Considerada a “camurça mais bonita do mundo”, a camurça-dos-Apeninos (Rupicapra pyrenaica ornata) é um caso de sucesso do trabalho de conservação de uma espécie que chegou à beira da extinção. No início da década de 1920 não restavam mais do que 15-20 exemplares, quando foi criado o Parque Nacional de Abruzzo em 1923, no centro da Itália, para proteger essa última população que se encontrava na área de Camosciara dentro da área protegida.
Nome “ornata” dessa subespécie
refere-se ao seu casaco de inverno ornamentado que a torna a mais bonita das
camurças
A camurça-dos-Apeninos é
uma subespécie da camurça-dos-Pirineus (Rupicapra pyrenaica)
diferenciando-se principalmente pelos chifres que apesar de terem o
característico formato de gancho são bem mais longos, até 30 cm e mais, contra
a média de 20 cm das demais subespécies. Além disso, os chifres estão posicionados
juntos e, aparentemente, se inclinam para trás em um grau maior do que nas
outras subespécies. Em relação ao seu tamanho, mede até 130 cm de comprimento,
para uma altura próxima a 80 cm. As fêmeas são geralmente menores em tamanho e
mais esbeltas. É um ungulado acostumado a viver em locais inacessíveis,
principalmente em paredões muito íngremes, onde se abriga para escapar dos
ataques de predadores. O nome científico dessa subespécie “ornata” deriva do
casaco de inverno ornamentado.
Números da
camurça-dos-Apeninos aumentaram resultado de boa ação de conservação
A espécie foi salva da
extinção graças a projetos específicos Life, financiados pela União Europeia,
e que, ao longo dos últimos 30 anos, permitiu o aumento de sua área de distribuição
para áreas de onde foi extinta em tempos históricos. Este foi o resultado de uma
boa ação de conservação, através de programas de pesquisa, incluindo
reintroduções e o estabelecimento de novas populações, os números aumentaram significativamente
para a estimativa atual de cerca de 3.800 indivíduos (do censo de 2022).
Hoje a subespécie é encontrada
em cinco áreas protegidas nos Apeninos centrais
Atualmente, a camurça-dos-Apeninos
está presente nos maciços montanhosos das cinco principais áreas protegidas dos
Apeninos Centrais: os Parques Nacionais
de Abruzzo, Lazio e Molise (PNALM); Majella
(introduzida em 1991); Gran Sasso e
Monti della Laga (em 1992); do Monte
Sibillini (em 2008) e o Parque Regional Sirente Velino (em
2013). Neste ano, 2022, foi anunciada a organização do projeto de reintrodução
da camurça-dos-Apeninos na Reserva
Natural Orientada Monte Avelino formando assim a sexta população em áreas
protegidas. A iniciativa de criação dessa sexta população é uma parceria entre
o Rewilding
Apennines e o Departamento
de Biodiversidade Carabinieri de Castel di Sangro.
Núcleo original da
camurça-dos-Apeninos é o Parque de Abruzzo que forneceu exemplares para as
demais áreas protegidas
A única população natural da
subespécie é a do PNALM (considerado o “núcleo original” de todas as populações
atuais) enquanto que as outras que vivem nas restantes áreas protegidas são o
resultado de intervenções de reintroduções bem sucedidas realizadas a partir de
1991. As subpopulações em cada área protegida de acordo com os censos 2021-2022
são: Parques Nacionais de Abruzzo, Lazio e Molise (PNALM), 650
indivíduos; Majella, 1500; Gran Sasso e Monti della Laga, 1250; do
Monte Sibillini, 250 e no Parque Regional Sirente Velino, 60.
Todas essas áreas estão com tendência de aumento da população das camurças-dos-Apeninos.
Caso da camurça-dos-Apeninos é uma história de sucesso de
conservação e exemplo para o mundo
Uma espécie em risco de extinção que, graças a intervenções
de proteção direcionadas, abordando todas as questões críticas que colocam em
risco a sua existência e graças a um compromisso coordenado entre o mundo
científico, áreas protegidas, associações e sociedade civil, conseguiu o
objetivo de garantir a sobrevivência da camurça-dos-Apeninos. As
consistências numéricas das populações da espécie presentes hoje traçam o
quadro de uma história de sucesso de conservação da camurça-dos-Apeninos:
a subespécie passou das poucas dezenas de indivíduos presentes no início do
século XX no então Parque Nacional de Abruzzo, aos cerca de 3.800
animais agora distribuídos em cinco populações diferentes, de acordo com os
últimos censos disponíveis.
Existência de áreas protegidas foram fundamentais para a recuperação da subespécie
Graças às áreas protegidas a camurça-dos-Apeninos gozou
de uma proteção inimaginável há apenas algumas décadas, e graças às áreas
protegidas, está claramente se recuperando. Projetos de conservação bem
feitos, e realizados com base científica sólida, permitiram o seu reaparecimento
em muitos territórios onde estava localmente extinta no século passado. A
importância das ações de conservação realizadas nos últimos anos, é demonstrada
pela recolonização e rápido crescimento, pela estabilidade nos setores
históricos da cordilheira e pela disponibilidade de habitats adequados também
na área contígua.
Mudanças climáticas tornam-se uma ameaça para o futuro da
camurça-dos-Apeninos
Mas uma ameaça está pairando sobre o futuro da espécie,
assim como de inúmeros outros animais, o problema dos efeitos das mudanças
climáticas. Com o aumento da temperatura a principal fonte de alimento da camurça-dos-Apeninos
tende a diminuir e se a tendência das temperaturas tende a aumentar nos
próximos anos é possível que em um século ou menos a espécie esteja extinta.
Segundo pesquisadores da Universidade
de Siena e da Universidade de Pavia, a camurça-dos-Apeninos
corre risco de extinção nos próximos 50 anos devido ao aquecimento
global. De acordo com o estudo, haverá uma forte diminuição de exemplares
da espécie até 2070, mantendo-se as condições atuais de elevação da
temperatura.
Até o momento, o caso da camurça-dos-Apeninos, não só
representa um caso de sucesso internacional para as políticas de conservação de
uma espécie ameaçada de extinção, como sua proteção está intimamente ligada à
do território em que vive e às políticas de estabelecimento de áreas
protegidas. Em resumo, se não houvesse os Parques dos Apeninos, e um trabalho
de conservação fortemente alicerçado na ciência, provavelmente a camurça teria deixado de
existir.
Fontes: Neve
Appennino, Lifegate,
Rete8, Rewild
Apennines, Il
Germe, Parco
Nationale del Gran Sasso(1), Ralf’s
Wildlife, Parco
Nationale D’Abruzzo(1), Parco Nationale del Gran Sasso(2), Parco
Nationale D’Abruzzo(2), Life
Coornata, Parco
Nationale del Gran Sasso(3), Parchi
Lazzio, Parco Nationale
D’Abruzzo(3), Uomo e Natura,
Agraria,
IUCN/IT, Abruzzo
Live,Terre
Marsicane
Fotos: Camurça-dos-Apeninos_by Max Venturi e segunda foto: Il Germe.