O inteligente corvo havaiano, extinto na natureza e de difícil reintrodução


A humanidade tem buscado vida inteligente extraterrestre e tem negligenciado a existência de outras espécies inteligentes, aqui mesmo, no nosso planeta. É o caso do corvo havaiano (Corvus hawaiiensis) ou alala como é conhecido no Havaí, extinto na natureza e de difícil reintrodução na vida selvagem.

Todas as espécies de corvos apresentam sinais evidentes de inteligência

Existem cerca de 40 espécies de corvos ao redor do mundo e são considerados um dos animais mais inteligentes existentes. Cientistas da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia descobriram que corvos tem capacidade de usar até três ferramentas em sucessão para chegar aos alimentos. Corvos que comem sementes difíceis de quebrar foram vistos e filmados atirando as sementes nas ruas para que os carros as quebrassem. Em testes específicos de avaliação de inteligência animal costumam atingir altas pontuações.

Os corvos possuem ampla distribuição geográfica nas zonas temperadas de todos os continentes, vivendo em bandos com estrutura hierárquica bem definida. No entanto nem todas as espécies de corvos prosperaram, algumas delas representam alguns dos animais mais ameaçados do mundo. É o caso do corvo havaiano, atualmente declarado como extinto na natureza (EW) pela Lista Vermelha da IUCN.

Várias ameaças contribuíram para a extinção do corvo havaiano

Vários fatores contribuíram para a extinção da ave. O maior deles foi a perda de habitat com a destruição de florestas para agricultura, extração de madeira e pecuária. A caça ao corvo foi intensa, pois os produtores locais de frutas e café consideravam a espécie um incomodo e a caçaram por décadas mesmo com a proteção legal. Outro importante fator foi a predação por espécies exóticas introduzidas na ilha como mangustos, ratos pretos e gatos. E a introdução de doenças externas, como a malária aviária, que precipitou ainda mais o declínio do corvo que é particularmente suscetível à doença.

O corvo havaiano era endêmico das florestas densas da maior ilha do Havaí. Na metade da década de 1980 existiam somente cerca de 20 exemplares. Em 1994 restavam entre 8 a 12 indivíduos na natureza. Em 2002 os últimos dois corvos selvagens desapareceram do ambiente natural.

Esforços de conservação foram realizados aumentando o número de aves em cativeiro

Após a ave ser oficialmente declarada extinta em 2002 se iniciaram os esforços de recuperar a espécie. Em 16 de abril de 2009, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA anunciou um plano de cinco anos para gastar mais de US$ 14 milhões para evitar a extinção do corvo havaiano por meio da proteção de habitats e gerenciamento de ameaças à espécie. Foi criado um Projeto de Restauração do Alala resultado da colaboração entre o Estado do Havai, o Serviço de Caça e Pesca e Vida Selvagem dos EUA e o San Diego Zoo Global. O programa de recuperação do corvo havaiano teve início com o fortalecimento das ações de reprodução em cativeiro em duas instalações situadas na Ilha Grande e Maui,  o   Keauhou Bird Conservation Center e o Maui Bird Conservation Center, ambos administrados pelo San Diego Zoo Global Institute for Conservation Research. Após um manejo cuidadoso, os conservacionistas aumentaram o número de corvos em cativeiro para mais de 100 indivíduos, o que abriu a possibilidade de se iniciar a soltura na natureza.

As várias tentativas de soltura encontraram barreira num predator nativo

A partir de 2016 foram feitas várias tentativas de soltura, todas elas prejudicadas por um predador nativo, o falcão havaiano (Buteo solitarius), que está listado como quase ameaçado de extinção. Foram feitas solturas em dezembro de 2016, setembro e outubro de 2017 e setembro de 2018. Em outubro de 2020 todas as aves liberadas, exceto cinco, morreram pela predação do falcão havaiano ou outros predadores. Os cinco indivíduos restantes foram recapturados e voltaram ao cativeiro.

Paralisada a reintrodução do corvo havaiano, o projeto está considerando a ilha de Maui como um local potencial para soltura no futuro, pois é considerada uma área mais segura do que a ilha Grande, pois os falcões havaianos não existem em Maui.

Pesquisa indicou um sofisticado uso de ferramentas pelo corvo havaiano

A importância da conservação do corvo havaiano ficou mais evidente com uma pesquisa publicada na revista Nature , no número de 14 setembro de 2016, por um grupo de cientistas britânicos que descobriu que o corvo havaiano usa ferramentas para buscar comida. O comportamento é extremamente raro entre animais. Hoje só existem 109 exemplares em cativeiro do alala, desses os cientistas estudaram 104 deles e descobriram que 78% usam varetas espontaneamente, com alto grau de destreza, para buscar comida que está fora do alcance. De acordo com o estudo o comportamento varia com a idade: 93% dos corvos adultos usavam ferramentas, diante de 47% dos filhotes.

A conclusão da pesquisa indica que a vasta maioria dos corvos havaianos utilizam as ferramentas espontaneamente, descartando a possibilidade de o comportamento ter sido desenvolvido no cativeiro. O uso de ferramentas é tão natural para a espécie que exibiram uma alta destreza no manuseio de varetas de madeira.

Fonte: Corvid research, Nature Serve Explorer ,Conservation Evidence, AZanimals, The Alala Project, Duke, Estadão 

Foto: Corvo do Hawai_ Ken Bohn_San Diego Zoo Global.webp