Veado-mateiro-pequeno é o mais raro e ameaçado cervídeo brasileiro


 O veado-mateiro-pequeno (Mazama jucunda, anteriormente Mazama bororo) também conhecido por veado-bororó-de-São-Paulo ou veado-vermelho é uma pequena espécie de cervídeo, endêmico do Brasil. Tem distribuição restrita às florestas da Mata Atlântica da região sul de São Paulo e leste do Paraná, até o nordeste catarinense. Só ocorre em áreas florestais primárias ou secundárias bem recuperadas, de vegetação densa. Ele foi descoberto em 1996 por José Maurício Barbanti Duarte, do Departamento de Zootecnia da Unesp de Jaboticabal que se baseou em animais cativos para descrever a nova espécie.  Foi somente entre 2000-2002 que foi descoberta a primeira população selvagem do veado-mateiro-pequeno no Parque Estadual Intervales no Estado de São Paulo.

Descoberta do veado-bororó-de-São-Paulo é relativamente recente

Sua descoberta foi de grande significado pois se tratava de uma nova espécie de mamífero, de grande porte, no Estado brasileiro mais populoso e com a paisagem natural bastante modificada por cidades, agricultura e pastagens. Apenas em 2003 o artigo que descreve o veado-mateiro-pequeno foi aceito para publicação, na revista científica Mammalia, constituindo-se no documento oficial de aceitação da espécie pela comunidade científica. Em 2012 a espécie foi incluída no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Cervídeos Brasileiros Ameaçados de Extinção (PAN Cervídeos) do ICMBio.

Ainda pouco se sabe da biologia do veado-mateiro-pequeno

O veado-bororó-de-São-Paulo pesa cerca de 25-30 kg e mede até 40 cm de altura. Muito pouco se sabe acerca da biologia da espécie e a maior parte das informações provém de relatos imprecisos de moradores das regiões em que habita. É um animal arredio, solitário e crepuscular e se alimenta principalmente de frutos. Sua coloração geral é avermelhada, com a lateral do pescoço cinza claro e mais escuro na porção dorsal. Apresentam a porção anterior do corpo ligeiramente mais baixa que a posterior e a presença de chifres pequenos e não ramificados nos machos.

Entre as ameaças estão a caça indiscriminada e a perseguição por cães domésticos

É uma das espécies de veado com maiores riscos de extinção. A IUCN considera a espécie como "vulnerável(VU)". Estima-se que a população não ultrapasse 5.500 animais, sendo que a maioria (4.500 indivíduos) no Estado de São Paulo e outros (1.000 indivíduos) no Estado do Paraná. Além da fragmentação e perda do habitat devido ao desmatamento, a espécie é ameaçada principalmente pela caça indiscriminada e pela coleta ilegal do palmito-juçara (Euterpe edulis), que geralmente está associada à caça. A presença de cães domésticos nos fragmentos de Mata Atlântica também constitui importante ameaça ao veado.

Existência de muitas unidades protegidas em sua área de distribuição tem garantido sua sobrevivência

Um aspecto positivo na conservação do veado-mateiro-pequeno é que, considerando sua provável distribuição histórica, em sua maior parte, ele está localizado em remanescentes florestais da Mata Atlântica que se encontram em áreas protegidas seja na forma de Áreas de Proteção Ambiental (APA), Reservas Particulares de Proteção da Natureza (RPPN) e Parques Nacionais e Estaduais (a grande maioria). Muitas dessas áreas estão conectadas entre si, constituindo um dos maiores contínuos ecológicos de Mata Atlântica do país. Entre as unidades de conservação podem ser citadas a Área de Proteção Ambiental Estadual de Guaratuba, no Paraná e no Estado de São Paulo, o Parque Estadual Carlos Botelho, Parque Estadual Intervales, Parque Estadual Nascentes do Paranapanema (PENAP) e o Mosaico de Unidades de Conservação Jacupiranga (MOJAC) situado no Vale do Ribeira entre outras.

São necessárias urgentes medidas para interromper o declínio da população da espécie

O veado-bororó-de-São-Paulo está com população em declínio em toda sua área de distribuição, pois embora se encontre em sua maioria em unidades de conservação, permanecem as ameaças à sua sobrevivência mesmo nessas áreas, como a caça clandestina, desmatamento, perseguição por cães domésticos entre outras. A continuidade da espécie a médio prazo dependerá de ações específicas para sua proteção, principalmente a criação de uma população cativa de segurança e que possa servir para povoar novas áreas e repor as populações nas áreas de sua distribuição histórica. Ao mesmo tempo, devem ser intensificadas ações de educação ambiental junto às comunidades locais para que compreendam a importância da conservação da espécie.

Boa notícia para proteção dos cervídeos da Mata Atlântica

Artigo recentemente publicado no Journal for Nature Conservation de 22 de outubro deste ano (2022) traz uma boa notícia para a proteção das três espécies de veados que vivem na Mata Atlântica. Pesquisadores concluíram que conservar 48.400 quilômetros quadrados (Km2), ou 2% do total da área do bioma, pode ser suficiente para manter os veados que vivem nessa floresta, sendo que 43,2 % dessas áreas já possuem alguma proteção legal. O grupo de autores que inclui pesquisadores do Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos (Nupecce) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e das universidades federais da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu, e do Paraná (UFPR), concluiu que 56,8% das áreas que deveriam ser prioritárias para preservação não estão dentro de unidades de conservação. A pesquisa contou com apoio da FAPESP. No artigo, pesquisadores adotam para o veado-mateiro-pequeno a denominação científica de Mazama jucunda recentemente adotada por parte da comunidade científica.  

Fontes: Biodiversity4all, Rã-Bugio, G1Globo(1), Mamíferos do Mundo, Folha de SP(1), Ambiente Brasil(1), G1Globo (2) , BioBrasil , Arts&Culture, Estadão, ICMBio, Pesquisa Fapesp, Revista Eletrônica ICMBio, Ambiente Brasil (2) , Folha de SP(2)Foto: Veado-mateiro-pequeno_by Alexandre Vogliotti