O caminheiro-dourado (Anthus
nattereri), também conhecido como caminheiro-grande ou petinha-de-peito-ocre,
é uma ave da família Motacillidae. É uma espécie de distribuição restrita e
pouco conhecida, caracterizada por sua dificuldade de observação e registros
esparsos. Sua população tem sofrido declínios significativos devido à
degradação de seus habitats naturais, levando à sua classificação como vulnerável
(VU) pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Características físicas e comportamentais
O caminheiro-dourado apresenta
uma plumagem dorsal fortemente estriada de preto e amarelo, enquanto o ventre é
esbranquiçado. Destacam-se o bico, o tarso e os dedos longos, bem como a unha
do hálux (dedo I), que pode atingir até 15 mm de comprimento. Como outras
espécies do gênero Anthus, essa ave exibe um comportamento vocal
marcante, emitindo cantos complexos enquanto realiza voos verticais, subindo a
cerca de 25 metros de altura antes de se deixar cair rapidamente, acompanhando
o movimento com uma série de notas nasais.
Hábitat e distribuição geográfica
O caminheiro-dourado habita
campos pedregosos, campos secos e pastagens, com registros de ocorrência
próximos ao reservatório de Furnas (Alfenas), Monte Belo e Poços de Caldas. A
espécie ocorre em pastagens naturais e campos de gramíneas subtropicais ou
tropicais de baixa altitude, podendo ocupar também áreas com vegetação mais
rala e gramíneas com altura inferior a 15 cm. Foi registrada ocasionalmente em
plantações jovens de eucalipto durante o período reprodutivo e aparenta ter
preferência por áreas recentemente queimadas em processo de regeneração.
Sua distribuição geográfica abrange
o Paraguai, Argentina, Uruguai e regiões Sudeste e Sul do Brasil, nos estados
de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No entanto, no
estado de São Paulo, a espécie foi considerada extinta devido à destruição de
seu habitat natural. No Brasil, está presente nos biomas Cerrado, Mata
Atlântica e Pampa, incluindo várias sub-bacias hidrográficas como as do Rio
Uruguai, Paranapanema e São Francisco Alto.
População e comportamento
Os deslocamentos do caminheiro-dourado
não são bem conhecidos. Essa ave vive geralmente solitária ou em pares e passa
despercebida durante a maior parte do ano, sendo mais facilmente encontrada no
período de marcação territorial. Alimenta-se de pequenos invertebrados e seus
ninhos podem ser parasitados pelo chupim (Molothrus bonariensis).
As populações do caminheiro-dourado
são esparsas e distribuídas de forma descontínua. No Brasil, tem sido
registrado um declínio populacional acentuado, particularmente devido à
fragmentação severa da população em Minas Gerais. Estudos indicam que sua
população global pode diminuir de 30% a 49% em dez anos, devido à degradação do
habitat.
Ameaças à espécie
A principal ameaça ao caminheiro-dourado
é a perda de habitat, resultante da conversão de pastagens naturais em
áreas de monocultura (soja, cana-de-açúcar e arroz), plantações de eucalipto e
pastagens exóticas para gado. A espécie não tolera gramíneas exóticas e
seu habitat tem sido severamente impactado pela expansão da silvicultura
e pecuária.
No Brasil, os Campos de Cima da
Serra e o litoral do Rio Grande do Sul, estão sendo progressivamente ocupados
por plantações de pinheiros (Pinus). e soja. Em Minas Gerais, o cultivo
de eucalipto já cobre mais de 30% das áreas antes dominadas por campos nativos,
o que tem reduzido consideravelmente as populações da espécie. No Paraguai,
Argentina e Uruguai, a conversão de campos naturais para a agricultura e
pastagens também tem causado declínios populacionais expressivos.
Modelos de perda de habitat indicam
que entre 2015 e 2025 a espécie pode perder 28% de seu habitat adequado, com
tendência a um declínio exponencial. Na Argentina, estima-se uma taxa de
declínio de 50-79% em dez anos, e no Uruguai a espécie é considerada ameaçada.
No Paraguai, a falta de dados dificulta uma avaliação precisa, mas a degradação
da cobertura vegetal sugere um cenário semelhante.
O caminheiro-dourado é uma espécie
de difícil identificação e pouco estudada, mas sua população está claramente
ameaçada devido à degradação do habitat. A expansão da agricultura, silvicultura
e urbanização tem reduzido drasticamente suas populações, tornando
necessárias medidas urgentes para sua conservação. Ações como a criação de
áreas protegidas, regulação do uso do solo e monitoramento populacional são
essenciais para evitar o desaparecimento da espécie.
Fontes: WikiAves, DataZone, Aves Catarinenses, Fauna Paraguay, G1Globo, Ambiente Brasil, BDTD, Ebird, Journal of Natural History, Salve ICMBio
Fotos: Caminheiro-dourado_by Luiz Fernando Matos e segunda foto: by Luciano Bernardes