Os urus (Odontophorus
capueira) são galináceos que vivem nas florestas das regiões leste e
sul do Brasil e chegam a medir até 24 centímetros de comprimento. A origem do
nome uru está relacionada com a vocalização que a espécie emite
(“urú-urú-urú…”) e que costuma cantar em duetos pela manhã e no fim do dia.
Há duas subespécies
reconhecidas do uru no Brasil
A espécie apresenta duas
subespécies reconhecidas: O uru do sudeste (Odontophorus capueira
capueira) que ocorre da região tropical do leste do Brasil até o leste do
Paraguai e no nordeste da Argentina; e o uru-do-nordeste (Odontophorus
capueira plumbeicollis) que ocorre na região tropical do Nordeste do
Brasil, dos estados do Ceará até o estado de Alagoas.
As duas subespécies de Urus estão
isoladas por barreiras geográficas, como o Rio São Francisco, que de fato, ao
longo de milhares de anos, levou esses dois grupos a se diferenciarem entre si,
principalmente nos padrões de plumagem e vocalização. Os urus do sudeste
possuem garganta, peito e abdômen cinza azulado já seu canto é rápido, emitindo
as notas bem próximas umas das outras. Os urus do nordeste se
diferenciam pelo peito e abdômen dourados e seu canto é lento e cadenciado,
emitindo as notas em um intervalo maior.
A subespécie do
uru-do-nordeste é a mais rara e se encontra a beira da extinção
Os urus tem uma
distribuição muito extensa e é comum em pelo menos parte de sua área de
distribuição, embora as populações mais ao norte, da subespécie
Plumbeicollis, estejam em risco de extinção. A subespécie que vive
no leste e sul do Brasil tem avaliações de risco cada vez mais preocupante. No
Espírito Santo (desde 2005), em Minas Gerais (desde 2010), na Bahia (desde
2017) está classificado como em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas
desses Estados. Em 2014 no Estado de São Paulo e Rio Grande do Sul, passou a
ser listada como quase ameaçada no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção
desses dois Estados. Acredita-se que a população total esteja diminuindo,
embora a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) avalia sua
situação de conservação como sendo "menos preocupante".
A subespécie de uru endêmica
da Mata Atlântica nordestina (Odontophorus capueira plumbeicollis),
é considerada "Criticamente Ameaçada" condição a que chegou como
resultado da caça, perda de habitat, predação de cachorros e gatos domésticos e
da transmissão de doenças por aves domésticas. Jabutis e teiús também são
predadores habituais da ave. De acordo com o Livro
Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, atualmente a população
total do uru-do-nordeste não ultrapassa os 250 indivíduos maduros em grupos
isolados devido a fragmentação do habitat. Os urus são altamente vulneráveis a
predadores pois geralmente fazem ninho no solo, com folhas secas, tornando-os
presa fácil.
Além de reduzida sua população
atual se encontra muito dispersa e fragmentada
São encontrados dispersos nos
estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Nos últimos dez anos há
registros em unidades de conservação no Ceará (APA
da Serra de Baturité – registrado em 2020), Paraíba (REBIO
Guaribas – registrado em 2014); e Alagoas/Pernambuco (REBIO
de Pedra Talhada – registrado em 2020). Há registros mais antigos em outras
unidades de conservação em Pernambuco (RPPN Frei
Caneca) e Alagoas (ESEC de
Murici).
Inicialmente o esforço de salvar o uru-do-nordeste se concentrou no PAN dos Galliformes
O esforço para evitar a extinção
do uru-nordestino teve início com o PAN
dos Galliformes (Plano Nacional de Conservação dos Galliformes Ameaçados de
Extinção) que foi o primeiro a tratar dessa subespécie em 2008. Já nesse plano
havia a recomendação da necessidade da criação em cativeiro. No entanto, as
metas não foram atingidas. Este plano foi encerrado em 2011, com a
transferência das ações voltadas ao uru-nordestino para o PAN
das aves da Caatinga e da Mata
Atlântica, respectivamente iniciados em 2012 e 2017. Em 2018, o da Caatinga
foi renovado em um segundo ciclo. A Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza patrocinou ações de PAN, permitindo
que a partir de 2017 fossem gerados os primeiros dados de tendência
populacional do uru-nordestino na serra de Baturité
(Ceará), onde houve declínio de 54% entre 2008 e 2017 em áreas conservadas.
Ninhos foram localizados e articulou-se o programa de cativeiro.
Workshop realizado em 2020
impulsionou as ações tornar realidade a criação em cativeiro do uru-do-nordeste
O programa de criação em
cativeiro foi conduzido pela Aquasis(Associação
de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos) e culminou com um workshop
realizado no Parque da Aves (Foz do Iguaçu/PR) em 12 e 16 de fevereiro
de 2020, com a participação de 25 especialistas em conservação. Estiveram
presentes representantes da própria instituição, do CEMAVE/ICMBio, da Sociedade
para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE
Brasil), do Grupo
Especialista em Planejamento de Conservação (CPSG) da União Internacional para
a Conservação da Natureza (UICN), e do Centro
de Sobrevivência de Espécies Brasil (CSE Brasil). Esse encontro produziu um
relatório intitulado Avaliação
ex situ para Planejamento Integrado de Conservação para Galliformes e
Tinamiformes no Brasil. Entre outras ações, os participantes identificaram
a importância de estabelecer uma população de segurança do uru-do-nordeste,
para poder servir para reintrodução ou reforço da população na natureza.
O programa de criação em
cativeiro efetivamente começou em abril de 2022
Como decorrência do workshop, no
início de abril de 2022 foram capturados na natureza 5 exemplares do uru-do-nordeste
(3 machos e duas fêmeas) pela equipe da Associação
de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) e que foram
transportados para o Parque das
Aves para iniciar um programa de criação em cativeiro visando atingir um
mínimo de 100 indivíduos para dar início ao processo de reintrodução nos
habitats originais da subespécie. As ações se precipitaram, assumindo um
caráter emergencial, em virtude de que o declínio do uru-do-nordeste
estava em um ritmo tão acelerado que se corria o risco de a ave desaparecer
antes de ter indivíduos em cativeiro.
O objetivo final é que os indivíduos capturados possam ser os fundadores de uma população de segurança, com processo de reprodução assistida e monitorados permanentemente em cativeiro, evitando assim sua extinção total e permitindo que seus descendentes possam ser reintroduzidos no ambiente natural.
Fonte: G1Globo, EcoNordeste, O Eco(1), O Eco(2), Foz do Iguaçú, Projeto Uru do Nordeste, Portal da Cidade, Fauna News, Diário do Nordeste
Foto: Uru-do-nordeste_ICMBio-Cemave e segunda foto_de Ciro Albano