Tamanduá-Bandeira: vulnerabilidade e conservação de um gigante solitário


O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) é uma espécie de mamífero xenartro, pertencente à família dos mirmecofagídeos. Encontrado tanto na América Central quanto na América do Sul, é reconhecido por seu tamanho e aparência distintos. A espécie, a maior das quatro de tamanduás, apresenta uma longa cauda, um peso médio de 31,5 kg e um comprimento total de até dois metros, incluindo a cauda. Caracteriza-se por uma faixa diagonal preta com bordas brancas em uma pelagem acinzentada, um focinho estreito e comprido, e uma língua longa especializada na alimentação de cupins e formigas.

Um gigante solitário e bom nadador

A espécie possui hábitos solitários, sendo mais ativa durante os períodos mais amenos do dia. Eles se alimentam principalmente de formigas e cupins, desempenhando um papel ecológico crucial no controle populacional desses insetos. Os tamanduás-bandeira são também nadadores habilidosos e usam sua cauda para camuflagem e proteção térmica.

Sua vulnerabilidade geral é caracterizada por várias extinções locais

Infelizmente, o tamanduá-bandeira enfrenta sérios riscos de extinção. Classificado como "vulnerável" pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), a espécie sofreu extinções locais em países como Uruguai, Belize, Guatemala e Costa Rica. No Brasil, sua situação varia entre os estados, sendo considerada "em perigo" em São Paulo, "criticamente em perigo" no Rio Grande do Sul e Paraná, e possivelmente extinta em Santa Catarina, Rio de Janeiro e Espírito Santo. As populações do Pantanal e da Amazônia são relativamente estáveis, mas enfrentam desafios significativos em outros biomas.

Múltiplas ameaças complicam a sobrevivência do tamanduá-bandeira

O tamanduá-bandeira enfrenta múltiplas ameaças à sua sobrevivência, com a perda e fragmentação de habitats devido ao desmatamento sendo um dos principais perigos, especialmente na América Central. A espécie, que se beneficia de ambientes abertos para alimentação, torna-se vulnerável a incêndios, frequentes em áreas como o Pantanal brasileiro. A expansão urbana e a presença em vias públicas também aumentam os riscos de atropelamentos e ataques de cães. Além disso, o tamanduá-bandeira é ocasionalmente caçado para alimentação, comércio ilegal, e até por superstições. A contaminação por agrotóxicos, como o encontrado nas plantações de soja e milho, e doenças transmitidas por animais domésticos adicionam outras ameaças, contribuindo para o declínio preocupante de suas populações.


Atropelamentos constituem uma das ameaças mais significativas à espécie

Os atropelamentos emergem como uma ameaça crítica ao tamanduá-bandeira, particularmente nos estados brasileiros do Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Entre 2017 e 2020, o projeto Bandeiras e Rodovias do ICAS registrou 761 carcaças de tamanduás em apenas 14% das rodovias asfaltadas do Mato Grosso do Sul, sugerindo que o número real é significativamente maior. Esta alta taxa de mortalidade por atropelamento está afetando negativamente a taxa de crescimento populacional da espécie, com estimativas indicando uma redução de 50% nessa taxa, especialmente no Triângulo Mineiro, uma região em expansão agroindustrial. Esses atropelamentos representam, portanto, uma séria ameaça para a sobrevivência do tamanduá-bandeira.

Diversos esforços estão sendo realizados para impedir o declínio da população da espécie

Projetos como o "Bandeiras e Rodovias" do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) e o "TamanduASAS" têm se dedicado à conservação da espécie, focando em aspectos como monitoramento de rodovias, reabilitação e reintrodução de indivíduos na natureza. O Instituto Tamanduá foca na reabilitação de tamanduás e outras espécies afetadas por incêndios no Pantanal, com o projeto "Órfãos do Fogo" e colaborações para mapeamento da fauna no Maranhão. Já o Instituto de Defesa da Fauna (IDF) concentra-se na reintrodução de tamanduás-bandeira nascidos em cativeiro na natureza, atuando em São Paulo.

Apesar desses esforços contínuos, as populações de tamanduá-bandeira continuam a diminuir, evidenciando a necessidade urgente de medidas de conservação mais eficazes e abrangentes. A preservação dessa espécie icônica é crucial não só para a biodiversidade, mas também para o equilíbrio ecológico dos habitats que ocupa.

Fontes: Instituto Tamanduá, Ciências Naturais, Xenarthrans, G1Globo, BBC, Animalia.bio, Loro Parque, Nova Mata, Bio Web, Campo Grande News 

Fotos: Tamanduá-Bandeira_by Dave Pape e segunda foto: Tamandua bandeira com filhote_by João Marcos Rosa