Depois de ser visto pela última
vez no século XIX, há 140 anos atrás, o pombo-faisão-de-nuca-preta (Otidiphaps
insularis) foi redescoberto por cientistas que o filmaram na ilha Fergusson,
uma ilha acidentada no arquipélago D'Entrecasteaux, no leste de Papua Nova
Guiné. O vídeo feito pela equipe de pesquisadores só foi possível com o
apoio dos moradores que forneceram informações para serem montadas as armadilhas
fotográficas. No final de setembro de 2022 finalmente foi filmada a rara
ave na encosta sudoeste do Monte Kilkerran, a montanha mais alta da ilha.
Somente na segunda tentativa
foi possível localizar o pombo-faisão-de-nuca-preta
Esta foi a segunda tentativa de
localizar o pássaro, a primeira ocorreu em 2019 e não obteve nenhum resultado.
Desta vez contaram com a ajuda de moradores locais que informaram terem
ouvido sons incomuns da ave e avistado o pombo-faisão várias vezes na
área com picos e vales íngremes. Nesse local instalaram as câmeras que
finalmente documentaram a espécie que estava desaparecida desde 1882 há
exatamente 140 anos atrás.
Organizações internacionais financiaram
e participaram da expedição de busca da ave
A expedição e todo o trabalho
realizado na busca do pombo-faisão-de-nuca-preta faz parte do projeto Search
for Lost Birds, uma colaboração entre a BirdLife
International, a American Bird Conservancy
(ABC) e a Re:Wild com suporte de
dados do Cornell Lab of
Ornithology e sua plataforma eBird
usada por observadores de pássaros em todo o mundo. O projeto tem por objetivo
encontrar espécies de aves que ainda não foram declaradas extintas e que
estejam desaparecidas há mais de dez anos. É uma extensão do programa Re:wild's Search for Lost Species
, que foi lançado em 2017 e desde então redescobriu oito de suas 25 espécies
perdidas mais procuradas. A expedição contou ainda com a participação de habitantes
locais de Papua Nova Guiné trabalhando com o Museu Nacional de Papua Nova Guiné.
Sua população é muito reduzida
e estimada em menos de 250 indivíduos
O pombo-faisão-de-nuca-preta
tem o tamanho aproximado de uma galinha que vive no solo e exclusivamente na
Ilha Fergusson. Pode ser caracterizado como um grande pombo terrestre com penas
pretas e laranja e olhos vermelhos. Tal como os outros pombos-faisão, o pombo-faisão-de-nuca-preta
tem uma cauda larga e comprimida lateralmente, o que, juntamente com o seu
tamanho, faz com que se pareça muito com um faisão. Sua alimentação consiste de
sementes e frutos caídos. Entre a comunidade local a espécie é conhecida pelo
nome de Auwo. Está classificada na Lista
Vermelha da IUCN como criticamente
ameaçada (CR) tendo sua população estimada entre 50 a 249 indivíduos.
Entre as ameaças principais à
sobrevivência do pombo-faisão está a pressão das madeireiras e gatos selvagens introduzidos na ilha
O pombo-faisão-de-nuca-preta
foi pouco estudado, e as informações existentes eram baseadas em dois espécimes
coletados em 1882. Os cientistas que fizeram a descoberta estimam que a espécie
na ilha tem uma população pequena e que provavelmente se encontra em declínio
devido a redução do tamanho de seu habitat florestal que sofre pressão
de empresas madeireiras. Outra ameaça são gatos selvagens exóticos
introduzidos. O conhecimento do
mundo científico sobre a extinção e conservação de aves em ilhas ao redor do
mundo, mostra que a combinação de exploração madeireira e espécies
introduzidas, especialmente mamíferos introduzidos, provoca um grande impacto
na avifauna local.
Participação ativa da
comunidade local foi fundamental para o sucesso da expedição
Os especialistas, no entanto, consideram
que o conhecimento obtido pode ser utilizado para contribuir para a conservação
das aves remanescentes. Manter essa espécie exigirá aprender mais sobre seu
comportamento e status populacional e lançar projetos de conservação
para proteger seu habitat, tudo com o apoio e participação ativa da
comunidade local.
Os pesquisadores que
redescobriram a ave destacaram o papel da comunidade, reconhecendo que o conhecimento
local foi fundamental. Relataram que o divisor de águas em termos de
descoberta foram realmente algumas pistas que receberam das pessoas locais.
Acentuaram que um grande componente dessa história é o incrível conhecimento
local que foi a chave para o sucesso da expedição.
Fontes: Sci-News,
CBC,
WION,
1News,
BBC, CNN,
Indiatimes,
The
Cornell Lab, The
Hans India, GK Today, ABC
Birds, Audubon,
The
Science Times, Mongabay,The Search
for lost birds, Wild Lost
Species, Wild
Lost Species Found
Foto: Pombo-faisão-de-nuca-preta_by Jason Gregg e segunda foto: Doka Nason