Chimpanzé-ocidental (Pan troglodytes verus): uma subespécie de comportamento único e criticamente ameaçada


O chimpanzé-ocidental (Pan troglodytes verus), também conhecido como chimpanzé-da-África-Ocidental, é uma das quatro subespécies reconhecidas do chimpanzé-comum, juntamente com o chimpanzé da Nigéria-Camarões (Pan troglodytes ellioti), o chimpanzé da África Central (Pan troglodytes troglodytes) e o chimpanzé da África Oriental (Pan troglodytes schweinfurthii). Originário da África Ocidental, esta subespécie possui características e comportamentos distintos que o destacam de suas contrapartes.

O chimpanzé-ocidental é a única subespécie adaptada à savana

O chimpanzé-ocidental habita países da África Ocidental, abrangendo nações como Costa do Marfim, Guiné, Libéria, Mali, Senegal, Serra Leoa, Gana, Guiné-Bissau e Burkina Faso. Diferentemente de outras subespécies que preferem florestas densas, o chimpanzé-ocidental é adaptado a mosaicos de floresta-savana, com pastagens abertas intercaladas por florestas de galeria secas. Neste ambiente único, desenvolveram um vasto leque de novos comportamentos e adaptações para sua sobrevivência.

Subespécie apresenta comportamentos únicos entre os chimpanzés

Os chimpanzés ocidentais se destacam por suas distinções físicas, apresentando pele escura ao redor dos olhos, focinho claro que escurece com a idade, calvície não tão pronunciada e barba branca ou grisalha. Os machos medem entre 77 e 96 cm de comprimento e pesam cerca de 47 kg, enquanto as fêmeas são um pouco menores, pesando aproximadamente 41,6 kg.

O que realmente os distingue são seus comportamentos únicos. Estes incluem um intrigante ritual de arremesso de pedras em tocos ocos de árvores, a fabricação de lanças de madeira para caçar outros primatas, o uso de cavernas para socialização, e a partilha de alimentos vegetais. Surpreendentemente, também foram observados submergindo na água para se refrescar e prevendo o movimento de incêndios florestais.

O chimpanzé-ocidental é uma das duas espécies de chimpanzé criticamente ameaçado de extinção

Atualmente, o chimpanzé-da-África-Ocidental está entre as duas subespécies de chimpanzés mais ameaçadas, ao lado do chimpanzé-da-Nigéria-Camarões (Pan troglodytes ellioti). Estudo publicado em 2019 na revista Environmental Research Letters, revisou os números da população do chimpanzé-ocidental e chegou a 53.000 indivíduos restantes, com uma queda acentuada de 80% nos últimos 25 anos. A IUCN catalogou esta subespécie como "criticamente ameaçada", com a Guiné e Libéria abrigando a maior parte desta população. De acordo com a IUCN 94% do habitat dos chimpanzés na Libéria e 84% do habitat em Serra Leoa encontram-se ameaçados de destruição pelas plantações de dendezeiros. Alguns números das subpopulações de chimpanzés-ocidentais de acordo com a publicação Primate in Peril 2018-2020 são de que na Guiné há mais de 20.000, na Libéria encontram-se 7.000, e em Serra Leoa 5.000. Para o Senegal estima-se uma população entre 200-400 indivíduos com a subespécie à beira da extinção nesse país. De acordo com um censo realizado em 2014 na Reserva Natural Comunitária de Dindéfélo (RNCD), no Senegal, foram encontrados somente entre 36 a 91 indivíduos. Na Guiné-Bissau uma população de 1000 a 1500 indivíduos foi encontrada na área de Boe.

No entanto há um declínio acentuado no número de chimpanzés-ocidentais, e caso esse declínio continue, 99% da população restante será perdida até 2060, ainda de acordo com a publicação Primates in Peril.

A subespécie está entre as 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo

Ameaças significativas incluem a fragmentação e perda de habitat devido a atividades humanas, como desmatamento para agricultura, construção de infraestrutura, e, mais recentemente, o crescimento da indústria do óleo de palma. A caça furtiva também representa um grave risco, exacerbado por eventos como a corrida ao ouro no Senegal.

Diversos países da África Ocidental implementaram leis de proteção a esses primatas. No entanto, a aplicação dessas leis tem sido inconsistente, exigindo a necessidade de mais áreas protegidas, pessoal capacitado e maior financiamento. Além disso, estima-se que 83 por cento da população viva fora das áreas protegidas O chimpanzé-ocidental se encontra entre as 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo no relatório Primatas em perigo (Primates in Peril) 2018-2020 da Global Wildlife Conservation. Reconhecendo a gravidade da situação, a IUCN elaborou um Plano de ação regional para a conservação dos chimpanzés ocidentais para 2020-2030.

Há inúmeras organizações envolvidas na conservação do chimpanzé-ocidental

Globalmente, várias organizações dedicam-se à conservação do chimpanzé-ocidental. Entre as mais destacadas estão a Liberia Chimpanzee Rescue and Protection, sediada na Libéria, e o Instituto Jane Goodall Espanha, que se dedica à pesquisa e conservação dos chimpanzés e à gestão sustentável dos recursos naturais no Senegal.

O chimpanzé-ocidental não é apenas uma subespécie notável por sua singularidade, mas também um símbolo do impacto humano na biodiversidade. A contínua conservação e proteção desta subespécie são essenciais para a preservação de seu legado e da rica biodiversidade africana.

Fontes: Instituto Jane Goodall, IUCN2020, International Journal of PrimatologyUAB, UIA, Animal Diversity, Liberia chimpanzee rescue & protection, New England Primate Conservation, WABICC, Primates in Peril (2018-2020), Earth.com, News Mongabay, Afrik21 

Foto: Chimpanzé-ocidental_by Therabu e segunda foto: Chimpanzé-ocidental_by Liram Samuni