Esforços para salvar o gibão de Hainan da extinção tem obtido sucesso na sua recuperação


 Na ilha de Hainan, localizada no extremo sul da China, vive o mais raro primata do planeta, o gibão de Hainan (Nomascus hainanus) restrito a um pedaço de floresta na Reserva Natural Nacional de Bawangling a mais de 200 quilômetros ao sul de Haikou, a capital da província.

Entre os gibões de Hainan, machos e fêmeas apresentam pelagem de cores diferentes. Os machos são completamente pretos, exceto pelas bochechas brancas ou amarelas que acentuam os rostos de alguns indivíduos. Eles ostentam uma crista distinta no topo da cabeça. As fêmeas são douradas ou amarelas, com uma mancha preta no topo da cabeça. Os filhotes de gibões de Hainan jovens - machos e fêmeas - têm pelagem semelhante aos das fêmeas adultas. À medida que amadurecem, os machos desenvolvem seu casaco de pele totalmente preto.

O gibão-de Hainan esteve muito próximo da extinção na década de 1980

Também conhecidos como gibões-de-crista-negra-de-Hainan, existem somente 35 exemplares da espécie, distribuídos em 5 grupos, de acordo com o último levantamento publicado na revista International Journal of Primatology em seu número de 07 de julho de 2022. É um sinal de recuperação desses raros gibões, que na década de 1980 tinham uma população reduzida há apenas 7 indivíduos.  O feito obtido até agora deve-se, principalmente,  à participação de inúmeras organizações envolvidas em projetos para salvar da extinção o gibão de Hainan, entre as quais estão: Kadoorie Conservation China (KCC), Zoological Society of London(ZSL), Cloud Mountain Conservation, Guangzhou Zoo, Seacology, KFBG, Fauna and Flora International(FFI).

Desmatamento da floresta para a monocultura da borracha é principal ameaça aos gibões

A principal ameaça aos gibões de Hainan é a destruição do habitat, principalmente pela queima e desmatamento das florestas. A floresta natural foi convertida em monocultura de borracha até a borda da Reserva Natural Nacional de Bawangling. Ocorre que fatores naturais também podem ser fatais à pequena população existente dos macacos. Em 2014 e 2016, fortes tufões atingiram a área, causando deslizamentos de terra e destruindo muitas árvores, cortando os corredores de passagem dos gibões e ameaçando suas vidas. Para protege-los da extinção, uma série de ações foram adotadas na reserva, incluindo educação ambiental, punição para atividades como extração ilegal de madeira e caça, recuperação de habitats e apoio de especialistas em gibões para oferecer melhores cuidados aos animais.

Impacto da fragmentação do habitat da espécie exigiu medidas inovadoras para salvá-la

A fragmentação de habitats é uma das principais causas da perda de biodiversidade. O impacto é principalmente prejudicial para a vida selvagem arbórea, pois as clareiras florestais afetam a dispersão, a procura por alimentos e a eficiência energética, e a oportunidade de reprodução, aumentando a vulnerabilidade à predação, doenças e parasitas, fatalidades acidentais como a eletrocussão, resultando em maior risco de eliminação de populações isoladas.

Para evitar o agravamento da situação do gibão-de-Hainan, que seria bastante afetado pelos impactos da fragmentação, idealizou-se a implantação de estruturas aéreas artificiais de travessia da vida selvagem, conhecidas como pontes artificiais de dossel, para restabelecer a conectividade da cobertura superior da floresta formada pelas copas das árvores (dossel). Um estudo publicado em 15 de outubro de 2020 na revista Scientific Reports descreve o projeto que foi desenvolvido para facilitar o deslocamento dos gibões nas lacunas de vegetação arbórea com a construção desse tipo de “pontes” artificiais utilizando cordas sobre as áreas afetadas. A iniciativa teve início em 2015 com o uso cordas de montanhismo amarradas a árvores e câmeras com sensores de movimento para monitorar a vida selvagem. Com o tempo os gibões foram utilizando as cordas, no entanto, unicamente as fêmeas e os filhotes. Os machos continuavam a se arriscar no espaço aberto saltando de uma árvore a outra se recusando a usar os corredores de cordas.  


As ações de conservação têm se mostrado eficazes mas devem ser intensificadas

A recuperação do gibão demonstra que a criação de uma reserva natural com patrulhas regulares, proibição de extração de madeira, impedimento da caça furtiva e educação ambiental têm sido eficazes. As ações de conservação realizadas por inúmeras instituições e organizações não-governamentais tem sido fundamental para o aumento da população dos gibões de Hainan. Para garantir a sobrevivência da espécie serão necessárias ações de conservação cuidadosamente planejadas, incluindo um intenso programa de restauração florestal e de educação ambiental para integrar definitivamente a comunidade local na proteção da espécie.

Há necessidade de aumentar as ações educacionais junto à comunidade local

Estudo publicado em 14 de abril de 2021, na revista Óryx,  concluiu que embora as atividades educacionais junto à comunidade local tenham melhorado a conscientização sobre os gibões e seus requisitos de conservação em termos relativos, os níveis gerais de conhecimento permanecem baixos em muitas áreas importantes e a melhoria contínua da conscientização local ainda é necessária, em particular em torno de tópicos mal compreendidos, como status de conservação do gibão, raridade e ameaças, e para grupos da comunidade do entorno da reserva que possuem menos conhecimento de conservação.

Fonte: Zoological Society of London, Revista Galileu, China Daily, KFBG(1), Seacology, BBC, KFBG (2), KFBG(3), Scientific Reports, International Journal of Primatology , KCC, New England Primate Conservancy , GoodNews

Foto: Gibão-de-Hainan_ as duas fotos são da KFBG