Na Serra de Maranguape, situada a
apenas 30 quilômetros de Fortaleza, capital do estado do Ceará, vive um
minúsculo e raro tesouro ecológico: o Adelophryne maranguapensis, também
conhecido como sapinho-de-Maranguape, rãzinha-de-Maranguape ou rãzinha-pulga
Descoberto em 1994, este pequeno anfíbio tem um tamanho que atinge dois
centímetros de comprimento, podendo ser encontrado principalmente, nas partes
mais altas da Serra, em altitudes que superam os 600 metros.
Espécie vive exclusivamente numa
área de apenas 2 km2
O Adelophryne maranguapensis
é uma espécie endêmica do Ceará. A peculiaridade de sua localização é notável:
está confinado exclusivamente ao Pico da Rajada, na Serra de Maranguape, uma
área restrita de floresta úmida, conhecida como "brejo de altitude",
situada entre 800 e 900 metros de altitude. De fato, o habitat deste sapinho se
estende por apenas 2 km², evidenciando sua exclusividade e a importância de
preservar sua região.
Rãzinha-de-Maranguape deposita
seus ovos, exclusivamente, em bromélias
Muito embora este sapinho seja
amplamente associado ao chão da floresta, é nas bromélias que ele
desempenha seu principal papel ecológico. As fêmeas depositam seus ovos
nas folhas destas plantas. O que é verdadeiramente notável é o ciclo de vida
destes anfíbios: ao contrário da maioria dos sapinhos, cujos girinos se
desenvolvem em corpos d'água, o Adelophryne maranguapensis tem um
desenvolvimento direto. Os ovos, que são postos sem contato com a água,
eclodem, revelando pequenas criaturas já completamente formados, pulando a fase
de girino. A desova, consistindo em três a oito ovos, acontece em locais onde
há pouca ou nenhuma incidência de luz solar direta, protegendo assim os embriões
brancos envoltos em uma gelatina transparente e pegajosa.
Esta rãzinha é encontrada também
em áreas modificadas, como plantações de banana e bambu
Este sapinho demonstra uma
adaptabilidade curiosa, uma vez que é encontrado tanto em fragmentos florestais
primários quanto em áreas modificadas pelos seres humanos, como plantações
de banana e bambu. No entanto, apesar dessa flexibilidade, não é encontrado
em ambientes completamente abertos. Com hábitos diurnos e noturnos, a espécie
tem um padrão reprodutivo considerado prolongado, com atividades de reprodução
ocorrendo durante os meses chuvosos de janeiro a maio.
Uma das principais ameaças ao
sapinhode-Maranguape são as construções de casas de veraneio
Essa espécie, enfrenta desafios
significativos para sua sobrevivência. A urbanização crescente,
particularmente a construção de casas de veraneio na Serra de Maranguape,
representa uma ameaça real. Além disso, o desmatamento e a conversão da
vegetação natural para monoculturas, como plantações de café e outras
frutas, reduzem ainda mais seu habitat já limitado.
Considerado criticamente ameaçado
de extinção não se encontra em nenhuma área protegida
Recentemente, no Sistema de
Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade – SALVE, do ICMBio, de 2023, a
rãzinha-de-Maranguape foi classificada como "criticamente ameaçada"(CR).
A IUCN por sua vez, lista a espécie como "em perigo"(EN). Apesar de
sua abundância em seu restrito habitat, o Adelophryne maranguapensis ainda não
se beneficia de nenhuma área protegida e, assim, necessita urgentemente de
ações de conservação.
A história do sapinho-de-Maranguape
é um lembrete de que mesmo as criaturas mais pequenas desempenham papéis vitais
nos ecossistemas. Este anfíbio, único em seu tipo e habitat, está em risco devido
ao impacto humano contínuo. A necessidade de preservar e proteger seu habitat é
mais urgente do que nunca. A riqueza biológica do Brasil depende da
conscientização e ação para garantir que espécies como o Adelophryne
maranguapensis não se tornem apenas uma lembrança do passado.
Fontes: Dots, Salve, Ceará.Gov, Amphibia Web, O Povo, Diário do Nordeste
Fotos: Rãzinha-de-Maranguape_ as duas fotos de Pedro Peloso