O macaco guigó-de-coimbra-filho (Callicebus coimbrai), também conhecido como guigó-de-sergipe,guigó,japuçá, saá, uaiapuçá, uapuçá, zogó e sauá, é um primata endêmico da Mata Atlântica no Nordeste do Brasil. Essa espécie foi descoberta em 1999 e habita especificamente as florestas dos estados de Sergipe e do litoral norte da Bahia. Infelizmente, o guigó-de-coimbra-filho enfrenta uma série de ameaças que colocam a sua sobrevivência em risco.
Guigó-de-coimbra-filho corre risco de extinção de acordo com a IUCN
A população remanescente de Callicebus coimbrai é pequena e severamente fragmentada, estimada em cerca de 2.000 indivíduos. Esta espécie encontra-se inserida em um ambiente degradado, dominado por pastagem, cana-de-açúcar, silvicultura e citricultura. A região que o guigó-de-coimbra-filho ocupa sofreu sucessivos ciclos econômicos desde o século XVI, resultando em grave perda e fragmentação de habitats. Devido a esses fatores, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classificou o guigó-de-coimbra-filho como "Em Perigo" (EN) de extinção.
Outras ameaças ao guigó-de-coimbra-filho incluem os perigos potenciais de estradas e linhas de energia, e a predação por animais domésticos. A fragmentação do habitat também aumenta o risco de predação, pois esses primatas são forçados a se deslocar de um fragmento para outro, expondo-os a um maior risco de predação.
População limitada e distribuição geográfica restrita aumentam vulnerabilidade da espécie
A distribuição geográfica do guigó-de-coimbra-filho é uma de suas características mais críticas. Sua ocorrência foi confirmada em cerca de 80 fragmentos florestais, a maioria com menos de 100 hectares. Inclusive, várias áreas registram menos de 25 hectares, muito abaixo do necessário para a sobrevivência de um grupo. Nenhuma das subpopulações da espécie possui mais de 250 indivíduos maduros. Esta população limitada e sua distribuição geográfica restrita aumentam a vulnerabilidade da espécie. É preocupante que o guigó-de-coimbra-filho seja considerado extinto em 14 dos 125 fragmentos florestais em que já foi registrado, por isso, é urgente a necessidade de uma intervenção efetiva de conservação.
Urbanização crescente, aumento do turismo e pavimentação de estradas afetam a sobrevivência da espécie
Além disso, o habitat natural da espécie tem sido continuamente fragmentado e perdido, devido a fatores antrópicos, como a expansão urbana, assentamentos rurais e atividades agropecuárias. As áreas em torno e dentro do habitat do guigó-de-coimbra-filho estão sendo desenvolvidas, havendo aumento da pavimentação de estradas e incremento do turismo.
A urbanização crescente também afeta a sobrevivência dessa espécie. Além disso, áreas florestais habitadas pelo guigó-de-coimbra-filho estão sendo rapidamente convertidas em pastos para a pecuária destruindo as florestas costeiras, que agora cobrem menos de 1% de seu tamanho original.
Espécie tem porte médio, hábitos sociais e formam pequenos grupos de até seis indivíduos
O guigó-de-coimbra-filho é um primata de porte médio, podendo atingir até 39 cm de comprimento e um peso de cerca de 1 kg. A cauda pode ter 1/3 ou ¼ do tamanho do corpo e é notável pela sua coloração alaranjada. O corpo tem coloração acinzentada, enquanto a testa e as orelhas são pretas.
Esses primatas têm hábitos sociais e formam pequenos grupos de dois a seis indivíduos, geralmente compostos por um casal monogâmico e seus filhotes. Esses grupos têm hábitos diurnos e arborícolas, raramente descendo ao solo. Na maturidade sexual, tanto os machos quanto as fêmeas dispersam, e essa dispersão, juntamente com a fragmentação do habitat, limita as opções reprodutivas e restringe o número de indivíduos sexualmente maduros em cada fragmento de população.
Os guigós-de-coimbra-filho alimentam-se principalmente de frutos, embora folhas e insetos também façam parte de sua dieta. Estima-se que gastam, em média, 75% de seu tempo com a alimentação. Uma curiosidade é que estes primatas utilizam uma vocalização forte para demarcação de território.
Guigós-de-sergipe habitam várias unidades de conservação
O guigó-de-coimbra-filho pode ser encontrado em várias Unidades de Conservação, dentre elas, estão o Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco (SE), a APA Litoral Sul de Sergipe (SE) e a Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes-Ipitanga (BA) e ainda em áreas de proteção privadas como a RPPN Tapera e Bom Jardim (SE) e RPPN Marinheiro e Pedra da Urca (SE). No entanto, nem todas estas áreas protegidas são eficazes na proteção do guigó-de-sergipe. Estes primatas ainda enfrentam várias ameaças dentro dessas áreas, tais como desmatamento ilegal, incêndios florestais e caça.
Conservação do guigó é difícil devido população limitada e altamente fragmentada
Além disso, a conservação do guigó é complicada pela sua distribuição geográfica limitada e população fragmentada. Devido a estes fatores, os guigós-de-sergipe são particularmente suscetíveis a eventos aleatórios, como doenças ou eventos climáticos extremos, que podem dizimar populações inteiras. Também são vulneráveis ao efeito da endogamia, que pode reduzir a diversidade genética e a variabilidade da espécie a longo prazo.
A conservação efetiva do guigó, portanto, requer uma abordagem integrada e multifacetada. Em primeiro lugar, é necessário fortalecer as leis de proteção do habitat e garantir o seu cumprimento rigoroso. Isto envolve não só a designação de mais áreas de conservação, mas também a implementação eficaz da gestão dessas áreas para reduzir o desmatamento ilegal e outros impactos humanos.
Restauração e conexão entre fragmentos da floresta estão entre as principais medidas para sua conservação
Além disso, os esforços de conservação devem se concentrar em restaurar e conectar fragmentos de floresta para permitir a dispersão e a migração de guigós-de-coimbra-filho entre populações isoladas. Isto pode ser alcançado através da reabilitação de áreas degradadas e do plantio de corredores de árvores nativas.
Finalmente, é necessária mais pesquisa sobre a ecologia e comportamento
do guigó-de-coimbra-filho para informar estratégias de conservação. Educar
as comunidades locais sobre a importância desse primata e o valor da
conservação também é uma estratégia chave. Ao aumentar a conscientização e o
apoio público para a conservação desse ameaçado macaco endêmico da Mata
Atlântica, é mais provável que as leis de proteção do ambiente sejam mais respeitadas.
Ainda há muito que não se sabe sobre esta espécie, e a compreensão de seus
requisitos de habitat, dieta e comportamento social pode ajudar a desenvolver
medidas de conservação mais eficazes.
Fontes:UFP, ICMBio (1), ICMBIO (2), PAN Primatas do Nordeste, G1, G1(Globo Rural), UFBA, Infonet
Fotos: Guigó de Coimbra Filho_by Eduardo Lacerda