Guigó da Mata Atlântica Central: um primata vulnerável em um habitat fragmentado


 O guigó (Callicebus melanochir), também conhecido por diversos nomes regionais como japuçá, uapuçá e sauá, é uma espécie de primata pertencente à família Pitheciidae e subfamília Callicebinae. Endêmico da Mata Atlântica no Brasil, sua distribuição geográfica está limitada ao sul da Bahia e norte do Espírito Santo, nas florestas costeiras situadas ao norte do rio Mucuri e ao sul do rio Paraguaçu. A espécie não é encontrada nas florestas secas do interior desses estados. Caracteriza-se por uma coloração predominantemente cinzenta ou marrom, com a face negra, ainda que os limites dessa coloração sejam menos definidos em comparação a outras espécies do gênero Callicebus, como o guigó-mascarado.

Características físicas da espécie

Os guigós da Mata Atlântica costeira são primatas de pequeno porte, com pelagem densa e fofa, uma cauda longa e espessa, e uma cabeça pequena e arredondada. O comprimento total do corpo, incluindo a cabeça, pode ultrapassar 40 centímetros, e o peso desses primatas pode chegar a 1,6 kg. A pelagem varia entre tons de cinza e marrom-acinzentado, enquanto a cabeça e as patas apresentam uma coloração preta. A cauda, que é da mesma cor do corpo, embora longa e espessa, não tem função preênsil, característica comum entre os macacos saltadores.

Ecologia e comportamento

O guigó é uma espécie arbórea que vive em pequenos grupos familiares compostos por um casal monogâmico e seus descendentes. Os territórios ocupados por esses grupos têm áreas de aproximadamente 22 a 24 hectares, os quais são marcados e defendidos agressivamente, quando necessário. A alimentação da espécie é predominantemente frugívora, complementada por sementes e folhas. Os pais desempenham um papel ativo na criação dos filhotes, com o macho sendo responsável por carregar a prole, deixando para a mãe a função de amamentar.

Ameaças à espécie

A espécie está classificada como "Vulnerável" na Lista Vermelha da IUCN devido à intensa perda e fragmentação de habitat resultante de atividades humanas, como agricultura, pecuária e expansão urbana. O impacto dessas atividades causou uma redução populacional estimada em 30% ao longo das últimas três gerações (aproximadamente 24 anos), sendo provável que essa redução continue no futuro. Além disso, a expansão da monocultura de eucalipto e a pressão pela demarcação de novas Terras Indígenas nas áreas de ocorrência da espécie também representam ameaças. A caça ao guigó, embora seja menos intensa que a de outros primatas devido ao seu pequeno porte, ainda exerce algum nível de pressão sobre suas populações.

Presença em áreas protegidas

Apesar das ameaças, o guigó ainda pode ser encontrado em algumas áreas protegidas. Estima-se que existam cerca de 65 unidades de conservação (UCs) ao longo de sua área de distribuição, a maioria delas sendo Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). Na Bahia, a espécie foi confirmada em locais como a Reserva Biológica (REBIO) Una, o Parque Nacional (PARNA) Pau Brasil e o PARNA Histórico do Monte Pascoal. No Espírito Santo, sua presença foi registrada nas REBIOs Córrego Grande e Córrego do Veado, além da Floresta Nacional (FLONA) do Rio Preto.


Ações de conservação

As principais ações de conservação recomendadas para a preservação do guigó incluem a criação de novas unidades de conservação que assegurem a diversidade genética da espécie e a recuperação de áreas degradadas para minimizar a perda de qualidade do habitat. Em 2010, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) incluiu o guigó no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Mamíferos da Mata Atlântica Central (PAN MAMAC), destacando a necessidade de medidas específicas voltadas para a proteção dessa e de outras espécies ameaçadas.

O guigó enfrenta uma série de desafios, principalmente relacionados à perda de habitat, que ameaçam sua sobrevivência a longo prazo. Embora presente em áreas protegidas, o futuro da espécie depende de ações coordenadas de conservação e da implementação de políticas que reduzam o impacto da atividade humana em seu habitat.

Fontes: Portal Gov.Br, ICMBio, Animalia.bio, IUCN Red List, Oryx, Bio Explorer

Fotos: Guigó_Callicebus_melanochir_by Jacek Kisielewski