Tatu-bola-do-nordeste ter sido escolhido mascote da Copa do Mundo pouco resultou em benefício para sua conservação.


 Os tatu-bola são uma das 11 espécies de tatu existentes no Brasil e se caracterizam por fecharem a carapaça formando uma bola que os protege de predadores, daí deriva seu nome. Existem duas espécies, o tatu-bola-mataco (Tolypeutes matacus) e o tatu-bola-do nordeste (Tolypeutes tricinctus) também conhecido como tatu-bola-da-caatinga ou tatuapara.

O tatu-bola-mataco é encontrado no Brasil, principalmente na região do pantanal; Bolívia, Paraguai e Argentina está classificado pela IUCN como quase ameaçado (NT). O tatu-bola-do-nordeste, por outro lado, só existe no Brasil e corre risco mais grave de extinção, por isso, está classificado como vulnerável(VU) na Lista Vermelha da IUCN .

A distribuição do tatu-bola-do-nordeste se limita ao Cerrado e à Caatinga

O tatu-bola-do-nordeste é a menor espécie, possuindo até 40 centímetros e pesando cerca de 1,8 quilos é o único tatu endêmico do país. Sua distribuição se limita à Caatinga e ao Cerrado brasileiro, avança até a região da divisa de Goiás, Bahia e Minas Gerais e, mais ao norte, nos cerrados do Tocantins, Piauí e Maranhão. Sua dieta consiste basicamente de insetos, alimentando-se principalmente de formigas, cupins, besouros entre outros, mas pode também consumir matéria vegetal.

O nome popular do tatu-bola revela o comportamento típico da espécie quando se sente ameaçada: ao se aproximarem predadores, o animal se curva em formato de bola. Essa característica permitiu que fosse escolhido como mascote da copa do mundo de 2014, que se realizou no Brasil. Mas mesmo a popularidade e o marketing de um evento desse porte não foram suficientes para melhorar suas condições de conservação, continua sendo uma das espécies menos conhecidas e com poucos estudos científicos sobre sua distribuição, sua ecologia e reprodução.

As ameaças principais à espécie são a caça de subsistência e a perda de habitat

As ameaças que sofre o tatu-bola-do-nordeste na caatinga, dizem respeito a que as populações remanescentes estão praticamente isoladas e submetidas à caça de subsistência, além disso sofrem com a perda de habitat para a agricultura, o desmatamento e pelo aumento da matriz energética. No Cerrado, as principais populações vivem fora de áreas protegidas e são ameaçadas principalmente pela modificação da paisagem com a conversão de seu habitat natural em áreas de expansão da monocultura extensiva, principalmente de cana-de-açúcar e soja.

A população do tatu-bola-da-caatinga está com tendência decrescente

A tendência populacional é decrescente, devido a redução da área nativa da Caatinga, principal bioma de ocorrência para o tatu-bola-do nordeste e também da perda de hábitats do Cerrado, principalmente no oeste baiano e sul do Piauí. A alta vulnerabilidade à caça e o registro recorrente de extinções locais também contribuem para essa tendência de redução populacional. As populações atuais de tatu-bola estão praticamente restritas às unidades de conservação na região da Caatinga e do Cerrado e em remanescentes naturais com baixa densidade humana. De acordo com o ICMBio nos últimos 27 anos, a espécie sofreu uma redução de sua população em pelo menos 50%.


Ao adquirir o formato de bola o tatu-bola dificulta a ação de predadores, mas facilita sua captura pelos humanos

A caça de subsistência, que é um importante fator na diminuição das populações na Caatinga, é facilitada pela característica da espécie de adquirirem o formato de uma bola ao se defenderem de predadores. Ao perceber a presença de carnívoros hostis seu corpo se contorce e o animal esconde partes frágeis como o tronco, a cabeça e as patas no interior de uma dura carapaça – que se fecha e fica em formato de bola; conseguindo ficar nessa posição por mais de uma hora. Porém essa posição o deixa numa condição de fragilidade diante de caçadores que o buscam para consumo. Ao parar e se enrolar, quando acuado, pode ser apanhado, sem qualquer risco para quem o captura.

Como decorrência da escolha do tatu-bola-do-nordeste para mascote da Copa do Mundo de 2014, foi elaborado o Plano de Ação Nacional para a Conservação do Tatu-bola (PAN), elaborado pelo Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Associação Caatinga e PROBIO II. Sendo uma das poucas ações que resultaram da escolha do tatu-bola-do nordeste que visam sua proteção.

Organizações não-governamentais realizam esforço para conservação do tatu-bola

Com um dos principais esforços na conservação do tatu-bola-do-nordeste, a Associação Caatinga, em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e o grupo de especialistas de Xenartros da SSC-ASASG/IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), desenvolve o Projeto de Conservação do Tatu-bola-do-nordeste, cujo objetivo é promover a sua conservação visando à manutenção da espécie na natureza reduzindo o seu risco de extinção. A área de intervenção escolhida para início do projeto são os biomas Caatinga e Cerrado dos estados do Ceará e Piauí. Além disso,  com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza a Associação Caatinga realiza o Programa Tatu-Bola que tem como objetivo identificar áreas prioritárias para a conservação do tatu-bola-do-nordeste.

 

Fonte: ICMBio, No clima da caatinga, SIBBr, RevistaEA , G1 Globo, IUCN SSC ASASG, EcoDebate, Associação Caatinga, O Povo, Vivo Verde, Wikiwand, National Geographic

Fotos: Tatu-bola-do-nordeste_Associação Caatinga(ambas fotos)