O cara-pintada (Phylloscartes ceciliae) é uma pequena e rara ave endêmica da Mata Atlântica no Brasil, encontrada principalmente nos estados de Alagoas e Pernambuco. Descrita em 1987, essa espécie é considerada uma das menos conhecidas pelos cientistas e vive na área do Centro de Endemismo Pernambuco, que abrange a Mata Atlântica do Nordeste ao norte do Rio São Francisco e que vem sendo degradada e fragmentada continuamente ameaçando a rica biodiversidade local.
Cara-pintada é ave discreta e
de difícil observação vivendo nas copas mais altas das árvores
Com apenas 12 cm de comprimento,
o cara-pintada possui uma cauda longa, dorso oliva, ventre claro,
sobrancelha branca e barras amarelas nas asas. Habitando nas copas mais altas
das árvores e no sub-bosque de florestas úmidas, essa ave discreta e de difícil
observação vive em bandos mistos, alimentando-se de insetos. A dieta do cara-pintada
consiste em pequenos artrópodes retirados da superfície das folhas e galhos.
Devido a degradação e
fragmentação do habitat a espécie está criticamente ameaçada
A espécie enfrenta severa
degradação e fragmentação de seu habitat, o que resulta em populações isoladas
e em declínio. Atualmente, o cara-pintada consta como "Criticamente
ameaçado" na Lista Internacional (IUCN) e Nacional (ICMBio) da fauna
ameaçada de extinção e é protegida pela legislação brasileira. A extração de
lenha para carvoaria e a conversão das florestas em plantações e pastagens são
as principais causas de perda de habitat e ameaça para a espécie.
Cara-pintada está incluído no
PAN para Conservação das aves da Mata Atlântica
O cara-pintada está
incluído no Plano
de Ação Nacional para conservação das aves da Mata Atlântica e que destaca
as seguintes ações necessárias para a proteção dessa biodiversidade: Estabelecimento
de novas áreas protegidas privadas e conexão dos fragmentos de florestas
existentes no Centro de Endemismo de Pernambuco, garantindo a
observância das leis para prevenir o desmatamento, incentivando a inclusão de
áreas prioritárias nos projetos de expansão agrícola, e promovendo campanhas
de educação e sensibilização ambiental.
Número estimado de indivíduos
da população da espécie é muito pequeno e disperso
A população do cara-pintada
é estimada em menos de 250 indivíduos maduros, distribuídos em menos de 20
locais nos estados de Alagoas e Pernambuco. A maioria dessas áreas não é
protegida por lei, o que agrava ainda mais a situação. A ave pode ser observada
com mais facilidade na RPPN Pedra D'Antas,
no município de Lagoa dos Gatos (PE). Biólogos monitoraram a espécie na Serra do Urubu, em
Pernambuco, com o apoio da ONG SAVE
Brasil, que tem como objetivo estudar essa ave.
As localidades com registro da
presença do cara-pintada em Pernambuco, incluem: Brejo dos Cavalos
(Caruaru), Frei Caneca/Pedra D'Antas (Jaqueira e Lagoa dos Gatos), Engenho
Jussará (Gravatá), Parque Natural Municipal Matas do Mucuri-Hymalaia (Bonito),
Engenho Brejão (Bonito) e Pedra do Rosário (Bonito). Em Alagoas pode ser
encontrada em: Usina Serra Grande (São José da Laje), Pedra Talhada
(Quebrangulo), Murici e Mata do Engenho Coimbra (Ibateguara).
São poucas as áreas protegidas
onde o cara-pintada é encontrado
Em Pernambuco a espécie tem presença
assegurada em algumas áreas protegidas, entre as quais: Monumento Natural (MN)
Orquidário Pedra do Rosário, Parque Natural Municipal Vasconcelos Sobrinho,
Parque Natural Municipal Matas do Mucuri-Himalaia, Reserva Particular do
Patrimônio Natural Frei Caneca e Reserva Particular do Patrimônio Natural Pedra
D'Antas.
Apoio das comunidades locais é
fundamental para garantir a sobrevivência da espécie
Para a conservação do cara-pintada,
é necessário proteger e restaurar a floresta remanescente dentro do alcance da
espécie, designar mais áreas protegidas, criar corredores entre os fragmentos
florestais remanescentes e garantir a fiscalização nas áreas protegidas onde a
espécie ocorre. Além disso, a realização de programas de conscientização
ambiental com as comunidades locais no entorno das áreas de
ocorrência da espécie é fundamental para garantir a sobrevivência dessa ave
singular e emblemática da Mata Atlântica brasileira.
Fontes: G1.Globo, Ornitolab, BirdLife International, Aves Brasileiras: extintas e ameaçadas, WikiAves, Tribuna ABC, Canal Ciência-Ibict
Foto: Cara-pintada_by Eduardo Vieira