O cervo-key (Odocoileus virginianus clavium) também conhecido como cervo-de-key-islands ou cervo-virginiano-da-Flórida e em inglês key-deer, é a menor subespécie do cervo-da-Virgínia ou veado-de-cauda-branca (Odocoileus virginianus) que é uma espécie distribuída em uma faixa bastante ampla que vai do Canadá ao Brasil com 39 subespécies. O cervo-key vive exclusivamente no arquipélago de Florida Keys ao largo da ponta sul da Flórida, nos Estados Unidos, local que deu origem ao seu nome.
Os cervos-key são os menores
veados-de-cauda-branca existentes
Este veado pode ser reconhecido
pelo seu tamanho característico, menor do que todos os outros veados-de-cauda-branca.
Enquanto o cervo de cauda branca comum pode ter mais de 120 cm no ombro e pesar
mais de 90 kg, o diminuto cervo-key raramente excede 75 cm e pesa entre
25-34 kg. As fêmeas são ligeiramente menores. O cervo possui uma cor
marrom-avermelhada a marrom-acinzentada. Os chifres são encontrados somente nos
machos e caem entre fevereiro e março e crescem novamente em junho. Entre os
elementos que distinguem os cervos-key, além do tamanho e número, de
outros veados-de-cauda-branca, se inclui uma alta tolerância à água
salgada e baixas taxas de natalidade.
A subespécie vivem em uma das
áreas mais densamente urbanizadas dos Estados Unidos
O habitat do cervo-key está
próximo a Miami, uma das áreas mais densamente urbanizadas dos Estados Unidos
com passagem contínua de carros, aviões, navios e lanchas, bem como veículos
militares de todo tipo. Em 1955 os espécimes selvagens caíram, abruptamente,
para cerca de 25 exemplares, com a espécie atingindo a beira da extinção.
Além dos jacarés, as ameaças eram essencialmente duas: a caça intensiva,
pela carne, gordura ou simples diversão e a profunda alteração do habitat
com o desmatamento da floresta existente para a construção de edifícios
e a criação de uma rede viária moderna.
Existência de água doce é um
fator limitante de expansão do cervo-key nas ilhas
Os cervos-key vivem em
todos os tipos de ecossistemas encontrados nas ilhas, de florestas de pinheiros
a manguezais e pântanos de água doce. Sua distribuição inclui 26 ilhas de Big Pine Key a Sugarloaf Key, com Big Pine e No-name Key hospedando a
maior parte da população. Eles nadam facilmente entre as ilhas. Sua
distribuição sazonal é principalmente influenciada pela disponibilidade de água
doce superficial. Durante a estação chuvosa podem ocupar todas as ilhas, mas
durante a estação seca aparecem apenas nas 13 que tem suprimentos de água doce,
especialmente Big Pine e No Name Keys.
Intensa convivência com
humanos traz prejuízo para os cervos-key
Embora condicionados a viver na
natureza, eles tiveram que coexistir com os humanos, pois seu habitat natural
diminuiu gradualmente. Como os cervos-key
perderam o medo dos humanos, muitas pessoas os alimentam ilegalmente,
além de alguns animais serem conhecidos por comer plantas nos jardins das
residências e revirar o lixo. Isso torna o cervo mais vulnerável a ataques de
cães ou ficar preso em cercas. Também os aproxima de estradas onde podem ser
atropelados por carros. No ano 2020 acidentes de carro mataram mais de 70
veados. As pessoas ao alimentarem os veados-key também pode fazer com
que eles se agrupem em uma pequena área, em vez de se espalharem pelo habitat
disponível. Então, se um cervo está doente, ele passa mais facilmente suas
doenças para outros cervos.
Furacões são ameaça constante
á sobrevivência dos veados-key
Atualmente as fontes de
mortalidade dos cervos-key incluem a caça furtiva, afogamento em valas e
canais, ataques de cães, enredamento em cercas, e detritos estranhos no trato
digestivo obtidos da alimentação em recipientes de lixo. Os furacões
constituem uma ameaça considerável, em 2017 a população de cervos-key
foi quase destruída pelo furacão Irma que causou a morte de cerca de 30% deles.
Além disso, a espécie possui variação genética relativamente baixa, o que pode
impactar a capacidade adaptativa evolutiva da espécie.
Ao longo dos anos, desde da década de 1950 a população de veados tem se recuperado
O estabelecimento do National Key Deer Refuge
em 1957 ajudou esta subespécie de cervo a sobreviver. Outros passos importantes
em sua conservação foram a colocação de cercas ao longo das estradas, a
imposição de limites de velocidade mais rígidos e a intensificação da
fiscalização. A população atual de cervos-key é estimada em menos de
1.000 indivíduos. A subespécie é protegida pela Lei Federal de Espécies
Ameaçadas e pela lei estadual da Flórida. Matar intencionalmente um
animal acarreta uma pena máxima de um ano de prisão federal e uma multa máxima
de US$ 100.000.
Ainda existem muitos obstáculos
para a recuperação do veado-key. Os cervos se movimentam entre várias
ilhas nas Florida Keys mais baixas, mas vivem principalmente em Big Pine Key e
No Name Key – ambas, em média, com apenas um metro acima do nível do mar. Com o
estabelecimento do National Key Deer Refuge em 1957, juntamente com anos
de esforços de conservação direcionados, a população aumentou e seu alcance se
expandiu. No entanto, 75% dos indivíduos da espécie residem atualmente em Big
Pine Key e No Name Key, onde existem mais de 500 indivíduos. Ocorre que de
acordo com algumas estimativas, todas as ilhas de Florida Keys podem experimentar
até 38 centímetros de aumento do nível do mar até 2045.
Mudanças climáticas impactam
diretamente o habitat do cervo-key
A crise climática em curso,
é responsável por uma grande parte dos números em declínio do cervo-key.
Dentro de alguns anos, espera-se que as Florida Keys fiquem parcialmente
submersas, o que significa que os animais locais serão expulsos ou morrerão. A
subespécie é altamente vulnerável à perda de habitat decorrente do aumento do
nível do mar e da mudança no uso da terra. Limitados por barreiras de águas
abertas que impedem sua migração das Florida Keys, estima-se que os cervos-key
percam 32-75% do habitat utilizável para o aumento do nível do mar. Além da
ameaça direta de deslocamento, o aumento do nível do mar levará ao aumento da
salinidade das fontes de água doce, um importante recurso primário para os veados-key.
Seca, mudanças nas condições hidrológicas causadas por mudanças nos padrões de
precipitação e fortes tempestades podem aumentar ainda mais a salinização de
fontes de água doce.
Medida em discussão para
salvar o cervo-key é a sua reintrodução fora de seu habitat histórico
Diante da situação do cervo-key
e outros animais afetados pelas mudanças climáticas, o Serviço de Pesca e Vida
Selvagem dos Estados Unidos (U.S.
Fish and Wildlife Service) está propondo a revisão dos regulamentos da Lei de Espécies Ameaçadas (ESA) para
facilitar a introdução de espécies listadas para habitats adequados fora de
suas áreas históricas que estariam ameaçadas pelas alterações do clima. Deste
modo, o Serviço seria capaz de introduzir uma população experimental de uma
espécie ameaçada ou em perigo de extinção em habitat adequado fora de seu
alcance atual e provável alcance histórico. É o caso dos cervos-key, que
são exclusivos da parte baixa de Florida Keys, sendo então a sua reintrodução
fora do alcance histórico da subespécie como “absolutamente crucial”
para evitar a extinção à medida que o nível do mar aumenta.
Fontes: Luce,
NWF,
FWS, Biological
Diversity, Florida
Fish and Wildlife Conservation Comission, Jungle Dragon,
Natural
habitat, Field School,,
Climate
Adaptation Explorer, Key Deer
Protect Alliance, NC
State University, Green Matters,
Miami Scapes, Save Our Key Deer, Florida Hikes, Fox
Weather, Florida
Keys Wildlife Society, NCMNS,
The
Guardian, The
Ledger, The
Florida Keys & Key West, NRDC,
USGS, Buck
Masters, Whitetails
Unlimited, Wild
South Florida
Foto: Cervo-key_by Yael Orgad e segunda foto: Cervos-key_by Ian Nance