A Nova Zelândia tem uma alta proporção
de aves que nidificam no solo e não voam, devido ao seu longo isolamento
geográfico e à falta de predadores mamíferos. Entre essas aves destaca-se o
kakapo (Strigopes habroptilus). Esta ave é um papagaio grande
que não voa, vive em florestas e tem hábitos noturnos. Endêmico da Nova
Zelândia é a única espécie da ordem dos Psitaciformes incapaz
de voar. É uma espécie de ave de vida longa, estimada em 90 anos e a espécie de
papagaio mais pesada do mundo – os machos chegam a pesar 2,2 kg. Seu
ritual de acasalamento, denominado lek, também é único entre os papagaios.
O kakapo chegou a estar à beira da extinção
A população desses pássaros caiu seriamente
devido a ação de caçadores, de predadores introduzidos pela colonização europeia
- ratos, gatos, cachorros e arminhos e pela destruição
de parte da floresta. Em meados do século 20 os kakapos estavam à beira
de extinção. De acordo com levantamento feito em 1977 restavam apenas 18
indivíduos dessa espécie.
Predadores introduzidos são a maior ameaça para a
sobrevivência do kakapo
Ainda em 1977 uma população de menos de
duzentos pássaros foi descoberta na terceira maior ilha da Nova Zelândia, a ilha Stewart, proporcionando
uma nova esperança para a sobrevivência dessa preciosa ave. Mas essa
população estava correndo sério risco devido à predação por gatos. Durante
as décadas de 1980 e 1990, toda a população conhecida foi capturada e
transferida para ilhas onde não havia predadores. Desde então, equipe de
funcionários do Departamento de Conservação da Nova Zelândia (DOC)
trabalha incansavelmente para proteger, gerenciar e aumentar a população da ave
como parte do Programa de Recuperação
do kakapo.
Realocados para ilhas onde não sofressem ameaça
de predadores externos, começou um esforço dos cientistas para aumentar a
população dos kakapos. O projeto foi desenvolvido com um intenso
monitoramento de todos os exemplares através de transmissores de rádio.
Os kakapos recém-nascidos, por sua vez, são criados em laboratório, até
serem novamente liberados para a vida selvagem carregando um transmissor.
Embora a diversidade genética do kakapo seja baixa seu número está aumentando
O kakapo tem diversidade genética
muito baixa e, como consequência, baixa fertilidade. A gestão conservacionista
mais recente tem se concentrado no manejo de acasalamentos e no uso de inseminação
artificial para minimizar mais perdas genéticas. Os kakapo
são atualmente mantidos em parques de conservação em três
ilhas (Whenua Hou, Anchor Island e Hauturu) onde muitos esforços estão sendo
investidos para aumentar o número de espécimes do kakapo.
O esforço dos cientistas e voluntários
agregados ao projeto deram resultados com o crescimento da população inicial.
Em 2013 a população contava com apenas 124 aves, em 2017 houve um pequeno
aumento, para 154 indivíduos e em junho de 2020 chegou a um total de 210 pássaros.
Na Lista Vermelha da IUCN continua
a ser avaliado como criticamente em perigo de extinção (CR).
Pesquisa recente encontrou evidências de que a
endogamia pode não ser um problema para os kakapos
Estudo publicado na revista Cell Genomics de
outubro de 2021, baseado em estudo de populações de kakapos, traz um
novo alento para a recuperação da espécie. Nesse trabalho os pesquisadores
encontraram evidências que sugerem que pequenas populações sem muita diversidade
genética podem sobreviver isoladas por centenas de gerações, apesar da endogamia.
Esse resultado pode dar aos pesquisadores novas ideias sobre como utilizar as ferramentas
genéticas para conservar o kakapo.
Fonte: BBC, Nzbirdsonline, kakapo Recovery, Nature-anywhere, Smithsonian Magazine, Rewild
Fotos: Kakapo_ ryanphotographic (foto de cima), mdig(foto de baixo)