Taguá, um animal pré-histórico, foi encontrado vivendo na região do Chaco


O taguá (Catagonus wagneri ou Parachoerus wagneri) é um mamífero sul-americano parecido com um porco do mato, que havia sido descrito a partir de fósseis em 1904 e acreditava-se que era uma espécie extinta, sendo descrita em 1930 como um fóssil pré-histórico do Pleistoceno. Entre 1971 e 1974 aparecem relatos da existência desses animais, ainda considerados de espécie incerta, no Chaco paraguaio. Em 1975 o zoólogo Ralph Wetzel publica artigo na revista Science, sob o título: Catagonus, an “extinct” peccary, alive in Paraguay (Catagonus, um pecari ’extinto’, vivo no Paraguai), relatando que essa espécie considerada extinta ainda estava viva.  Embora as pessoas que habitavam o local onde vivia o animal sabiam de sua existência, a descoberta do Taguá foi uma grande surpresa para a Ciência.  

Taguás tem como característica cabeça volumosa, pernas longas e pés pequenos

O taguá também conhecido como “quimilero” (na Argentina) e “solitário” (na Bolívia) caracteriza-se por ter uma cabeça volumosa, orelhas compridas e muito peludas e pernas relativamente longas. As da frente têm 4 dedos, dos quais os 2 centrais mais desenvolvidos repousam no chão, enquanto oas de trás têm apenas 2 dedos. Os pelos na linha superior do corpo e nos flancos são longos e grossos. Sua coloração geral é cinza ou cinza acastanhada, possui uma faixa preta na linha dorsal e possui um colar característico de pelos brancos ao redor do pescoço. Os pés são pequenos, o que lhe facilita manobrar entre as plantas espinhosas características do Chaco seco.

A espécie vive em rebanhos de 1 a 10 indivíduos (com mais frequência em torno de 5 exemplares) de ambos os sexos e diferentes idades; espécimes solitários também são frequentemente vistos. Tem hábito diurno, com picos de atividade pela manhã. A partir do amanhecer, os grupos se deslocam dos locais de descanso para os locais de alimentação e nas horas mais quentes descansam à sombra de arbustos e árvores.

Seu habitat abrange o Chaco seco de três países vizinhos-Paraguai, Bolívia e Argentina

Atualmente pode ser encontrado no Chaco seco do oeste do Paraguai, extremo sudeste da Bolívia (Departamentos de Santa Cruz, Chuquisaca e Tarija) e centro-norte da Argentina (Chaco oeste e Formosa, leste de Salta e Jujuy, extremo nordeste de Tucumán e norte de Santiago del Estero). A população é estimada em cerca de 3000 indivíduos. Sua alimentação inclui um cardápio variado, alimenta-se de cactos, raízes de bromélias, frutos, formigas e, com menos frequência, de pequenos mamíferos.  Obtém sais das salinas formadas na boca dos formigueiros, onde permanecem até uma hora.

Os taguás ocorrem em áreas de baixa precipitação e altas temperaturas, além de ficarem restritos às partes mais secas do Chaco. Florestas de espinhos, com árvores emergentes, e regiões cobertas por arbustos, cactos e bromélias são os principais ambientes onde vive a espécie, que também pode ser encontrada em bosques abertos.


Seu estado de conservação é desconhecido dificultando sua conservação

O seu estado de conservação ainda é pouco conhecido, mas estima-se que as suas populações estejam diminuindo devido à destruição do habitat. Sofre intensa pressão de caça devido a sua carne e couro. Também é capturado como troféu por caçadores esportivos e em alguns locais há uma alta taxa de retirada de espécimes para atender às demandas de museus e zoológicos. No Paraguai e na Bolívia é considerado ameaçado de extinção (EN) e na Argentina seu status é vulnerável (VU). Na lista Vermelha da IUCN está classificado como ameaçado de extinção (EN).

Pesquisadores elaboraram vários cenários que preveem sua extinção caso nada seja feito

No workshop "Estratégia Regional para a Conservação do Taguá" realizado na cidade de Assunção do Paraguai em março de 2016, pesquisadores alertaram para o perigo que corria o Taguá devido à destruição do habitat. Chegaram à conclusão de que aproximadamente 46% da superfície do Grande Chaco estaria apta para a espécie, e apenas 12% da área com melhor adequação está incluída em um sistema oficial de proteção. São necessárias populações mínimas entre 1.000 e 1.300 indivíduos, na ausência de ameaças de origem humana (por exemplo, caça), para que a espécie sobreviva por pelo menos 100 anos sem perder a diversidade genética. Com taxas anuais de caça de 20% e 10%, a espécie deve se extinguir em 20 e 100 anos, respectivamente. No entanto, uma caça de 5% da população poderia ser sustentável, se não houvesse perda de habitat.

Sobrevivência do Taguá está em risco exigindo ações conjuntas dos três países em que ocorre

Há uma tendência de piora da situação do Taguá, principalmente devido à destruição do habitat e a caça excessiva. Há poucas informações sobre sua ecologia e o estado de conservação. Grande parte dos ambientes naturais do Chaco Seco foram transformados para produção intensiva na agricultura e pastagens para a pecuária, transformando os ecossistemas, com perda de espécies naturais da flora e alta fragmentação da vegetação restante. Essa mudança nos padrões de uso dos ambientes naturais e a dinâmica no território transfronteiriço do Chaco exigem ações conjuntas para garantir a sobrevivência dessa espécie.

 

Fonte: Wikiand, G1 Globo, SIB, Animal Diversity Web, WCSParaguay, DBpedia, Wikiprefia, France-animals.org, Hmong, IUCN SSC Peccary Specialist Group, Mongabay,  Conicet, Conservation Internacional-Bolívia 

Foto: Taguá_Manuel Campos Krauer e segunda foto: P.Smith