, anulando qualquer plano de abatê-los. Além
disso há uma lei que proíbe a caça a esses animais, então as entidades
trabalham para controlar a espécie por meio da castração e do uso de contraceptivo
experimental. No entanto qualquer uma dessa duas estratégias não são fáceis de
serem implementadas devido à dificuldade de capturar um animal que pesa mais de
duas toneladas e apresentam alto grau de agressividade.
Pesquisadores que defendem o
abate dos hipopótamos receberam até ameaças de morte
Um estudo publicado na revista Biological
Conservation em janeiro de 2021 feito por pesquisadores de universidades
mexicanas e colombianas descobriu que esses hipopótamos se reproduziram com
tanto sucesso que se espalharam quase 160 quilômetros a leste de sua casa
original . Eles se mudaram para a bacia do rio Magdalena e agora são
considerados uma espécie invasora. Nesse estudo os pesquisadores
indicaram que o abate dos animais seria a única forma de diminuir o impacto
ambiental. O problema é que depois que a mídia colombiana divulgou o estudo,
parcelas significativas da população se manifestaram contrários à medida, e os
autores da pesquisa receberam até ameaças de morte.
Outros cientistas e
ecologistas são contrários ao abate ou à realocação dos hipopótamos
Por outro lado, alguns cientistas
discordam das posições que defendem um controle radical dos hipopótamos. Em
artigo publicado na revista Proceedings of the
National Academy of Sciences esses cientistas descrevem os benefícios
dos hipopótamos não nativos argumentando que devido à extinção de grandes
animais comedores de plantas, há uma ausência de nutrientes no solo, uma
alteração no crescimento das plantas e um fluxo e disponibilidade de água
diferentes. Além disso, os ecologistas
estão argumentando que esses hipopótamos ainda não estão causando nenhum dano,
portanto, não há razão para realocá-los ou abatê-los.
Fontes: Conexão planeta (1), Conexão planeta (2), Gazeta do povo, Infobae (1) , Ecuavisa, Hoy, El Espectador, Laderasur, SoCientífica, El Universal (1), El Universal (2) , El Salvadoreño, Colombia.com, Infobae (2), Cronista, La Prensa, Mongabay
Foto: Hipopótamos na Colômbia_Getty Images