Entre dunas e túneis: a difícil conservação do tuco-tuco-das-dunas no Rio Grande do Sul


 O tuco-tuco-das-dunas (Ctenomys flamarioni) é um mamífero intrigante e peculiar, pertencente à família Ctenomyidae, com características e desafios de conservação únicos. Esta espécie endêmica do Rio Grande do Sul, Brasil, habita exclusivamente as dunas costeiras do estado, desde o Chuí até a praia de Arroio Teixeira. Atualmente, enfrenta uma séria ameaça de extinção, categorizada como "em perigo" (EN) pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), principalmente devido à perda e alteração do seu hábitat natural.

No litoral gaúcho há duas espécies de tuco-tuco: uma que vive nas dunas de praias e outro nas dunas das lagoas

No litoral gaúcho, há duas espécies: tuco-tucos-das-dunas (Ctenomys flamarioni), que prefere as dunas perto da praia, e o tuco-tuco (Ctenomys minutus), que tem preferência pelas dunas próximas às lagoas e o seu habitat se estende até Santa Catarina.

O tuco-tuco-das-dunas tem o corpo robusto e cilíndrico adequando para viver em túneis

Morfologicamente, o tuco-tuco-das-dunas se destaca por seu corpo robusto e cilíndrico, com pelagem cor de areia, pernas curtas, caudas peludas, e uma cabeça grande com orelhas pequenas. Esta coloração e estrutura física estão diretamente relacionadas ao ambiente de dunas costeiras que habitam, que apresentam solo mais frouxo e arejado. Os tuco-tucos possuem longas patas dianteiras adaptadas para escavar túneis, com as traseiras sendo usadas para compactar a terra. Sua pele um pouco solta facilita o deslocamento dentro dos túneis que criam, um comportamento que os assemelha a marmotas do hemisfério Norte, embora sejam parentes mais próximos de roedores sul-americanos como capivaras e preás.

Espécie passa 90% de sua vida embaixo da terra, em túneis subterrâneos

O tuco-tuco-das-dunas é um animal solitário e subterrâneo, passando cerca de 90% de sua vida em galerias subterrâneas. Esses túneis, que podem atingir 15 metros de comprimento e 30 centímetros de profundidade, são cruciais para sua sobrevivência, pois nascem, crescem, alimentam-se e reproduzem-se dentro deles. Sua dieta é composta principalmente de folhas, talos e raízes de plantas encontradas nas proximidades de suas tocas. A espécie exibe dimorfismo sexual, com machos maiores e mais pesados, enquanto as fêmeas são mais numerosas. Os machos são conhecidos por produzirem um som característico, o "tuco-tuco", especialmente quando se sentem ameaçados.

Ameaças ao tuco-tuco-das-dunas são predominantemente antrópicas

As principais ameaças à sobrevivência do tuco-tuco-das-dunas incluem a remoção da primeira linha de dunas para urbanização e especulação imobiliária, alterações causadas pelo pisoteio humano e animais domésticos, como cães e gatos, e a retirada de areia das praias. Essas atividades humanas têm provocado uma descaracterização significativa do ambiente natural desses roedores.

Projeto de conservação do tuco-tuco-das-dunas está em andamento

Esforços para a conservação do tuco-tuco-das-dunas estão em andamento, com iniciativas como o Projeto Tuco-Tuco da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que é um projeto de pesquisa, divulgação científica e ciência cidadã que tem como objetivo monitorar e identificas novas áreas de ocorrência de tuco-tucos.  É um projeto que busca conscientizar frequentadores das praias sobre a presença destes animais, principalmente em áreas onde habitam, através da sinalização e da colaboração da Secretaria do Meio Ambiente do município de Imbé.

O tuco-tuco-das-dunas é uma espécie fundamental para o ecossistema das dunas costeiras do Rio Grande do Sul, e sua preservação é essencial não apenas para a manutenção da biodiversidade local, mas também como parte do patrimônio natural do país.

Fontes: GZH, O ECO, G1Globo, UFRGS, UOL, Saense, Projeto Tuco Tuco, EcoRegistros

Foto: Tuco-tuco-das-dunas_by Tatiane Noviski Fornel segunda foto: Tuco-tuco-das-dunas_Jefferson Botega