Rabo-branco-de-Margarette: o beija-flor raro da Mata Atlântica em risco de extinção

 


O beija-flor rabo-branco-de-margarette (Phaethornis margarettae) é uma das aves mais raras e ameaçadas do Brasil. Endêmica da Mata Atlântica, essa espécie de beija-flor da família Trochilidae é conhecida tanto por seu comportamento peculiar quanto pela extrema fragilidade de sua população, distribuída em áreas severamente fragmentadas. Com duas subespécies reconhecidas, ambas sob ameaça, o rabo-branco-de-margarette representa não apenas um patrimônio biológico singular, mas também é um importante indicador da conservação ambiental.

Características morfológicas e comportamentais

O rabo-branco-de-margarette é considerado de grande porte entre os beija-flores, medindo entre 16,5 e 17 cm. Possui bico longo (37 a 39 mm), cauda com retrizes centrais alongadas e pontas brancas, padrão facial marcado, bico avermelhado ou alaranjado e lado ventral cinza com listras claras na cabeça de coloração ocre-pálido. O dimorfismo sexual é pouco evidente.

Seu comportamento reprodutivo é particularmente interessante. Durante a parada nupcial, os machos exibem a plumagem com a cauda aberta em leque e eriça as plumas da garganta, voando em torno da fêmea enquanto entoa um canto característico. A vocalização é discreta no início, mas torna-se mais intensa com o voo de aproximação. O macho utiliza uma estratégia única: desloca lateralmente os ossos mandibulares, criando o efeito visual semelhante a uma pétala.

Somente a fêmea é responsável pela construção do ninho, incubação e cuidados com os filhotes. O ninho é construído sob folhas de palmeiras encurvadas, com musgos e sementes. A incubação dura 15 dias e os filhotes deixam o ninho aos 20 dias.

Hábitos e ecologia

O beija-flor rabo-branco-de-margarette habita florestas bem preservadas, com predileção por áreas alagadas ou próximas a córregos, onde costuma tomar banho. O banho é realizado em locais fixos, geralmente nas primeiras horas da manhã e à tarde, em águas límpidas. Após o mergulho, o pássaro pousa em um galho próximo para realizar sua higiene.

É uma espécie territorialista com indivíduos da mesma espécie, mas evita confrontos com outras aves. A alimentação é composta por néctar e pequenos artrópodes, forrageando especialmente em bromélias e helicônias.

Durante o dia, a ave utiliza galhos a dois ou três metros do chão para descansar, cantar ou tomar sol. À noite, busca abrigo sob folhas, em galhos entre três e cinco metros de altura.

Distribuição geográfica e subespécies

A espécie é dividida em duas subespécies:

  • Phaethornis margarettae margarettae: ocorre no litoral central da Bahia, entre Porto Seguro e Ituberá, com registros concentrados ao norte do rio de Contas, próximo a Itacaré. Foi originalmente descrita no Espírito Santo, onde acredita-se que esteja extinta. Habita florestas de baixada bem conservadas, com vegetação primária.
  • Phaethornis margarettae camargoi: endêmica do Centro de Endemismo Pernambuco, ocorre em fragmentos florestais nos estados de Pernambuco e Alagoas, com registros recentes em locais como a RPPN Pedra D’Antas (PE) e a ESEC Murici (AL). Apresenta coloração mais pálida e encontra-se em situação crítica de conservação.

Ambas subespécies habitam altitudes que variam entre 5 e 700 metros e estão associadas a florestas maduras e fragmentos de vegetação primária.

Estado de conservação e ameaças

A espécie como um todo está classificada como Em Perigo (EN), enquanto a subespécie camargoi é considerada Criticamente em Perigo (CR). A área de ocupação estimada é de apenas 416 km². A população é severamente fragmentada, com subpopulações isoladas que não se deslocam entre ambientes alterados, o que impede o fluxo gênico e compromete a viabilidade das populações.

As principais ameaças incluem: desmatamento por atividades agropecuárias; exploração madeireira ilegal; fragmentação do habitat; incêndios florestais, como o registrado em 1986 no sul da Bahia e perda de qualidade dos remanescentes florestais.

Estudos apontam que mais de 50% dos fragmentos ocupados são menores do que o necessário para sustentar populações viáveis, e muitos estão separados por grandes distâncias. Isso levou a extinções locais confirmadas, especialmente no Espírito Santo e em partes da Bahia, Alagoas e Pernambuco. A tendência populacional é claramente de declínio.

O tempo geracional da espécie é de 4,2 anos, o que dificulta a recuperação natural das populações. A raridade é refletida também pelo número extremamente baixo de registros em campo e de exemplares em coleções científicas.

O beija-flor rabo-branco-de-margarette é mais do que uma preciosidade ornitológica: é um sinal de alerta sobre o avanço do desmatamento e da degradação ambiental em áreas críticas da Mata Atlântica. A urgência em proteger seus últimos habitats remanescentes deve ser prioridade para impedir sua extinção completa. Investimentos em conservação, criação de unidades de proteção e recuperação de corredores ecológicos são medidas indispensáveis para garantir a sobrevivência dessa espécie ameaçada.

Fontes: WikiAves, G1Globo, Salve.ICMBio, Magazine Darwin Society, Folha de São Paulo, PAN Aves da Mata Atlântica

Fotos: Rabo-branco-de-margarette_Maraú (Bahia)by Ciro Albano e segunda foto: Rabo-branco-de-margarette_Itacaré (Bahia) Susana e Wagner Coppede e terceira foto: Rabo-branco-de-margarette (Phaethornis margarettae camargoi) by Stephen Jones e quarta foto: Rabo-branco-de-margarette (Phaethornis margarettae camargoi) by Cláudio Dias Timm