O pangolim-gigante (Smutsia gigantea), também conhecido como pangolim-gigante-terrestre, é uma das espécies mais enigmáticas e menos estudadas do reino animal. Este mamífero solitário, noturno e coberto por escamas protetoras, está entre os maiores de sua ordem e habita principalmente as florestas tropicais e savanas da África Ocidental e Central. Nos últimos anos, essa espécie tem despertado um interesse crescente, tanto devido ao seu papel único nos ecossistemas quanto pela ameaça iminente de extinção que enfrenta, impulsionada principalmente pelo tráfico ilegal e pela destruição de seu habitat natural.
Aparência e características físicas
O pangolim-gigante é
facilmente reconhecido por seu corpo coberto por escamas marrons ou
marrom-avermelhadas, que se sobrepõem como telhas, proporcionando-lhe uma
armadura natural. Um adulto pode pesar até 35 kg e medir cerca de 1,8 metros de
comprimento. Seu focinho longo, garras dianteiras poderosas e cauda grossa sem
almofadas sensoriais são características distintivas que o diferenciam de
outros pangolins africanos menores e arborícolas. A espécie também possui
adaptações únicas, como a ausência de dentes e uma língua extremamente longa e
pegajosa, que pode se estender até 40 cm para capturar formigas e cupins.
Distribuição geográfica e habitat
O pangolim-gigante é
amplamente distribuído ao longo do equador africano, sendo encontrado nos
seguintes países: Camarões; República Centro-Africana; Congo; República
Democrática do Congo; Costa do Marfim; Guiné Equatorial; Gabão; Gana; Guiné;
Guiné-Bissau; Libéria; Nigéria; Ruanda; Senegal; Serra Leoa; Sudão do Sul;
Tanzânia e Uganda. Sua presença é mais freqüente em florestas tropicais,
florestas ribeirinhas e savanas, preferindo habitats úmidos próximos a fontes
de água. Embora também seja encontrado em algumas regiões montanhosas, sua
presença é menos comum em altitudes elevadas. A espécie depende fortemente da
disponibilidade de cupins e formigas, sua principal fonte de alimento, o que
limita sua distribuição a áreas onde esses insetos são abundantes.
Comportamento e ecologia
Os pangolins-gigantes são
animais predominantemente noturnos e solitários, passando o dia escondidos em
tocas ou sob montes de detritos, emergindo à noite para se alimentar. Eles não
cavam suas próprias tocas, mas utilizam abrigos abandonados por outros animais.
Sua dieta é composta exclusivamente de formigas e cupins, que são extraídos de
ninhos e cupinzeiros com a ajuda de suas garras fortes e língua pegajosa.
Durante a alimentação, o pangolim fecha suas narinas, olhos e ouvidos para
evitar ser picado pelos insetos, uma adaptação crucial para sua sobrevivência.
Nesta espécie os machos são maiores, com comprimentos de cerca de 180 cm,
embora exemplares deste tamanha sejam raros, e as fêmeas com cerca de 136,5 cm.
Foram encontrados espécimes pesando 40 kg, embora a média seja de 33 kg.
Defesas contra predadores
naturais
Embora seja um animal relativamente
grande, o pangolim-gigante possui poucas defesas contra predadores naturais.
Sua principal estratégia de defesa é se enrolar em uma bola apertada,
utilizando suas escamas afiadas para se proteger de ataques. Além disso, a
espécie possui glândulas anais que exalam um odor fétido, ajudando a afastar
predadores. Suas escamas não apenas fornecem proteção contra predadores, mas
também servem como uma defesa eficaz contra as picadas de formigas e cupins
durante a alimentação.
Reprodução
Pouco se sabe sobre a biologia
reprodutiva do pangolim-gigante, mas acredita-se que as fêmeas
geralmente dão à luz um único filhote por vez, após um período de gestação de
aproximadamente 139 dias. O filhote permanece com a mãe durante os primeiros
meses de vida, montando em suas costas enquanto ela se desloca e se alimenta. A
maturidade sexual é alcançada entre um e dois anos de idade. Como outros
pangolins, a espécie tem um sistema de acasalamento poligínico, onde um macho
pode se acasalar com várias fêmeas.
Ameaças e conservação
O pangolim-gigante enfrenta graves ameaças devido à caça excessiva e à destruição de seu habitat. Sua carne é altamente valorizada como iguaria em algumas culturas, enquanto suas escamas são utilizadas na medicina tradicional, apesar da ausência de evidências científicas que suportem sua eficácia. O tráfico ilegal tem sido um problema crescente, com grandes quantidades de carne e escamas de pangolim sendo apreendidas em rotas de contrabando para a Ásia. Em consequência, o pangolim-gigante foi classificado como uma espécie "em perigo" pela Lista Vermelha da IUCN, e seu comércio internacional foi proibido pelo Apêndice I da CITES desde 2017.
Redescoberta e importância da conservação
Em 2023, a redescoberta de um pangolim-gigante
no Parque
Nacional Niokolo-Koba, no Senegal, chamou a atenção da comunidade
científica. A espécie não havia sido registrada na região desde 1999, e
acreditava-se que estivesse extinta localmente. Este avistamento destaca a
importância de esforços sistemáticos de monitoramento da biodiversidade e a
necessidade crítica de proteger grandes áreas de conservação na África
Ocidental e Central, onde a espécie ainda sobrevive.
A redescoberta do pangolim-gigante
no Senegal, foi realizada por pesquisadores da ONG Panthera Senegal com
registros feitos através de armadilhas fotográficas. A descrição da
redescoberta foi publicada na revista científica African
Journal of Ecology.
O pangolim-gigante é uma
espécie vital para os ecossistemas africanos, desempenhando um papel essencial
no controle de populações de formigas e cupins. No entanto, sua
sobrevivência está seriamente ameaçada pelas atividades humanas. A proteção
desta espécie requer uma combinação de esforços de conservação, fiscalização
rigorosa contra o tráfico ilegal e educação pública sobre a importância
dos pangolins para a biodiversidade.
Fontes: ND+, African Journal of Ecology, IUCN SSC Pangolin, National Geographic, Animal Spot, World Land Trust, Oryx, African Pangolin Working Group
Fotos: Pangolim-gigante_ by Vicky Chauhan e segunda foto: Pangolim-gigante_by S. Dyson