Novas áreas protegidas são necessárias para garantir sobrevivência do guariba da caatinga


O guariba da caatinga (Alouatta ululata) também conhecido como bugio-de-mãos-ruivas-do-Maranhão ou capelão é uma espécie endêmica do bioma Caatinga, embora seja encontrada em áreas de cerrado na região nordeste, que se distribui do noroeste no Ceará, na Serra da Ibiapaba e áreas de remanescentes florestais próximas; passando pelo norte e centro-norte do Piauí (áreas de cerrado, mata de cocais e manguezal); até o norte do Maranhão (áreas de cocais e manguezais).

Na espécie ocorre dimorfismo sexual com coloração diferente entre machos e fêmeas

A espécie é muito semelhante ao guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta belzebul), entretanto, possui uma forma de dimorfismo sexual, o dicromatismo sexual muito acentuado: o macho possui coloração negra brilhante e a fêmea possui coloração pardo-amarelada. O guariba da caatinga tem uma vocalização bem marcante, característica desse grupo de primatas. As vocalizações podem ser ouvidas até cerca de 2 ou 3 quilômetros de distância e podem durar em média 10 minutos.

População pequena e em declínio revelam a situação crítica em que vive o guariba da caatinga

O guariba da caatinga está incluído na Lista Vermelha da IUCN como Em Perigo de Extinção (EN), e pela avaliação nacional realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está classificada como criticamente ameaçada de extinção (CR). Sua situação crítica é devido a existência de uma população pequena e em declínio. Há pouca informação sobre a ecologia, comportamento e biologia da espécie, informação chave para apoiar estratégias de conservação.

Fragmentação do habitat é um dos principais problemas que ameaçam a espécie

As principais ameaças ao guariba da caatinga são o desmatamento, fragmentação do habitat e a caça. A perda e fragmentação do habitat se devem à expansão da agropecuária, principalmente de culturas como soja e cana-de-açúcar; aos assentamentos rurais e a proliferação de carvoarias. A pressão da caça continua, em especial no Ceará e Maranhão.

Artigo publicado no International Journal of Primatology de março de 2021 por pesquisadores portugueses avaliam o risco que correm os primatas em todo o mundo devido ao impacto de estradas e rodovias, das 512 espécies de primatas conhecidos 92 são impactados diretamente por essas infraestruturas. Neste estudo foi incluído o guariba da caatinga como uma das espécies prioritárias afetadas por esses empreendimentos. Os pesquisadores destacam que além dos atropelamentos, problema mais evidente, as consequências negativas incluem o chamado “efeito barreira” – quando a presença da via inibe ou impede o deslocamento dos animais, principalmente dos arborícolas, que se movimentam exclusivamente pelas copas das árvores.

Iniciativas para salvar o guariba da caatinga visam apoio das comunidades locais

Entre as iniciativas para salvar o guariba-da-caatinga há o Projeto Guariba, formado por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e financiado pela Rufford Foundation e conta com o apoio do Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB). Suas atividades estão focadas em realização de pesquisa de base sobre o guariba-da-caatinga, Educação Ambiental nas comunidades locais e divulgação científica por meio do instagram. Privilegiam a atuação conjunta com as comunidades para o trabalho de conservação da espécie.

No início de 2021 pesquisadores do Projeto Guariba em parceria com a Associação Caatinga conseguiram localizar, pela primeira vez, um novo grupo da espécie na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra das Almas, localizada entre os municípios Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI). Pelos registros das câmeras fotográficas os pesquisadores estimam que a população do primata na Serra das Almas é pequena, provavelmente de 10 indivíduos.

Há necessidade de criação de áreas protegidas em locais prioritários para salvar a espécie

As Unidades de Conservação são fundamentais para a sobrevivência da espécie que depende de uma boa cobertura arbórea, no entanto mesmo dentro de áreas protegidas ocorre o desmatamento, o que demonstra a necessidade de melhoria de gestão. Novas áreas protegidas em locais prioritários necessitam ser criadas, principalmente, no centro e sul da distribuição da população do guariba-da-caatinga, pois as áreas prioritárias na parte norte são protegidas.

Fontes: Eco Nordeste, CiênciasULisboa, Oryx, Associação Caatinga, PAN Primatas do Nordeste, Conservation Leadership Programme, Mercur, Ethnobio Coservation, Rufford Foundation, Diário do Nordeste, Ambiente Legal, Leia Mais 

Foto: Guariba da caatinga - by Robério Freire Filho