Raposa-do-campo, um dos canídeos menos estudados do mundo, está ameaçada pela devastação do Cerrado


Uma das seis espécies de canídeos que vivem no Brasil, a raposa-do-campo (Lycalopex vetulus) também conhecida como raposinha-do-campo, jaguamitinga ou jaguapitanga é um dos menores desse grupo na América do sul. É um animal endêmico do Brasil que habita os campos e cerrados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais e nordeste e oeste de São Paulo, partes do Tocantins, Bahia, e uma pequena área entre Piauí, Ceará e Paraíba, provavelmente deve ocorrer em áreas abertas das regiões do sul do Maranhão e do estado de Rondônia. Também é encontrada em habitats abertos do Pantanal e na Mata Atlântica ocorre em pastagens e pequenas manchas de cerrado intercalando áreas de floresta.

A espécie tem o corpo que alcança até 64 cm de comprimento e cerca de 32 cm de cauda, seu peso pode atingir até 4 kg. A cabeça tem pelagem vermelho-amarronzada e seu dorso cinza-amarronzada, com uma faixa escura se estendendo da nuca até a base da cauda que possui pelagem densa. Nas extremidades, como patas e orelhas, seus pelos possuem tons de marrom e amarelo.

A raposinha-do-campo é parecida com dois outros canídeos, porém menor

À distância a raposinha-do-campo pode ser facilmente confundida com o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), ou com o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus). Uma das formas de diferenciá-la é observar o tamanho corporal, o formato e o tamanho da cabeça e do focinho em relação ao corpo, que são menores e menos robustos que no cachorro-do-mato e no graxaim-do-campo. A raposinha também possui uma mancha negra na base da cauda, além da ponta da cauda negra, estas características da cauda podem levar a confusão com o graxaim-do-campo, mas este é maior, tendo a cabeça, o focinho e o peito mais largos e robustos.

A raposa-do-campo é onívora, alimenta-se de cupins, besouros, gafanhotos, frutos silvestres e pequenos mamíferos, além de lagartos, cobras, anuros e aves. Pode ser vista em atividade principalmente no final da tarde e ao amanhecer.

A destruição do Cerrado é grande ameaça à sobrevivência da raposa-do-campo

O Cerrado, nos últimos 40 anos perdeu 50% de sua área, o que impacta diretamente na sobrevivência da raposinha. Além da perda de habitat, a espécie sofre com outros efeitos negativos diretos e indiretos causados pela ação humana, como atropelamentos, doenças, retaliação à suspeita de predação de aves domésticas e ataques por cães. A destruição do Cerrado, somada a outras ameaças coloca as populações da raposa em risco, estimando-se que a espécie deverá ter um declínio populacional de 30% nos próximos 15 anos, se houver uma perda de habitat de, no máximo, 10% nesses anos.

A raposa-do-campo é classificada como espécie quase ameaçada (NT) na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) com população decrescente. Na lista nacional, a espécie é classificada como vulnerável. No Estado de São Paulo está classificada como “em perigo” (EN).


Há esforços para a conservação da raposa-do-campo

O Zoológico de São Paulo, em parceria com o  Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado (PCMC) realiza, desde 2012, pesquisas estudando os diversos aspectos da população de  raposinhas na natureza, em Cumari, Goiás, monitorando os indivíduos que receberam colar radiotransmissor para a compreensão da área de vida e ecologia, além do desenvolvimento de ações educativas junto à população local.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) incluiu a raposa-do-campo no  Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Canídeos  que abrange os anos de 2018 a 2023 e que contempla quatro espécies ameaçadas de extinção e tem como objetivo reduzir os impactos provocados nas populações desses animais decorrentes de atividades humanas, como alteração de seus habitats, contatos com animais domésticos, atropelamentos e conflitos com o ser humano. As espécies contempladas nesse Plano de Ação, além da raposinha, são: cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas (Atelocynus microtis), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus), todos considerados vulneráveis.

Fonte: Animal business, AMDA, Guia Animal, CENAP, ICMBio, Pró Carnivoros, Mundo Ecologia, UFG, Fauna News, Conexão Planeta, Zoo-DF, SP Notícias


Foto: Raposa-do-campo_UFG e segunda foto: Laura Rubio Rocha