A Caatinga é um bioma
do nordeste brasileiro dos mais ameaçados do país, sua situação atual é de
alta fragmentação dos remanescentes arbóreos que são utilizados por um dos
primatas mais ameaçados do mundo, o guigó-da-caatinga (Callicebus
barbarabrownae) espécie que está restrita aos estados da Bahia e Sergipe.
O guigó-da-caatinga é um
pequeno primata endêmico do bioma caatinga
O guigó-da-caatinga é um
primata de pequeno porte pesando de 1 a 2 kg e tem cerca de 80 centímetros de
comprimento, contando corpo e cauda, que se alimenta de frutas como o cajá-bravo,
o mucugê e o licuri; mel; filhotes de aves; invertebrados e folhas. Organiza-se
em pequenos grupos, em geral de quatro indivíduos, um casal e seus filhotes. Possui
uma cauda característica alaranjada.
A espécie esteve desaparecida por
quase 70 anos, chegando a ser considerada extinta, redescoberta hoje é
classificada como criticamente em perigo (CR) na lista
vermelha da IUCN, sendo sua população atual estimada em 250 indivíduos
maduros vivendo em liberdade, mas com números decrescentes. O declínio populacional decorre,
principalmente, da perda e fragmentação do habitat. É uma espécie
endêmica do bioma caatinga.
Expansão urbana é a principal
ameaça ao guigó-da-caatinga
As principais ameaças à
sobrevivência da espécie advêm do desmatamento continuado para a implantação de
pastagens para a pecuária, áreas para expansão da agricultura e a criação de
assentamentos rurais em áreas de ocorrência do primata. A expansão urbana
causa a perda de áreas rurais e fragmenta as florestas reduzindo o
habitat da espécie e isolando as populações remanescentes. Esse aumento das
áreas urbanas aumenta o risco de mortes por eletrocussão nas linhas de energia elétrica,
atropelamentos e predação por animais domésticos.
As populações do guigó-da-caatinga
se encontram isoladas em fragmentos de floresta colocando em risco a
continuidade da espécie devido a endogamia das subpopulações afetando sua variabilidade
genética.
Foram e ainda estão sendo
executados diversos estudos sobre a espécie
Diversos estudos e ações de
conservação da espécie foram e estão sendo executados. Foi desenvolvido projeto
para levantamento de populações, definição de limites de distribuição e
avaliação do status taxonômico da espécie, além de propor estratégias de conservação.
Este projeto foi financiado pelo Programa de Proteção as Espécies Ameaçadas
de Extinção da Mata Atlântica Brasileira(PEA), coordenado em parceria pela Fundação Biodiversitas e Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (CEPAN).
Em 2003 foi instituído um Grupo de Trabalho para a Conservação do guigó-da-caatinga
e em 2010 foi incluído entre os 25 primatas mais ameaçados do mundo pelo Grupo
Especialista em Primatas da IUCN e pela Sociedade Internacional de
Primatologia, e, ainda em 2011 foi incluído no Plano
de Ação Nacional para os Primatas do Nordeste (PAN-PRINE) que estabeleceu
estratégias para sua conservação. Em 2015 foi criado o Projeto
Primatas da Caatinga para contribuir para a conservação de duas espécies de
primatas ameaçadas de extinção, entre os quais o guigó-da-caatinga. Este
projeto se desenvolve sob a coordenação do Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) do ICMBio.
Ações em municípios com parceria entre poder público e ONGs obtém bons resultados
Uma das medidas de conservação se
desenvolveu no município de Santa Brígida, na Bahia no âmbito do projeto “Salve
Guigó” desenvolvido pela organização não-governamental Associação Nordesta, que realizou intensas
pesquisas sobre o primata durante muitos anos. A coleta de dados foi realizada
na Reserva Biológica da fazenda Saco de Arara e os resultados alcançados foram
graças à participação da comunidade local em ações de sensibilização, valorização
e reconhecimento que envolveram associações, alunos, professores, povoados, Secretaria
de Meio Ambiente e a Prefeitura
Municipal de Santa Brígida-BA que participaram de inúmeras atividades,
entre as quais oficinas e palestras para a proteção da espécie e do habitat.
Envolvimento das comunidades
locais e educação ambiental é essencial para garantir sobrevivência da espécie
Além das ações de conservação realizadas, há necessidade de desenvolver atividades de educação ambiental com as comunidades locais nas áreas onde vive o guigó-da-caatinga, bem como o financiamento de atividades agrícolas incentivando a agricultura familiar, para diminuir os impactos da pecuária e do desmatamento para novas áreas para plantio. É recomendada ainda a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) no entorno das Unidades de Conservação de domínio público.
Fonte: Invivo,
Geas-UFMG,
Neotropical
Primates, Prefeitura
de Santa Brígida, Oryx,
PAN
Primatas do Nordeste, O
Eco, Estadão
Foto: Guigó-da-caatinga_by Junior Monteiro e segunda foto: by Cristina Prates