O mergulhão-de-capuz (Podiceps gallardoi) conhecido como macá-tobiano na Argentina é uma ave parecida com um pato que foi descoberto apenas em 1974 na Lagoa Los Escacharados, província argentina de Santa Cruz. É uma ave notável e relativamente grande que pesa cerca de 500 g e tem cerca de 30 cm de tamanho, possui uma plumagem colorida, produz som inconfundível e realiza uma dança de acasalamento elaborada e atraente. Apresenta penas pretas e brancas, um bico preto, cabeça marrom e um círculo avermelhado ao redor dos olhos.
Mergulhão-de-capuz realiza
migração dentro do território argentino
Embora desajeitado ao se mover em
terra, nada muito bem e graciosamente. Embora possa voar, só o faz à noite,
pois não tem capacidade de manobra e durante o dia se tornaria presa fácil para
predadores. Vive e se reproduz nos lagos e lagoas dos altos planaltos da
província de Santa Cruz, durante a primavera e o verão, entre os meses de
setembro e março. Quando a estação de inverno chega, as lagoas congelam e o mergulhão-de-capuz
migra para a costa atlântica, para os estuários dos rios Coyle, Gallegos e
Chico-Santa Cruz.
População da espécie diminuiu
80% nos últimos 25 anos, hoje são menos de 800 indivíduos
Atualmente, o mergulhão-de-capuz
está passando por um processo que pode levar à sua extinção durante esta
década. A região onde vive é uma das ecorregiões mais ameaçadas e menos
protegidas da Argentina. De acordo com censo realizado em 2019 foi registrada a
ocorrência de menos de 800 exemplares adultos na Província de Santa Cruz, o que
significa que a população diminuiu mais de 80% nos últimos 25 anos. Por esse
motivo é classificada como espécie Criticamente Ameaçada (CR) pela Lista
Vermelha da IUCN.
Predadores exóticos ameaçam crescimento
da população do mergulhão-de-capuz
A mudança climática é uma
das principais ameaças à espécie. Os lagos de grande altitude, onde se
reproduzem, estão secando, pois, a neve cai cada vez menos, o que impacta numa
planta que cresce nos lagos e que é uma importante fonte de alimento para as
aves. O mergulhão-de-capuz também tem taxas reprodutivas muito baixas,
produzindo apenas 1 filhote em cada estação de reprodução. Como resultado, eles
são altamente afetados por predadores como o visão americano (Neovison
vison), um animal exótico, que escapou de criadouros para produção de peles
e que pode matar um grande número de adultos em um dia, potencialmente
exterminando populações locais inteiras. Outro predador muito ativo e que preda
ovos e filhotes, é a gaivota-de-dorso-preto (Larus dominicanus),
que na região se beneficia tanto da indústria pesqueira quanto da má gestão de
resíduos em assentamentos humanos. Além disso, a truta-arco-iris (Oncorhynchus
mykiss), outro espécime exótico introduzido para pesca esportiva na região compete
pela comida das aves e mudam a estrutura dos lagos onde vivem os mergulhões-de-capuz.
Mudanças climáticas são
responsáveis pelas maiores dificuldades de conservação da ave
A questão climática, no
entanto, é um dos desafios mais complexos a serem enfrentados. O mergulhão-de-capuz
constrói seus ninhos em uma espécie de plataforma flutuante em lagoas e lagos
usando uma planta local. Fortes tempestades de vento, que aumentaram nas últimas
décadas devido ao aquecimento da Patagônia, destruíram muitas das tentativas de
nidificação da ave. A partir de 2018, onde os mergulhões-de-capuz
conseguiram estabelecer seus ninhos, fortes tempestades de vento os varreram e
os destruíram e nos 4 anos seguintes não houve nenhum nascimento dessas raras
aves, pairando um quadro sombrio na continuidade da espécie.
Solução criativa foi responsável pelo retorno de nascimentos da espécie
Mergulhão-de-capuz só não foi
extinto devido as recentes ações de conservacionistas
Essas ações concretas
desenvolvidas pelas ONGs Ambiente Sur
e Aves Argentinas, além do CONICET, no âmbito do Projeto
Macá Tobiano tem obtido resultados promissores. Suas atividades estão
focadas no manejo e controle de espécies invasoras, a implementação de um programa
de guardião de colônias na época reprodutiva, ações de monitoramento e controle
na época reprodutiva.
A situação do mergulhão-de-capuz
é de tal gravidade que a sua extinção só não se concretizou, devido aos
esforços de conservação realizados nos últimos cinco anos por grupos civis e
atores privados determinados a salvá-lo. E novas ameaças surgem. Atualmente a
preocupação dos conservacionistas é denunciar o perigo que representa a
construção de barragens na região e que pode causar o desaparecimento irreversível
da espécie.
Fonte: Edgeofexistence,
Meus
animais, La
Nación, El
Patagonico,Ambiente
Sur, Projeto
Macá, Tobiano, Cloudbirders, Clarín,
A
hora Calafate, Sol
Play 91.5, Rio
Negro, El
mediador, Fundación
Bariloche, El
Patagónico
Foto: Mergulhão-de-Capuz_by Daniel Pettersson e segunda foto: Mergulhão-de-capuz com filhote_Fundación Bariloche