Conservação e ecologia do ouriço-preto: desafios e estratégias para sua sobrevivência na Mata Atlântica Central


 O ouriço-preto ou luís-cacheiro-preto (Chaetomys subspinosus), um roedor noturno e solitário da família Erethizontidae, é uma espécie única e fundamental no ecossistema da Mata Atlântica. Apesar de ter "preto" no nome, esse mamífero possui uma coloração marrom-acinzentada, pesando cerca de 1,6 kg, com focinho proeminente, espinhos curtos e cauda sem espinhos.

Ouriço-preto é endêmico da porção central da Mata Atlântica

Este animal é endêmico da Mata Atlântica Central, abrangendo desde o extremo norte do Rio de Janeiro até o sul de Sergipe, incluindo os estados do Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais. A descoberta recente de uma população em Minas Gerais, publicada na revista Check List em janeiro de 2022, ampliou significativamente a distribuição conhecida da espécie, em aproximadamente 220 km a sudoeste, indicando sua presença em um espectro mais amplo de habitats.

Espécie é essencialmente folívora, preferindo folhas mais jovens

O ouriço-preto é estritamente arborícola, passando a maior parte do tempo em cima de árvores e lianas. Sua dieta é composta em mais de 90% por folhas de árvores e lianas, um recurso alimentar fibroso e energeticamente pobre. Essa dieta especializada, com preferência por folhas jovens, faz dele um dos ouriços mais folívoros. Para se alimentar, escolhe grandes árvores próximas às bordas da floresta, que oferecem maior disponibilidade de folhas devido à maior incidência de luz solar.

Ouriço-preto busca conservar energia, com baixo nível de atividade e movimentos letárgicos

A espécie adota estratégias comportamentais voltadas à conservação de energia, com baixos níveis de atividade e movimentos letárgicos. Durante o dia, o ouriço-preto repousa em abrigos escuros como emaranhados de cipós, bromélias, ocos e folhas de palmeiras, enquanto à noite desloca-se pelas árvores, raramente descendo ao chão.

Na distribuição geográfica da espécie 80% das florestas foram destruídas

Infelizmente, o ouriço-preto enfrenta sérias ameaças à sua sobrevivência. Considerado vulnerável à extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sua principal ameaça é a perda de habitat, com mais de 80% das florestas de sua distribuição geográfica já destruídas. Outras ameaças incluem a caça e o fogo, práticas ainda frequentes mesmo em áreas protegidas, como ocorre no Parque Estadual da Serra do Conduru e o Refúgio de Vida Silvestre de UNA, na Bahia onde há ainda o abate de florestas secundárias, extração de madeira e o tráfico de animais selvagens, inclusive jovens capturados para serem animais de estimação.

Planos nacionais que buscavam reverter o declínio populacional da espécie não obtiveram avaliação dos resultados satisfatória

Para proteger o ouriço-preto, pesquisadores brasileiros têm se esforçado em estudar a biologia da espécie e propor políticas públicas para sua conservação. Recentemente, ações como a translocação de indivíduos de áreas ameaçadas por desenvolvimento costeiro para reservas protegidas têm sido realizadas. O Plano Nacional para a Conservação do Ouriço-Preto, e o PAN mamíferos da Mata Atlântica Central, ambos com vigência de 2010 a 2015,  objetivavam reverter o declínio populacional da espécie, embora a falta de monitoramento adequado tenha dificultado a avaliação dos resultados alcançados.

Translocação de ouriços-pretos bem planejada e executada ocorreu no Espírito Santo

Uma experiência de translocação da espécie, com sucesso, foi realizada na cidade de Aracruz, no Espírito Santo. Cientistas resgataram três ouriços-pretos de uma floresta de restinga que seria destruída para a construção de um terminal portuário. Esta translocação da espécie é considerada pioneira por ter sido muito bem planejada e executada. A descrição desse trabalho foi publicada em artigo recente publicado no Journal for Nature Conservation de agosto de 2023.

Para proteger o ouriço-preto é necessário abordagem integrada incluindo foco nas comunidades locais

A conservação do ouriço-preto requer uma abordagem integrada, incluindo a proteção de seu habitat, educação ambiental focada nas comunidades locais, e medidas para reduzir a dependência dos recursos da vida selvagem. Apesar de sua importância, o ouriço-preto permanece amplamente desconhecido, ressaltando a necessidade de maior conscientização e esforços para proteger e preservar tanto a espécie quanto seu habitat mais importante, as florestas de restinga da Mata Atlântica.

Fontes: G1.Globo, Check List, Journal for Nature Conservation, Mongabay, PAN Ouriço-preto, Animal Diversity, Good Reads, Bracell, Mammals Species of the World, Monitoramento de fauna, LeiaMais BA, PAN Mamíferos da Mata Atlântica Central

Foto: Ouriço-preto_divulgação RPPNLontra