A singularidade e conservação da rãzinha-da-correnteza na Serra do Japi


 A Serra do Japi se destaca como um dos últimos grandes refúgios da Mata Atlântica no Brasil, situada em uma área intensamente ocupada. Este território, abrangendo mais de 350 km² e reconhecido pela Unesco como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, abriga uma diversidade floral e faunística notável, mesmo estando próxima a regiões altamente urbanizadas. Uma das espécies mais notáveis identificadas na Serra do Japi é a rãzinha-da-correnteza (Hylodes japi), uma rã exclusiva desse habitat.

Sua descoberta foi descrita em janeiro de 2016, na publicação Plos ONE, por um artigo de cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) detalhando a rãzinha-da-correnteza. Esta espécie, nativa e restrita às elevações superiores a 800 metros na Serra do Japi, em Jundiaí, São Paulo, apresenta um complexo sistema de comunicação. Este sistema não só abrange vocalizações e interações táteis entre os sexos, mas também inclui uma variedade de sinais visuais inéditos em anfíbios.

Caracterização da rãzinha-da-correnteza da Serra do Japi

Esse anfíbio endêmico da Serra do Japi é conhecido por suas peculiaridades físicas e comportamentais. Este anfíbio diurno, que prefere as correntezas limpas e frescas das nascentes da serra, possui uma superfície dorsal relativamente lisa, manchas escuras de formas variáveis entre os olhos, e um ventre de cor clara. Além de suas características físicas, o que realmente distingue a Hylodes japi é seu complexo sistema de comunicação, que inclui vocalizações, sinais visuais como movimentos de cabeça, e até carícias entre machos e fêmeas.

Comportamento Reprodutivo e Comunicação

Um aspecto fascinante da rãzinha-da-correnteza é seu comportamento reprodutivo. Os machos iniciam o processo de cortejo através de vocalizações e exibições visuais para atrair as fêmeas. Uma vez que uma fêmea é atraída, o macho a conduz a uma câmara subaquática que ele escava no leito do riacho. Esse ninho submerso, usado para a fertilização e deposição dos ovos, exemplifica o comportamento complexo e adaptativo da espécie para a reprodução em seu ambiente aquático. Adicionalmente, esses anfíbios demonstram um repertório de comunicação visual notavelmente sofisticado, incluindo gestos e posturas, que é essencial tanto para o acasalamento quanto para a defesa do território.


Desafios para a Conservação

O habitat da Hylodes japi está sob constante ameaça devido à proximidade de áreas intensamente urbanizadas, apesar de sua localização em um parque estadual. A conservação desta espécie única passa pelo entendimento aprofundado de sua biologia, comportamento e ecologia, permitindo a implementação de estratégias de manejo eficazes. O estudo detalhado da rãzinha-da-correnteza, portanto, não só contribui para a conservação desta espécie específica, mas também oferece percepções valiosas sobre a evolução dos sistemas de comunicação animal.

A rãzinha-da-correnteza representa um caso notável de adaptação e especialização evolutiva, ressaltando a importância da Serra do Japi como um reservatório de biodiversidade. A preservação desse anfíbio e de seu habitat é crucial, não apenas para a conservação da espécie em si mas também para a manutenção da integridade ecológica da Mata Atlântica remanescente.

Fontes: Revista Pesquisa Fapesp, Amphibia Web, Agencia Fapesp , Folha de São Paulo, Estadão, Prefeitura de Jundiaí, IBICT, Fundação Serra do Japi, CRBIO 08, Terra, G1Globo, O Eco

Foto: Rãzinha-da-correnteza_Fábio Perin de Sá e segunda foto: Rãzinha-da-correnteza_divulgação Unesp