A vulnerabilidade do Alouatta belzebul: ameaças e medidas de conservação


O guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta belzebul) é um primata endêmico do Brasil, popularmente conhecido como guariba-de-mãos-vermelhas, guariba-preta ou bugio-de-mãos-ruivas, é uma espécie que pode ser encontrada em duas populações geograficamente distintas: uma na Amazônia e outra na Mata Atlântica do nordeste brasileiro.

Distribuição e Habitat

O Alouatta belzebul, conhecido como guariba-de-mãos-ruivas, possui uma distribuição geográfica limitada a duas regiões principais no Brasil. A população amazônica encontra-se nos estados do Pará, Mato Grosso, Amapá e Maranhão. Já a população da Mata Atlântica nordestina habita os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Esta espécie é predominantemente encontrada em formações florestais, com sua distribuição delimitada pelo fim das florestas e o início de formações abertas, como o cerrado. O guariba-de-mãos-ruivas habita desde vegetações de transição, com alta frequência de babaçu, até florestas estacionais semideciduais e ombrófilas.

No Nordeste, as populações do Alouatta belzebul encontram-se em estado crítico. Nesta região, a espécie sobrevive em algumas unidades de conservação, como a Reserva Biológica Guaribas na Paraíba e a Estação Ecológica Murici em Alagoas, além de áreas protegidas particulares em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas. A população total no Nordeste é estimada em cerca de 500 indivíduos distribuídos em onze locais isolados. Destaca-se uma população de 80 indivíduos em Pacatuba, Paraíba, cercada por plantações de cana-de-açúcar. Esforços de reintrodução têm sido feitos na Reserva Biológica de Guaribas, onde foram translocados indivíduos de outras áreas e animais de estimação, nesta reserva a população local estava em doze indivíduos em 2007.

Características Físicas e Comportamentais

Os guaribas-de-mãos-ruivas são primatas de grande porte, apresentando pelagem curta e áspera, predominantemente preta ou marrom-escura, com mãos, pés e a porção final da cauda de cor avermelhada. Possuem uma cauda preênsil, utilizada para locomoção lenta e raramente saltando. Dimorfismo sexual ocorre com machos atingindo de 6,5 a 8 kg e fêmeas entre 4,8 e 6,2 kg. Seus grupos são formados por 5 a 9 indivíduos.

Dieta e Comportamento

A dieta do Alouatta belzebul é predominantemente composta por flores, folhas e frutos verdes ou maduros. Esse regime alimentar contribui para seu comportamento relativamente inativo, passando mais de 70% do tempo descansando. Eles também consomem insetos, sementes, cascas de árvores, raízes, musgo e terra de cupinzeiros.

Estado de Conservação

O guariba-de-mãos-ruivas é classificado como "Vulnerável" pela IUCN devido à significativa diminuição de suas populações nos últimos 30 anos. A população da Mata Atlântica encontra-se em estado crítico, com menos de 500 indivíduos restantes, dos quais menos de 250 são maduros, enquanto a população amazônica é estimada em mais de 10.000 indivíduos maduros. A Amazônia oriental, particularmente no sul do Pará e no norte do Mato Grosso, sofreu um desmatamento devastador nos últimos 20 anos devido à indústria madeireira, mineração, desenvolvimento de infraestruturas e agroindústria, impactando fortemente as florestas e a vida selvagem associada. Esta região que perdeu muita floresta está na região conhecida como arco do desmatamento.  O guariba-de-mãos-ruivas, sendo o maior primata da região, é alvo frequente de caça, mas está protegido em áreas como a Floresta Nacional de Caxinana, a danificada Reserva Biológica do Gurupi, e a Reserva Biológica do Tapirapé, todas localizadas no Pará.

Ameaças

As principais ameaças ao Alouatta belzebul, incluem a perda e fragmentação de habitat, caça, expansão urbana e agrícola, além do aumento da matriz energética. Na Mata Atlântica, a fragmentação e isolamento das populações são especialmente críticos, enquanto na Amazônia, a espécie enfrenta desmatamento ilegal, instalação de usinas hidrelétricas e pavimentação de rodovias. Segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), a espécie é classificada como "Vulnerável" devido à redução significativa de suas populações nos últimos 30 anos. A população na Floresta Atlântica é particularmente afetada pela perda de habitat, fragmentação e isolamento, e também pela caça. Já as populações amazônicas enfrentam uma maior pressão de caça e são significativamente impactadas pela perda de habitat causada por desmatamentos ilegais, instalação de usinas hidrelétricas, pavimentação de rodovias, pecuária e assentamentos agrários. No "Arco de Desmatamento" região de alta destruição de florestas, no estado do Pará, a espécie está gravemente ameaçada. A redução de habitat devido ao avanço dos espaços urbanos e agropecuários é uma das principais causas da vulnerabilidade do guariba-de-mãos-ruivas. Ações antrópicas, como desmatamento para expansão urbana e agrícola, construção de barragens e aumento da matriz energética, representam graves ameaças à sobrevivência da espécie.

Conservação e Manejo

A conservação e manejo do guariba-de-mãos-ruivas, envolvem esforços significativos tanto in situ quanto ex situ. Na Mata Atlântica, populações remanescentes são protegidas em áreas como a Reserva Biológica Guaribas na Paraíba e a Estação Ecológica Murici em Alagoas. Na Amazônia, a espécie é encontrada na Floresta Nacional de Caxinana e na Reserva Biológica do Tapirapé entre outras áreas protegidas. O Zoológico do Parque Dois Irmãos, em Pernambuco, desempenha um importante papel no manejo ex situ, sendo a instituição de referência para o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas do Nordeste (PAN PRINE). Este zoológico mantém uma população sob cuidados humanos com o objetivo de reintroduzir e reforçar populações em seu habitat natural, tanto em Pernambuco quanto em outras áreas da Mata Atlântica nordestina, onde a expectativa é aumentar a população do guariba-de-mãos-ruivas.

O guariba-de-mãos-ruivas enfrenta diversas ameaças que têm levado à redução de suas populações, especialmente na Mata Atlântica. Esforços de conservação, tanto in situ quanto ex situ, são cruciais para garantir a sobrevivência desta espécie vulnerável. A preservação de seus habitats naturais e a implementação de estratégias eficazes de manejo populacional são fundamentais para a conservação do Alouatta belzebul.

Fontes: SEMAS/PE, Diário de Pernambuco,Gov.BR, Biodiversity4all, Ambiente Brasil, Fapesp, O Eco, UFS, Plazi.org, Labecoap, IBAMA, Museu do Cerrado, Attena/UFPE, Animalia.bio, Correio Braziliense 

Fotos: Guariba-de-mãos-ruivas_by Wanieulli Pascoal e segunda foto: Guariba de mãos ruivas_by Francisco V.Souza