A girafa kordofan (Giraffa antiquorum ou Giraffa camelopardalis antiquorum), também conhecida como girafa centro-africana, é uma das subespécies mais ameaçadas da girafa-do-norte (Giraffa camelopardalis). Infelizmente, esta subespécie tem enfrentado um declínio drástico de mais de 80% em sua população nos últimos 30 anos, sendo agora considerada como Criticamente Ameaçada de Extinção. Segundo estimativas recentes da Fundação para a Conservação da Girafa (GCF) há 2.297 indivíduos que ainda sobrevivam em estado selvagem, dispersos em uma faixa de habitat que abrange o norte dos Camarões, sul do Chade, República Centro-Africana, nordeste da República Democrática do Congo e sudoeste do Sudão do Sul.
Entre as ameaças estão
conflitos políticos provocados por grupos armados em regiões onde vive a girafa
Parte deste declínio pode ser
atribuída à caça ilegal, uma indústria multibilionária que tem visto a girafa
kordofan ser caçada tanto pela sua carne como pelo seu rabo, este último
usado como um símbolo de status e oferecido como dote matrimonial. A perda de
habitat e o sobre pastoreio também contribuíram para a diminuição de suas
populações. No entanto, a situação é particularmente grave em regiões de
instabilidade política, onde as tentativas de proteger a girafa contra a caça
predatória são dificultadas pela entrada de grupos armados em regiões de
conflito.
Organizações estão trabalhando
em conjunto para reverter a tendencia à extinção da girafa kordofan
Os Parques Africanos e a Fundação
para a Conservação da Girafa (GCF) estão trabalhando em conjunto para
reverter esta tendência. Suas pesquisas estão focadas em entender a dinâmica da
população de girafas, o que permite a identificação de habitats preferidos e
mudanças nos mesmos ao longo do tempo. Este trabalho tem permitido monitorar
girafas específicas e aprender mais sobre os animais que compõem cada colônia.
Essas organizações também estão
colaborando com as comunidades locais, que desempenham um papel
essencial na proteção da girafa kordofan. Graças à administração da African Parks em lugares como o Parque Nacional Garamba, na
República Democrática do Congo, e o Parque Nacional Zakouma,
no Chade, a caça predatória desses animais selvagens tem diminuído significativamente.
No Chade e nos Camarões os
esforços para proteção da girafa Kordofan estão tendo bons resultados
Estas regiões abrigam importantes
populações de girafas kordofan, sendo que se estima que 60% desses
animais vivem no Parque Nacional Zakouma no Chade. Um verdadeiro sucesso de
conservação, o Parque Nacional Zakouma foi estabelecido em 1963 para proteger as
últimas 50 girafas Kordofan no Chade. Agora, graças à parceria entre a African
Parks e o governo do Chade, a população de girafas no parque está crescendo. As
pesquisas no parque têm o apoio financeiro e técnico do GCF. Em janeiro de
2019, o GCF em parceria com o Projeto Kordofan
Giraffe e o African Parks, realizou a primeira operação de marcação por
satélite GPS de girafas no Chade.
Outros esforços estão em
andamento para proteger a girafa kordofan, como os realizados no norte
dos Camarões, um dos últimos redutos das espécies carismáticas da savana. No
coração desta área, há o Ecossistema Bénoué Ocidental (WBE) composto por uma Reserva da Biosfera da
UNESCO , formada pelo Parque
Nacional de Bénoué e quatro zonas de caça vizinhas. Apesar de sua rica
biodiversidade, a WBE enfrenta várias ameaças, a mais crítica das quais é o pastoreio
descontrolado por pastores não locais. O sobre pastoreio do gado pode impactar
negativamente grandes populações de herbívoros, reduzindo a abundância de
alimentos. Nessa região, estão sendo realizados esforços para proteger e
conservar as girafas em seu habitat natural, uma iniciativa que tem o apoio da IUCN Save Our Species e das Parcerias
Internacionais da União Europeia. Com este apoio, espera-se aumentar as
patrulhas anti-caça furtiva dentro do Parque
Nacional de Bénoué.
Na República Centro-Africana descoberta alarmante da quase extinção das girafas kordofan exigiu intervenção excepcional para salva-las
Em 2017, uma crise de conservação
de vida selvagem estava emergindo na República Centro-Africana (RCA). Durante
um censo realizado no país, foi constatada a existência de apenas dez girafas
da subespécie kordofan - as últimas restantes no território. A
descoberta alarmante sublinhou a necessidade urgente de uma intervenção
excepcional para garantir a sobrevivência dessa população residual. Para o
mundo da conservação, salvar essas poucas girafas significava manter viva a
esperança para a provável última população de girafas kordofan na RCA.
Este censo vital foi executado em uma colaboração entre a Wildlife Conservation Society (WCS) e o
programa ECOFAUNE+. O trabalho de campo
aconteceu durante a última estação seca de março a abril de 2017, cobrindo a
região norte da RCA. Este projeto de importância crítica foi possível graças ao
financiamento do Great
Elephant Census©, patrocinado pela Fundação Paul G. Allen, a União
Europeia (por meio do Fundo Bekou), e a própria Wildlife Conservation
Society (WCS), além da colaboração com o Ministère
des Eaux et Forêts, Chasses et Pêches.
Na República Democrática do
Congo cientistas e guardas florestais estão conseguindo resultados positivos
com o aumento do número de girafas
No Nordeste da República
Democrática do Congo (RDC), na fronteira com o Sudão do Sul, há o Parque
Nacional Garamba, que está localizado em uma das áreas mais perigosas da
África, devido a mistura explosiva de caçadores furtivos fortemente armados,
grupos rebeldes e biodiversidade negociada no mercado negro. Nesse Parque cientistas
e guardas florestais estão arriscando suas vidas para proteger as últimas 46 girafas
de kordofan da RDC. Em Garamba, trava-se uma verdadeira corrida contra o
tempo para tentar evitar a sua extinção. Uma notícia positiva recente é que
segundo um relatório da UNESCO, foram contabilizados em 2022, 60 indivíduos da girafa
kordofan no Parque, um aumento de cerca de 23% em relação ao que se
presumia anteriormente, revelando que os esforços para salvar a subespécie
estão dando resultados.
Embora a situação seja crítica, a
dedicação de grupos de conservação e a cooperação de comunidades locais
oferecem uma esperança real para o futuro da girafa kordofan. A
conscientização global e o apoio à conservação estão sendo fundamentais para
garantir a sobrevivência dessa subespécie de girafa.
Fontes: Giraffe Conservation Foundation (1), Giraffe Conservation Foundation (2) , San Diego Zoo, Mammiferes Africains, CMS, Desk Nature, Ecofaune, African Wildlife News, Africa Geographic, Le Monde
Foto: Girafa kordofan_no Chade_New York Times e segunda foto: Girafa kordofan_no Camarões_by Marcus Lilje