No Brasil são conhecidas quatro
espécies de araras-azuis: a arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus),
vivia no sul do Brasil e hoje é considerada extinta; a ararinha-azul (Cyanopsitta
spixii) que existe apenas em cativeiro; a arara-azul-grande (Anodorhynchus
hyacinthinus), que vive no Pantanal, Cerrado e Amazônia; e a arara-azul-de-lear
(Anodorhynchus leari), que habita exclusivamente uma região muito
restrita da caatinga na Bahia.
A arara-azul-de-lear (Anodorhynchus
leari) é uma espécie endêmica da caatinga do nordeste do Estado da Bahia,
e sua área de distribuição inclui os municípios de Campo Formoso, Euclides da
Cunha, Santa Brígida, Glória, Rodelas, Monte Santo, Uauá, Jeremoabo, Canudos,
Sento Sé e Paulo Afonso.
Arara-azul-de-lear se
diferencia por usar paredões de arenito para fazer seus ninhos
Ao contrário de outras espécies
de arara, a arara-azul-de-lear não faz ninho em ocos de árvores, os
locais utilizados são bastante específicos: grandes paredões de arenito cheios
de fendas por onde elas entram. A população dessa arara utiliza dois sítios
como dormitório e reprodução: os paredões da Estação Biológica de Canudos
(EBC) área da fundação Biodiversitas, e a Estação
Ecológica Raso da Catarina, do governo federal ( ICMBio)
A espécie é menor do que a arara-azul-grande
e são bastante parecidas nos tons das cores. A diferença mais significativa
está na forma da barbela (a pele ao redor da mandíbula). Em A. hyacinthinus é
em forma de tira, enquanto em A. leari tem a forma de um borrão, como uma gota.
Captura para comércio ilegal e
a destruição do habitat são ameaças à arara-azul-de-lear
Entre as principais ameaças à arara-azul-de-lear,
estão a captura para comércio ilegal (tráfico de animais) e a destruição
do habitat. A espécie se alimenta, principalmente, de coquinhos da palmeira
licuri (Syagrus coronata), cuja disponibilidade vem sendo reduzida
pela atividade humana. Assim, as aves acabam atacando plantações de milho de
subsistência, gerando conflitos com moradores locais.
Desde o século 19 a arara-azul-de-lear
já era conhecida, no entanto nunca foi descrita oficialmente pela ciência e nem
se conhecia exatamente onde viviam, acreditava-se que estavam extintas. Somente em 1978 ela foi localizada, na
região onde vive atualmente, pelo ornitólogo Helmut Sick e foi
catalogada oficialmente. Quando foi encontrada haviam apenas 21 indivíduos
contabilizados.
Os esforços de conservação
deram resultados positivos ao longo dos anos
Há Programa
de Conservação e Manejo da Arara-Azul-de-Lear, que existe desde o ano 2000,
coordenado pelo IBAMA, o qual
envolve atividades de cativeiro e campo, visando à manutenção de uma população
genética e demograficamente viável em sua área de ocorrência. O CEMAVE – Centro Nacional de
Pesquisas para Conservação das Aves Silvestres,com apoio do Fundo
Nacional do Meio Ambiente – FNMA do Ministério
do Meio Ambiente – MMA desenvolve ações de pesquisa na região. A Base de
Pesquisas conta com uma equipe de campo em tempo integral, cujos objetivos são
pesquisa, manejo, proteção e envolvimento da comunidade local com a questão da
conservação da arara-azul-de-lear e seu ambiente.
Dentro do histórico do
desenvolvimento do projeto foram realizadas diversas atividades voltadas ao
envolvimento da comunidade e à educação ambiental. Palestras em escolas,
associações e participação em eventos na região, programas de rádio,
distribuição de cartazes, camisetas e bonés, sessões de cinema tanto nas
cidades como na zona rural e a capacitação de professores em temas
ambientais, oficinas de educação ambiental e oficinas de artesanato.
O crescimento do número de
araras está sendo bastante significativo
O projeto de monitoramento das araras, surtiu resultado. Quando foram iniciados os trabalhos de monitoramento da espécie com a criação da Estação Biológica de Canudos, pela Fundação Biodiversitas, em 1991 e 1992 haviam 50 indivíduos da arara-azul-de-lear, atualmente há 1.800 exemplares. A região onde está inserida a Estação Biológica de Canudos, no Raso da Catarina é um dos sítios globais da Aliança para Extinção Zero. Atualmente a espécie vive, principalmente, dentro da Estação Ecológica Raso da Catarina, próximo à cidade de Paulo Afonso e também na Estação Biológica de Canudos, ambas no sertão baiano.
Os programas de proteção
melhoraram o status de conservação da arara-azul-de-lear. Até o ano de
2008, encontrava-se na categoria criticamente ameaçada (CR) de acordo
com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em
inglês). Após a verificação de que sua população estava aumentando e havia
alcançado um número próximo a mil indivíduos a espécie passou para o status de Em
Perigo (EN) na Lista
Vermelha da IUCN. Esse resultado foi alcançado graças a ações de várias
entidades que desenvolveram ações principalmente nos dormitórios e áreas de
nidificação da arara, além do programa de ressarcimento à população por
prejuízos com suas plantações.
Programa de criação em
cativeiro envolve parceiros nacionais e internacionais
Outras atividades importantes são
o desenvolvimento de um projeto de uso sustentável da palmeira licuri e
a criação de alternativas de renda para a população local, ambos financiados
pela Fundação Loro Parque.
No programa de criação em cativeiro coordenado pelo Cemave, há instituições
parceiras que fornecem exemplares para soltura no Brasil, entre elas estão – a Fundação Loro Parque, de
Tenerife, na Espanha, e a Lubara
Animal Breeding – Al Wabra (AWWP), no Catar, Fundação
Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP) e o ACTP, da Alemanha.
Envolvimento das comunidades
tem sido fundamental para o sucesso dos projetos
A Fundação Loro Parque,
desde o ano de 2006, vem financiando as ações de educação ambiental e
envolvimento da comunidade no Programa de Conservação e Manejo da
Arara-Azul-de-Lear, incialmente através da PROAVES (Associação Brasileira para
Conservação das Aves), depois com a SAVE Brasil. Atualmente, em parceria com o
Instituto Arara Azul, desenvolve ações voltadas ao envolvimento das
comunidades, educação ambiental e projeto de geração de renda.
Desde 2008, o Grupo de Pesquisa e
Conservação da Arara-azul-de-lear estuda e monitora o sucesso reprodutivo
nos ninhos das aves. Contando, com o suporte técnico e científico de diversos
parceiros, essa pesquisa trouxe informações inéditas sobre a biologia e a
ecologia dessa espécie e, permitiram aprimorar as estratégias de conservação.
Colisão com a rede de energia
elétrica vem causando mortes das araras
Infelizmente a arara-azul-de lear
vem sofrendo ameaças devido às redes elétricas. Segundo dados divulgados no
início de 2022 há um aumento da ocorrência de mortes de araras por descarga
elétrica, em três anos foram 31 mortes. O problema tende a se agravar com um
novo empreendimento da multinacional francesa Voltalia que pretende instalar 81 turbinas
eólicas na região e uma rede de transmissão de energia de 50 km. Organizações
ambientalistas, como a Fundação Biodiversitas , lançaram campanha para tentar
impedir a construção da obra. Outras organizações também se mobilizaram e
propuseram à Voltalia a realocação do complexo. Essa alternativa também é
defendida pelo Projeto Jardins da Arara de Lear,
voltado à preservação da espécie, e cuja sede fica localizada em Canudos
Fonte: Fauna
News, Instituto
Arara Azul, OGlobo,
Carta
Capital, Change.org,
Brasil.Mongabay,
Blue
Macaws, Retratos
e fatos, G1Globo,
Correio,
Biodiversitas,
Tab
Uol, National
Geographic Brasil, O
Eco, CRBio08,
ICMBio,
Canal
Ciência, Grupo
Printer
Fotos: Arara-azul-de-lear_João Marcos Rocha