A pomba-rosada: um caso de sucesso na recuperação de espécie à beira da extinção



 


A pomba-rosada (Nesoenas mayeri), endêmica da Ilha Maurício, pertence à família Columbidae e é o único pombo das Ilhas Mascarenhas que sobreviveu à extinção. Em seu ponto mais crítico, em 1991, a população foi reduzida a apenas 10 indivíduos. Desde então, extensos programas de conservação têm sido fundamentais para a recuperação da espécie. Hoje, apesar de seu status de vulnerável, há uma população viável que continua a crescer devido a iniciativas de manejo intensivo e conservação.

Características e habitat

A pomba-rosada mede cerca de 32 centímetros e pesa em torno de 350 gramas. Sua plumagem apresenta um tom rosa pálido na cabeça, ombros e abdômen, com pés e bico rosados, enquanto a parte traseira e a cauda possuem coloração acastanhada. Ela vive principalmente na região sul de Maurício e na Île aux Aigrettes, na costa leste da ilha. Em termos de habitat, a espécie prefere florestas nativas e se alimenta de uma dieta variada composta por folhas, frutas, flores e sementes de plantas locais e exóticas.

Ameaças à sobrevivência

A redução drástica do habitat original, que hoje representa apenas 2% das florestas nativas da Maurício, foi um dos principais fatores que contribuíram para a diminuição da população de pombas-rosada. Além disso, predadores introduzidos, como o macaco-caranguejeiro (Macaca fascicularis), mangustos (Herpestes auropunctatus), ratos e gatos selvagens, ameaçam a espécie ao predar ninhos e adultos. Outra ameaça significativa são as tempestades tropicais frequentes, que causam grande destruição nos ninhos e aceleram a degradação do habitat. Plantas invasoras, como a goiaba chinesa, têm invadido áreas nativas e limitado os recursos de alimentação e nidificação da espécie, ao passo que doenças introduzidas, como a tricomonose, complicam ainda mais o cenário de preservação.

Início dos esforços de conservação

Os esforços para salvar a pombo-rosada da extinção começaram a ganhar força na década de 1970, quando a espécie foi reconhecida como criticamente ameaçada, com uma população estimada em menos de 20 indivíduos. Em 1977, a Durrell Wildlife Conservation Trust deu início a um programa de reprodução em cativeiro, que se tornou uma estratégia essencial para preservar a espécie e reverter seu declínio. Esse programa foi complementado em 1980 com colaborações internacionais, incluindo zoológicos e instituições como o Wildlife Preservation Trust do Canadá, que ajudaram a estabelecer colônias de pombos-rosada em cativeiro em outros países, como Jersey, no Reino Unido, e Walsrode, na Alemanha. Em 1984, os primeiros indivíduos foram reintroduzidos na natureza, e as subpopulações foram monitoradas e geridas de perto para garantir sua sobrevivência.

A reprodução em cativeiro trouxe resultados promissores; com uma série de adaptações, as condições ideais foram reproduzidas, permitindo a criação de novas gerações de pombas-rosada. Em paralelo, essas aves começaram a ser libertadas na natureza com suporte adicional, como alimentação suplementar e o estabelecimento de Áreas de Manejo de Conservação. No entanto, a população em 1991 estava estimada em não mais do que 10 indivíduos. Em 1992, a criação de um Programa Europeu de Espécies Ameaçadas (EEP) trouxe mais robustez ao manejo da espécie, promovendo uma diversidade genética mais ampla. Esses esforços colaborativos resultaram em um aumento gradual da população e, em 2002, o número de indivíduos selvagens chegou a aproximadamente 350.

Ações de conservação em andamento

Atualmente, os esforços de conservação continuam intensos, com estratégias que incluem a criação de Áreas de Manejo de Conservação, restauração do habitat, controle de predadores exóticos, alimentação suplementar, monitoramento e proteção dos ninhos e manejo genético. A Mauritian Wildlife Foundation coordena a maior parte do trabalho de manejo intensivo, incluindo a transferência de aves entre subpopulações para maximizar a diversidade genética e combater a depressão por endogamia. Em 2019, por exemplo, três aves foram repatriadas de Jersey, Reino Unido, para reforçar a diversidade genética da população local.

Expansão das subpopulações e aumento da área de distribuição

Para aumentar as chances de sobrevivência a longo prazo, foram estabelecidas subpopulações em diferentes áreas de Maurício. Em 2016 e 2017, um grupo de 30 pombas-rosada foi liberada no Vale de Ferney, e, de 2018 a 2019, mais 50 aves foram soltas na Floresta de Ébano. Estas iniciativas expandiram a área de distribuição da espécie e aumentaram a população total para um número próximo ao mínimo viável, estimado em 600 indivíduos. Além disso, áreas como o Parque Nacional Black River Gorges e Île aux Aigrettes foram cercadas para proteção contra predadores e continuam sendo locais de refúgio e reprodução.

O papel da genética na conservação

O manejo genético tornou-se um aspecto central nos esforços de conservação da pomba-rosada. Um estudo identificou que as aves mantidas em cativeiro na Europa e nos Estados Unidos possuem genes ausentes ou sub-representados na população selvagem em Maurício, genes que, se reintroduzidos, poderiam fortalecer a resiliência da espécie. Como resposta, foi criada uma população cativa em Jersey, Reino Unido, para fornecer indivíduos geneticamente variados para reintrodução em Maurício, promovendo a viabilidade genética da espécie.

Parcerias e sucesso do Programa de Conservação

O sucesso da recuperação da pomba-rosada é fruto de um esforço conjunto de várias organizações, incluindo a Durrell Wildlife Conservation Trust, a Mauritian Wildlife Foundation, o Wildlife Preservation Trust do Canadá e diversos zoológicos ao redor do mundo. Estas instituições contribuíram significativamente para os avanços na reprodução em cativeiro e manejo de populações, garantindo que a espécie não só evitasse a extinção, mas também alcançasse uma população relativamente estável. O apoio técnico e o conhecimento compartilhado por zoológicos e especialistas têm sido cruciais para o desenvolvimento de métodos de manejo eficazes.

Desafios futuros e perspectivas

Apesar dos sucessos, a conservação da pomba-rosada ainda enfrenta desafios, como o combate a plantas invasoras, a necessidade de manejo contínuo dos predadores e o impacto de doenças. O programa de reabilitação da vegetação nativa e a expansão de áreas protegidas estão entre as prioridades para garantir a sustentabilidade da população a longo prazo. Além disso, há planos para futuras reintroduções em outras ilhotas da Maurício, desde que se alcance um controle adequado de predadores e uma restauração efetiva do ecossistema.

A conservação da pomba-rosada é um exemplo notável de como esforços dedicados podem evitar a extinção de espécies em risco. Embora o manejo intensivo ainda seja necessário, o progresso alcançado ao longo das últimas décadas é uma prova da eficácia de ações de conservação integradas e da importância de colaborações internacionais. A pomba-rosada, que já esteve à beira da extinção, é hoje um símbolo de esperança para a biodiversidade da Maurício e uma inspiração para futuras iniciativas de preservação.

Fontes: Birdlife International, Eol, Gbif, Mindat.org, Journal of Zoo and Wildlife Medicine, Conservation Evidence, Wild Planet Trust, Mauritian Wildlife Foundation

Fotos: Pomba rosada das ilhas Mauricio_by Naukalib e segunda foto: de Clément Appadoo