Gato-do-mato-pequeno-do-sul, descoberto há menos de dez anos, corre risco de extinção


 A existência do gato-do-mato-pequeno-do-sul (Leopardus guttulus) só foi confirmada em 2013 por uma publicação na revista científica Current Biology . No artigo, pesquisadores brasileiros através de análises genéticas confirmaram que havia duas espécies distintas de gato-do-mato-pequeno, e não uma como se pensava. E mais, descobriram também que, embora existam híbridos com outras espécies de gatos-do-mato, as duas espécies tão semelhantes não produzem descendentes férteis. Desse modo a espécie que vive mais ao norte do Brasil, manteve o nome científico de Leopardus tigrinus, e a nova espécie que passou a ser conhecida como gato-do-mato-pequeno-do-sul recebeu a denominação de Leopardus guttulus e tem sua distribuição nos estados do Sul, sudeste, centro-oeste do país e no nordeste da Argentina e no Paraguai.  

É a menor espécie de felino brasileiro

O gato-do-mato-pequeno-do-sul é a menor espécie de felino brasileiro. Vivem predominantemente em áreas de floresta densa. Podendo ser encontrado em áreas alteradas, próximo de áreas de agricultura, mas somente naquelas que fazem limite com a vegetação nativa. Sua alimentação consiste de ratos, preás, pássaros, pequenas cobras e lagartos, sapos, rãs, pererecas e insetos.

É uma espécie um pouco maior que o gato doméstico pesando em média 2,4 kg. O comprimento total (incluindo a cauda) vai de 60 a 97 cm. O macho é maior que a fêmea. Apresentam rosetas (pintas) pequenas e com a coloração de fundo amarelada. Como em outras espécies de felinos ocorrem indivíduos totalmente pretos (melanismo). Em relação ao Leopardus tigrinus o gato-do-mato-pequeno-do-sul apresenta um porte um pouco mais robusto, cauda mais curta e grossa e coloração de pelagem variável, com tonalidades entre o amarelo-claro e o castanho-amarelado, em tons que tendem a ser mais escuros que na espécie do norte do país. As rosetas tem a tendência de serem maiores e as orelhas menores e mais arredondadas.

São inúmeras as ameaças que atingem o gato-do-mato-pequeno-do-sul

As principais ameaças ao gato-do-mato-pequeno-do-sul são a destruição de florestas, perda de habitat e fragmentação, caça ilegal predatória, captura criminosa para o tráfico de animais silvestres, hibridização com outras espécies de felinos, doenças transmitidas por animais domésticos, conflitos com proprietários rurais, mortes por cães domésticos e atropelamentos. Está listado como vulnerável na lista vermelha da IUCN.  

Entre as ameaças os atropelamentos provocam extinções locais

Artigo publicado na revista Global Ecology and Biogeography de setembro de 2021 indicou 61 espécies de mamíferos vítimas de atropelamentos em situação preocupante de conservação no mundo. Desse grupo, os pesquisadores destacaram as quatro espécies com maior risco de terem populações extintas localmente em 50 anos se os níveis de atropelamentos nas regiões onde vivem persistirem. Entre as espécies brasileiras, está a população de gatos-do-mato-pequeno-do-sul do oeste de Santa Catarina.

A sobrevivência da espécie depende do aumento do conhecimento do pequeno felino

Para a conservação do gato-do-mato-pequeno-do-sul é necessário aumentar o nível de conhecimento da espécie, restabelecer a conectividade dos habitats fragmentados, intensificar ações fora das Unidades de Conservação incluindo a educação ambiental e o controle de doenças transmitidos pelos animais domésticos e melhorar o manejo das populações em cativeiro estabelecendo metas de criação de uma população cativa geneticamente saudável para reintrodução da espécie onde seja necessário.

Impedir a transmissão de doenças aos gatos silvestres por animais domésticos é fundamental para a sobrevivência desses felinos

Uma iniciativa importante que contribui para a conservação do gato-do-mato-pequeno-do-sul entre outras espécies, foi a criação em 2021 do Tiger Cat Conservation Initiative (TCCI), focado em desenvolver projetos de conservação das diferentes espécies de gatos do mato neotropicais que ocorrem ao longo das Américas do Sul, Central e do Norte. Os projetos que compõem o TCCI têm atuado em todas as frentes, mas é na mitigação da transmissão de doenças que o coletivo tem trabalhado mais fortemente nos últimos meses. Em março deste ano (2022), foi realizada a primeira campanha intercontinental de vacinação de cães que vivem nas proximidades de áreas de conservação para diminuir a disseminação de doenças para pequenos felinos silvestres, ocorrendo em 17 áreas prioritárias ao longo de seis países (Brasil, Colômbia, Venezuela, Peru, Costa Rica e México). O projeto desenvolvido pelo TCCI conta com o financiamento de instituições como a Small Wild Cat Conservation Foundation (SWCCF) e o The Mohamed bin Zayed Species Conservation Fund.

 Fonte: PróCarnívoros, UFRGS, Rã-Bugio, Revista Veja, O Eco (1),Mongabay, Mira-Serra, O Eco(2), Wild Cat Family

Foto: Gato-do-mato-pequeno-do-sul_by Gustavo Pedro