A beira da extinção, o antílope bongo-da-montanha retorna ao Quênia


Neste início de março foi inaugurado o Santuário Mawingu Mountain Bongo, nas encostas do Monte Quênia, a primeira reserva para o bongo-da-montanha (Tragelaphus eurycerus isaaci) que contou com a soltura de cinco animais. O Santuário se tornou realidade graças à ação do Ministério do Turismo e Vida Selvagem do Quênia em parceria com o Kenya Wildlife Service e o Kenya Forest Service que se juntaram para preservar essa espécie endêmica do Quênia.

O programa de reprodução e reintrodução do bongo-da-montanha obteve resultados positivos

De acordo com o governo, o lançamento do bongo-da-montanha é o resultado de um programa de reprodução e reintrodução que começou em 2004, que visa ter 50-70 bongôs totalmente reavivados no santuário até 2025 e 750 até 2050. Para ajudar a manter a diversidade genética no programa de melhoramento, foi aprovada a importação de bongôs da Europa e da América que serão reintroduzidos no ambiente natural. Alguns foram levados para zoológicos no exterior, e os esforços para salvar os animais dependem de devolvê-los ao Quênia. Na época haviam apenas 18 desses animais em cativeiro nos EUA. Em 2004, todos os 18 foram repatriados para o Quênia para iniciar o processo de reprodução e restabelecer o bongo-da-montanha em seu território natural. O programa de recuperação pretende a cada seis meses libertar cinco bongôs para diversificar os acasalamentos e fortalecer os números. O processo de reintrodução teve apoio decisivo da  Mount Kenya Wildlife Conservancy, uma reserva privada e do Kenya Wildlife Service ( KWS ), a agência nacional de proteção da vida selvagem.

Número baixo de animais exige atenção redobrada na conservação

 Um recente censo da vida selvagem no Quênia contou apenas 96 bongôs de montanha em estado selvagem vivendo em áreas de florestas tropicais no sopé do Monte Quênia, Eburu, Mau e Aberdares. A tendência é de que seus números irão diminuir sem esforços combinados de conservação. A subespécie já vagou em grande número, mas sofreu um declínio populacional sem precedentes desde a década de 1950 devido à caça furtiva, comércio de animais selvagens, predação e doenças, em particular, um surto de peste bovina na década de 1980.

O bongo-da-montanha (Tragelaphus eurycerus isaaci) é uma subespécie criticamente ameaçada do bongo, um dos maiores antílopes de floresta, com uma pelagem marrom-avermelhada, com manchas pretas, brancas e amarelo-brancas. Tanto os machos quanto as fêmeas têm chifres longos e ligeiramente espiralados. As fêmeas pesam 250kg e os machos pesam até 450kg, tornando-os os maiores e mais pesados antílopes de floresta. Bongôs raramente são vistos em grandes rebanhos. Os machos são principalmente solitários, enquanto as fêmeas com filhotes formam pequenos rebanhos de até 10 indivíduos. Eles são principalmente noturnos.

A criação de mais reservas protegidas é fundamental para salvar o bongo-da-montanha

A criação de reservas protegidas para o bongo-da-montanha é fundamental para a sua recuperação pois as florestas nas terras altas do Quênia, onde vivem os poucos animais restantes, estão desaparecendo rapidamente devido à extração ilegal de madeira e ao crescimento das populações humanas, o habitat do bongo também está diminuindo e as ameaças aumentam acuando cada vez mais os poucos exemplares existentes.

De acordo com a IUCN há duas subespécies de bongo africano (Tragelaphus eurycerus). O primeiro, o bongo-das-planícies (Tragelaphus eurycerus eurycerus), é classificado como "quase ameaçado" não correndo risco iminente e que vive nas florestas tropicais da África Central e o segundo, o bongo-da-montanha (Tragelaphus eurycerus isaaci), "criticamente ameaçado" que vive exclusivamente no Quênia e que está exigindo cuidados intensivos para sua sobrevivência.   

Sucesso do programa de recuperação depende do envolvimento das comunidades locais.

Especialistas em vida selvagem no Quênia afirmam que o sucesso a longo prazo da soltura e eventual sobrevivência dos animais na natureza depende em grande parte do apoio das comunidades locais nas áreas vizinhas, uma vez que a maioria das ameaças que causaram o declínio populacional foram causadas pelo homem. As organizações conservacionistas e o governo queniano estão trabalhando com essas comunidades para colaborarem em um programa de reflorestamento no entorno do Santuário. Essa parceria já rendeu frutos com o plantio de mais de 35.000 árvores até agora.

Fonte: Greenmatters, Tusk, The Guardian, AllAfrica, Capitalfm, Reuters, Africa News, Volta do mundo, The Standard, FranceInfo, Kenia News 

Foto: Bongo-da-montanha_The Standard