No Estado de Santa Catarina,
Brasil, vive um dos mais raros roedores do mundo, o preá-de-moleques-do sul
(Cavia Intermedia) classificado na Lista
Vermelha da IUCN como criticamente ameaçado(CR). A espécie ocorre
somente numa pequena ilha, com 0,1 quilômetro quadrado de área, no arquipélago
de moleques-do-sul, sendo que pode ser considerado como o mamífero que tem a
menor distribuição geográfica de todo planeta. Esse pequeno mamífero mantém
essa condição de isolamento há 8.000 anos, sempre com população reduzida de
cerca de 50 indivíduos.
Esse pequeno preá mede cerca de
25cm e pesa pouco mais de meio quilo. Alimenta-se de gramíneas. Tem pelagem
longa e áspera, geralmente de cor cinza ou marrom. Eles têm constituição
atarracada e cilíndrica sem cauda externa, membros curtos e orelhas curtas e
sem pelos. Reproduz-se durante o ano inteiro e a gestação dura dois meses.
Cruzamentos consanguíneos do
preá-de-moleques-do-sul não afetam sua reprodução
Com uma população tão pequena o
grupo de preás da ilha apresenta uma das menores diversidades genéticas
do reino animal. Cruzamentos consanguíneos costumam dar origens a proles
com algum tipo de deformação. Pelas teorias genéticas tradicionais, o preá-de-Santa
Catarina já deveria estar extinto há muito tempo. No entanto, não é isso o que
ocorreu com os preás-de-moleques-do-sul, que se adaptaram a sobreviver
com um número tão pequeno. Os cruzamentos que poderiam gerar filhotes com
defeitos já ocorreram e os alelos (variações do mesmo gene) problemáticos foram
eliminados pela seleção natural.
População dessa espécie de
preá está estabilizada em torno de 50 indivíduos há anos
Esse raro preá só foi reconhecido
pela ciência com a publicação de artigo em 1999 na revista científica Biotemas,
que o descreveu como uma nova espécie. A população atual do preá-de-moleques-do-sul
continua sendo de cerca de 50 indivíduos, variando de 30 a 60 de acordo com os
nascimentos e mortes ao longo do ano. Essa espécie de preá tem um processo
reprodutivo lento, a fêmea dá à luz a um ou dois filhotes, sendo que a
expectativa de vida é de aproximadamente 400 dias (pouco mais de um ano).
Embora tenha poucos indivíduos, a população do preá-de moleques-do-sul
pode ser considerada estável. Como animais herbívoros o suprimento de alimentos
para os preás é abundante na ilha.
Elaboração de plano de
conservação do preá-de-Santa-Catarina teve início em 2018
O preá-de-Santa-Catarina,
como também é conhecido, está entre os 20 pequenos mamíferos mais ameaçados de
extinção no mundo. Considerando essa condição, a ONG Instituto Tabuleiro deu
início em 2018 à elaboração de um Plano de Ação Estadual (PAE) para a Conservação
do preá-de-moleques-do-sul em parceria com o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Santa
Catarina (IMA) e com o patrocínio da Fundação
O Boticário para a Conservação da Natureza. No ano seguinte, de 09 a 11 de
abril de 2019, foi realizada uma oficina para elaborar o planejamento das ações
a serem executadas e que contou com a participação do Instituto Tabuleiro, da Cooperativa
de Conservação da Natureza (Caipora), do Grupo
Especializado em Pequenos Mamíferos da União Internacional para a Conservação
da Natureza (SMSG) e o patrocínio da Fundação Boticário.
Realizar ações preventivas é
uma das prioridades no plano de ação do preá-moleques-do-sul
O Plano de
Ação Estadual de Conservação do preá-de-moleques-do-sul definiu ações a
serem realizadas em cinco anos (2019-2023) divididas em três frentes. A
primeira é o monitoramento constante da espécie e a criação de
protocolos de pesquisa. A segunda está relacionada com ações preventivas,
pois a espécie está vulnerável a invasão de espécies exóticas à ilha,
incêndios, doenças entre outros eventos. Devido a isso, pesquisadores avaliaram
a possibilidade de criar uma segunda população em cativeiro ou em alguma outra
ilha, para garantir que a espécie sobreviva a uma possível catástrofe. E a
terceira frente é o de mobilização comunitária.
Predadores exóticos podem
acabar com a população dos preás da ilha em pouco tempo
Felizmente esse preá não tem predadores
naturais na ilha, no entanto uma população tão pequena é extremamente
vulnerável a eventos casuais que podem aniquilar a espécie. Pode ocorrer introdução
de doenças e de espécies exóticas como gatos e cachorros que além de
predadores podem transmitir algum tipo de vírus, bactéria ou fungo para os preás.
Outras ameaças são o aumento do nível do mar, incêndios, caça clandestina,
ciclones entre outros eventos extremos. Embora o habitat do preá-de-moleques-do-sul
esteja protegido por lei estadual que incluiu o Arquipélago de Moleques do Sul
dentro do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, as pessoas continuam a
frequentar esporádica e irregularmente a ilha, transformando-se em grande
ameaça à sobrevivência da espécie.
Monitoramento remoto com
câmeras de segurança é importante recurso de controle
Para um maior controle dos preás
da ilha, atualmente os gestores e pesquisadores estão trabalhando no
monitoramento remoto da população atual usando uma rede de trilhas e câmeras de
segurança, financiadas pelo Global
Willife Conservation (GWC) e o Greensboro
Science Center (GSC). Os objetivos gerais são monitorar remotamente a
espécie, seu habitat e o uso ilegal da ilha por seres humanos.
Educação ambiental é
importante reforço para a conservação do preá-de-Santa-Catarina
Outra iniciativa na proteção do raro preá é o Programa de Educação Ambiental para a Conservação da Cavia intermedia, patrocinado pela empresa Karoon Energy e que visa aumentar o conhecimento e a conscientização sobre a situação do preá e ajudar no controle de acesso ao parque. O projeto incentiva as comunidades locais a se envolverem mais no esforço de conservação por meio de um programa de educação ambiental em escolas públicas.
Fontes: O Eco, BBC, Small Mammals, Karoon Energy, IMA/SC, In Vivo, Animal Diversity, WH3, Correio Braziliense, FloripaManha, G1Globo, BomDia SC, Manimal World, ND+, Folha de SP, Forum SustentabilidadeFoto: Preá-de-moleques-do-sul_by Luciano Candisani