Cientistas descobriram uma nova espécie de coruja, a coruja-do-príncipe (Otus bikegila), nas antigas florestas nativas da Ilha do Príncipe, uma pequena massa de terra localizada no Golfo da Guiné, a cerca de 220 quilômetros da costa do Gabão. A espécie é encontrada em baixas altitudes na parte sul e desabitada da ilha, que se encontra inteiramente dentro do Parque Natural Obô do Príncipe.
Espécie só foi descrita pela
primeira vez, recentemente, em 2022
Uma equipe internacional de
pesquisa liderada por cientistas do Centro de
Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO/BIOPOLIS),
Universidade do Porto, descreveu pela primeira vez a coruja-do- príncipe
(Otus bikegila) em um artigo de 2022 publicado na revista ZooKeys. A existência da espécie
só foi confirmada em 2016. Um segundo artigo publicado em 2022 na revista
Bird Conservation International, pela mesma equipe, revelou que a coruja-do-príncipe
é encontrada apenas na floresta nativa remanescente na parte desabitada do sul
da Ilha do Príncipe. A espécie parece preferir altitudes mais baixas.
A nova espécie de coruja vive
num habitat muito restrito e numa pequena ilha
Devido ao seu habitat restrito,
cobrindo uma área de aproximadamente 15 quilômetros quadrados, a espécie é
considerada altamente ameaçada. Apesar de sua pequena área de
distribuição, a população de corujas príncipe é relativamente densa, com uma
estimativa de 1.000 a 1.500 indivíduos. Devido à sua limitada extensão de
ocorrência, combinada com a presença em um único local e declínios contínuos na
área e qualidade do habitat, a espécie foi proposta para classificação como Criticamente
Ameaçada.
Toda a população da
coruja-do-príncipe se encontra dentro de um único parque natural
Felizmente, o habitat da coruja-do-príncipe
está protegido dentro do Parque Natural Obô do Príncipe, o que pode
contribuir para sua conservação. No entanto, esforços efetivos de conservação
exigirão monitoramento regular e pesquisas adicionais sobre a reprodução da
espécie e a possível predação de ninhos por mamíferos introduzidos. O amplo
apoio à conservação do Parque Natural é fundamental para garantir a proteção
dessa espécie única e das florestas endêmicas nativas do Príncipe, das quais
depende.
A descoberta da coruja-do-príncipe
foi possível graças ao conhecimento local e à colaboração com assistentes de
campo, incluindo um guarda florestal local apelidado de "bikegila",
que deu nome à espécie. Essa parceria destaca a importância do envolvimento
local no avanço do entendimento sobre a biodiversidade global.
A espécie é altamente sensível
a perturbação humana e a mudanças ambientais
A ave noturna marrom habita a
Ilha do Príncipe, na República Democrática de São Tomé e Príncipe, na costa
oeste da África. Embora relativamente comum em sua pequena área de
distribuição, a espécie é altamente sensível à perturbação humana e às mudanças
ambientais. Uma preocupação específica é a construção planejada de uma
barragem hidrelétrica, que afetaria o habitat da coruja dentro do parque.
As ilhas de São Tomé e
Principe são dos locais do mundo onde há alto endemismo de aves que vivem em
florestas
Essas ilhas oceânicas de São Tomé
e Principe abrigam o maior número de espécies endêmicas de aves do mundo em
relação à sua área, com pelo menos 28 espécies endêmicas encontradas nos 996
quilômetros quadrados de terra. As florestas tropicais que cobrem as ilhas
formam uma ecorregião independente, caracterizada por altos níveis de endemismo
entre diversos grupos. As aves são particularmente bem representadas, com
as ilhas classificadas como o terceiro local mais importante do mundo para a conservação
de aves florestais.
A descoberta da coruja-do-príncipe
destaca a importância de preservar a biodiversidade única encontrada em ilhas
como a Príncipe e ressalta a necessidade de colaboração entre comunidades
locais e cientistas na descoberta e proteção das espécies mais vulneráveis.
Fontes: NotíciasUP, My Modern Met, Revista
Galileu, Mega
Curioso, Gizmodo, The
World, IFLScience, The
Conversation, Overdoso, Sci
Tech Daily, SciNews, PHYS
Fotos: Coruja-do-Principe_by Philippe Verbelen e segunda foto: coruja-do-Principe_by Martin Melo