Entre as dez aves mais ameaçados
do planeta está o pato mergulhão (Mergus octosetaceus) com apenas
250 indivíduos na natureza. A União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUCN) listou a espécie como criticamente ameaçada.
Há somente três populações
isoladas em diferentes estados brasileiros, na Serra da Canastra e Serra do
Salitre, em Minas Gerais; Chapada dos Veadeiros, em Goiás e a região do Jalapão
em Tocantins. Habitam cursos de rios limpos e rápidos, ladeados por matas
ciliares de regiões montanhosas. Em 2017 foi confirmada através de foto a
existência do pato mergulhão em São Paulo, localizado no Parque
Estadual da Serra do Mar em Salesópolis, revelando a existência de
uma população residual no Estado que demanda maiores estudos. O pato-mergulhão
tem como característica marcante o penacho na nuca, não havendo dimorfismo sexual.
Ameaças à espécie
Fatores como a expansão de áreas
agrícolas, aumento da poluição dos cursos de água, alterações no fluxo e nível
das águas causadas por hidrelétricas e assoreamento de rios e lagos tem
pressionado as áreas preservadas, colocando em risco a sobrevivência da
espécie.
Pato-mergulhão atua como
bioindicador da qualidade da água
O pato mergulhão é exigente,
prosperando apenas em habitats com nascentes limpas e águas transparentes, sem
o menor vestígio de poluentes. Por isso atua como bioindicador da qualidade
da água, o que foi oficializado pelo Ministério do Meio Ambiente em 26 de
março de 2018 através da portaria 79 que reconhece o pato mergulhão como símbolo
das águas brasileiras.
Pesquisas contribuem para a conservação
do pato mergulhão
Para auxiliar na conservação da
espécie, uma equipe de cientistas de 12 instituições diferentes, entre
universidades órgãos federais e estaduais, setor privado e ONGs, se uniram para
traçar um mapa das áreas mais adequadas para o pato mergulhão – áreas
onde a espécie tem maiores chances de sobrevivência devido às características
ambientais. O relatório da pesquisa, com o mapa resultante foi publicado em
setembro de 2021 na Perspectives
in Ecology and Conservation.
Com o mapa é possível direcionar
a busca por novas populações, pesquisar potenciais ameaças à espécie e
ajudar a definir áreas para reintrodução. O estudo destaca o impacto
potencial da construção de novas pequenas centrais hidrelétricas (PCH),
que provocam a mudança de um ecossistema de água corrente para um de
água parada após a inundação de uma barragem, o que elimina as exigências
ecológicas do pato mergulhão, como a água limpa e rápida.
Em julho do ano passado (2021), a
revista inglesa do Clube Neotropical de Aves (Neotropical Bird Club) em seu
número 43 publicou dois estudos sobre o pato-mergulhão no Rio Novo, em Tocantins.
O primeiro
deles trata de estudos sobre ninhos e cavidades potenciais para nidificação
do pato-mergulhão e o segundo
artigo trata do recenseamento feito no Rio Novo após dez anos sobre os
dados populacionais e distribuição espacial da ave. Os dois trabalhos foram
realizados por pesquisadores da Funatura,
do órgão ambiental do estado do Tocantins (Naturatins) e da Universidade Estadual do Maranhão, campus de
Caxias.
Ações de conservação aumentam
as chances de o pato-mergulhão sobreviver
Com o objetivo de proteger a
espécie foi formada uma rede constituída por ONGs, organizações governamentais,
universidades e instituições – que integram o Plano
de Ação Nacional (PAN) do Pato-Mergulhão, coordenado pelo CEMAVE/ICMBIO –, que promove pesquisas, faz
buscas em campo e contribui com a criação de políticas públicas e ações
prioritárias para salvaguardar a espécie e seu habitat.
Nesse contexto há em progresso o Programa
Pato-Mergulhão, que é executado desde 2001 pelo Instituto Terra Brasilis na região
da Serra da Canastra, no sudoeste de Minas Gerais, tem como objetivo o estudo e
a conservação dessa espécie e seu habitat. A região ─ incluindo o Parque
Nacional da Serra da Canastra e seu entorno - abriga a maior e melhor
conhecida população dessa espécie. Esse programa tem três eixos principais:
Pesquisa e monitoramento da espécie; atividades de sensibilização, mobilização
e educação ambiental e promoção de melhores práticas de uso da terra pelas
atividades agropecuárias para evitar a contaminação das águas. O programa
pretende, ainda, indicar novos locais para futura reintrodução da espécie na
natureza, a partir do sucesso reprodutivo da população mantida em cativeiro.
Outros participantes do programa são a Funatura
e Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza,
Ainda integrando o processo, o Projeto
“Evitando a extinção do pato-mergulhão no corredor Veadeiros-Pouso Alto-
Kalunga” que teve suas atividades iniciadas em janeiro de 2018, na região da
Chapada dos Veadeiros, tem como objetivo realizar atividades de monitoramento e
pesquisa da espécie, ações de conscientização pública e capacitação sobre seu
atual estado de conservação. O projeto é financiado pelo “Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos”
– (CEPF), com apoio do Instituto Internacional
de Educação do Brasil (IIEB) e é executado pelo Instituto Amada Terra de
Inclusão Social (IAT).
Nesse plano amplo o Zooparque de Itatiba em São Paulo participa
com a criação em cativeiro do pato-mergulhão com o objetivo de criar uma
população cativa visando futuras reintroduções na natureza.
Fonte: Envolverde,
Terra
Brasilis, Fundação
Grupo Boticário, Funatura,
Folha
de SP, Conexão
Planeta
Foto: Pato-Mergulhão_by André Dib e segunda foto: Cemave