Primata endêmico das florestas tropicais da Bolívia, o mono-titi-do-rio-beni (Plecturocebus modestus) habita uma área de distribuição
restrita no sudoeste do Departamento de Beni entre os rios Beni e Maniqui, vive
em matas ciliares e fragmentos florestais nos municípios de Reyes, Santa Rosa e
São Borja.
O titi-do-rio-beni é um
animal pequeno, com pelagem marrom-acastanhada com tons alaranjados. Seu corpo
mede cerca de 25 centímetros, com uma cauda não preênsil de tamanho semelhante,
que é utilizada para se equilibrar e se mover pelos galhos das árvores. Sua
alimentação consiste principalmente de frutas, sementes, insetos e outros
pequenos animais. É um animal arborícola e diurno que vive principalmente em
grupos familiares compostos por 2 a 7 indivíduos.
População do titi-do-rio-beni está em declínio devido à
destruição do habitat
A população dos titis-do-rio-beni
vem diminuindo rapidamente devido à destruição do habitat natural desses
animais. As florestas tropicais da região do rio Beni têm sido amplamente
desmatadas para a criação de gado, agricultura e extração de madeira, o que tem
levado à fragmentação do habitat e à perda de diversidade biológica. Seu número
estimado é de cerca de 20.000 indivíduos.
Além disso, a caça também é uma
grande ameaça ao primata. Infelizmente, muitas pessoas ainda caçam titis para
uso como animal de estimação ou para consumo de sua carne. Essas práticas
ilegais de caça têm agravado ainda mais a situação dos titis-do-rio-beni.
Organizações não-governamentais têm contribuído para a
conservação da espécie
A Wildlife
Conservation Society (WCS) é uma organização que tem realizado um trabalho importante
na proteção da fauna e flora bolivianas, em especial dos primatas. Eles têm
desenvolvido projetos para a proteção de áreas naturais, monitoramento das
populações de animais e educação ambiental. O objetivo principal da organização
é a conservação de habitats e espécies ameaçadas, incluindo o mono-titi-do-rio-beni.
Estudos ecológicos realizados
pela WCS levaram à reclassificação do titi-do-rio-beni como uma espécie
ameaçada de extinção, classificada como "Em Perigo" (EN) na Lista
Vermelha da IUCN. A WCS também contribuiu com subsídios científicos para um
projeto de conservação das espécies endêmicas de primatas da região de
Beni, com destaque para o Plecturocebus modestus. O projeto teve financiamento
do Conservation
Leadership Programme (CLP) e foram utilizadas estratégias de divulgação,
que incluem atividades educacionais e comunitárias para avaliar a presença
dessas populações. A comunidade participa da coleta de dados sobre a
localização dos grupos, a fim de orientar as ações de conservação. Meios de
comunicação locais também colaboram na conscientização da população,
transmitindo mensagens através de rádio, televisão e audiovisuais.
A WCS também efetuou estudos para
conhecer a distribuição da espécie, sua diversidade genética, situação
taxonômica, abundância populacional, estado de conservação, aspectos
ecológicos, mudanças na cobertura do bosque na zona habitada por esta espécie,
zonas vulneráveis para sua conservação e atividades de difusão.
Governo boliviano e
autoridades locais tem investido na criação de áreas protegidas
O governo boliviano também tem
investido em projetos de conservação de fauna e flora, incluindo a proteção dos
primatas. Como exemplo, o "Parque Nacional
Madidi" é uma das unidades de conservação mais importantes da Bolívia,
que protege uma grande variedade de espécies de plantas e animais, incluindo os
titis-do-rio-beni. O parque é gerenciado pelo Serviço Nacional de Áreas Protegidas (SERNAP),
que tem o objetivo de garantir a proteção e conservação dos recursos naturais
do país.
Os municípios da região do rio
Beni também têm investido na criação de áreas protegidas localmente. O Governo
Municipal de Santa Rosa del Yacuma declarou em 2007, a criação da Área
Natural de Manejo Integrado Municipal Pampas de Yacuma. Em 2019 o município
de Los Santos Reyes criou a área
protegida Rhukanrhuka, que abrange 60% do território municipal, com o objetivo de proteger espécies ameaçadas
de primatas da região, incluído o titi-do-rio-beni. Como as áreas
protegidas em conjunto cobrem uma parte importante da área de distribuição desse
primata, isso se constitui em uma oportunidade para a conservação dessa espécie
endémica, cuja presença e singularidade foram tratadas durante a criação e
delimitação destas duas áreas protegidas.
Titis-do-rio-beni, assim como
outros primatas, são importantes para a manutenção do ecossistema
A conservação do titi-do-rio-beni
é importante não apenas pela preservação da espécie em si, mas também pelo
papel que os primatas jogam nos ecossistemas. Como frugívoros, os titis-do-rio-beni
têm um papel importante na dispersão de sementes, o que é essencial para manter
a diversidade das plantas e árvores na floresta. Além disso, como são presas
para diversos predadores, a sua presença e sobrevivência contribuem para o
equilíbrio ecológico da região.
Proteger os titis-do-rio-beni
exige políticas públicas que promovam ações efetivas de conservação
Para a conservação do titi-do-rio-beni,
é necessário que sejam realizadas ações efetivas de conservação. Entre elas, a
proteção de áreas naturais, a criação de corredores ecológicos que permitam a
conexão de fragmentos de floresta, o monitoramento das populações de primatas,
a educação ambiental e a conscientização da população local sobre a importância
da preservação da fauna e flora.
Além disso, é importante que
sejam adotadas políticas públicas que busquem alternativas ao desmatamento e à
caça ilegal. A implementação de programas de manejo florestal comunitário, por
exemplo, pode ajudar a conciliar a conservação das florestas com as
necessidades econômicas da população local.
Fontes: Primatologia,
Primate
Conservation, Revista
Científica Agrociencias Amazonía, EcuRed, WCS, Bioexplorer
Foto: Mono-titi-do-rio-beni_Zoochat e segunda imagem:área de distribuição do titi-do-rio-beni