O macaco-da-noite-andino (Aotus miconax), também conhecido como macaco-da-noite-peruano, é uma espécie rara e endêmica do norte do Peru, especialmente nas regiões montanhosas dos Andes. Ele é um dos primatas menos estudados das Américas, os únicos dados da espécie provêm de poucos animais de museus, e enfrenta um risco significativo de extinção devido à perda de habitat e pressões humanas
Características físicas e adaptações
O Aotus miconax apresenta um
peso médio de 1 kg e mede até 50 cm de comprimento. Seu corpo é
majoritariamente cinza ou marrom claro, com manchas pretas e brancas ao redor
da face e uma área laranja marcante no peito e nos membros anteriores. Seus
grandes olhos, uma adaptação evolutiva ao estilo de vida noturno, permitem
enxergar bem na escuridão da floresta, ajudando-o a evitar predadores. O nome
“Aotus”, que significa “sem orelhas”, deve-se ao fato de que suas pequenas
orelhas são quase imperceptíveis, escondidas pelo denso pelo ao redor da
cabeça.
Distribuição geográfica e habitat
Os macacos-da-noite-andinos
são encontrados exclusivamente nas florestas úmidas das montanhas do Peru, nas
regiões de Amazonas, Huanuco e San Martin, em altitudes entre 900 e 2.800
metros. Eles habitam florestas densas e nubladas, e em alguns casos conseguem
sobreviver em áreas perturbadas, como plantações de café. São conhecidos por
ocupar tanto florestas primárias quanto secundárias, além de pequenos
fragmentos florestais em altitudes elevadas. Essa espécie também mostra
flexibilidade ecológica, sendo capaz de sobreviver em pequenos fragmentos
florestais, embora não prospere em ambientes altamente degradados.
Comportamento e estilo de vida
O macaco-da-noite-andino é
uma espécie noturna e arborícola, com um padrão de atividade característico:
começa a se movimentar ao entardecer, tem um pico de atividade no início da
noite, descansa por volta da meia-noite e se retira para dormir pouco antes do
amanhecer. Observações indicam que eles gastam cerca de 54% do tempo noturno
viajando, 13% descansando e 33% se alimentando. Essa elevada porcentagem de
tempo em movimento pode ser uma resposta à degradação do habitat, exigindo que
percorram maiores distâncias para encontrar alimentos. Durante o dia, repousam
em cavidades de árvores ou em amontoados de folhas e cipós no dossel superior.
Dieta e dinâmica social
Os macacos-da-noite-andinos
são, em grande parte, frugívoros, com cerca de 42% de sua dieta composta por
frutas, especialmente figos. Além disso, brotos de folhas, flores e pequenos
insetos também fazem parte de sua alimentação. A espécie é monogâmica e vive em
pequenos grupos familiares de até seis indivíduos, geralmente formados por um
par adulto e seus filhotes. Embora não se saiba se a monogamia é exclusivamente
reprodutiva, os grupos familiares compartilham o mesmo território e demonstram
fortes vínculos sociais. Durante o acasalamento, machos e fêmeas utilizam
vocalizações específicas e o macho assume a responsabilidade principal pelos
cuidados com os filhotes após o desmame.
Estado de conservação e ameaças
A IUCN classifica o
macaco-da-noite-andino como “em perigo” devido à drástica perda de habitat,
estimada em cerca de 50% de sua extensão original. O desmatamento no Peru,
impulsionado pela expansão de atividades agrícolas, para a monocultura de óleo
de palma e soja, mineração e criação de gado, é a principal ameaça à
sobrevivência dessa espécie. Antes da década de 1970, as florestas montanhosas
dos Andes eram quase inacessíveis, mas a construção de rodovias abriu caminho
para a imigração e para atividades de exploração de recursos. A coleta para o
comércio de animais de estimação e a caça ilegal também representam ameaças
consideráveis, especialmente para os jovens, que são capturados e vendidos como
animais de estimação.
Esforços de conservação
Diversas iniciativas de conservação
foram implementadas para proteger o Aotus miconax. A espécie está
listada no Apêndice II da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies
Ameaçadas de Extinção (CITES) e é considerada ameaçada pela legislação peruana.
Além disso, algumas áreas protegidas, como o Parque Nacional Abiseo e a Floresta
de Proteção Alto Mayo, abrigam populações remanescentes. Pesquisadores
recomendam a promoção da conectividade entre fragmentos florestais para
assegurar o fluxo genético, essencial para a manutenção da variabilidade
genética e para a redução dos riscos de endogamia.
O macaco-da-noite-andino é uma
espécie de grande valor biológico e ecológico, cujo risco de extinção exige
esforços significativos e contínuos de conservação. A proteção de seu habitat e
a mitigação das pressões antrópicas são fundamentais para garantir sua
sobrevivência a longo prazo. A conscientização pública e a criação de políticas
de conservação efetivas são essenciais para preservar essa e outras espécies
vulneráveis das florestas neotropicais.
Fontes: New England Primate Conservancy, Animalia, Inaturalist, Biodiversity4all, Primate Conservation, Journal of Threatened Taxa, International Society of Tropical
Foresters, Palm Oil Detectives
Fotos: Macaco-da-noite-peruano_by Fanny M. Cornejo e segunda foto: Macaco-da-noite-peruano_This is My Earth_NPC