Até hoje somente duas aves que constavam na Lista Vermelha da IUCN como extintas na natureza, tiveram sua classificação revista pela entidade e foram reclassificadas como criticamente ameaçadas: o condor da Califórnia (Gymnogyps californianus) e a ave Ko’Ko da ilha de Guam (Gallirallus owstoni). Nos dois casos a reclassificação foi possível devido ao sucesso dos esforços de reintrodução das espécies na natureza. A reclassificação da ave Ko’ko ocorreu em 2019.
A ave ko’ko é espécie não voadora
da ilha de Guam que foi aniquilada por cobras exóticas
A ave Ko’ko de Guam (Gallirallus
owstoni, anteriormente Hypotaenidia owstoni), tem um tamanho médio
com cerca de 28 cm de comprimento. Seu corpo é compacto e alongado, permitindo
que as aves se movam rapidamente pela vegetação densa. Tem coloração marrom
escura, com listras brancas na barriga. As pernas e o bico são marrom-escuros. Alimentam-se
de caracóis, insetos e lagartos. São bastante territoriais defendendo com
agressividade sua área de outras aves.
É uma espécie não voadora que
habitava a ilha de Guam, no
Pacífico onde o último exemplar em estado selvagem foi morto em 1987 pela cobra-de-árvore-marrom
(Boiga irregularis) que é um predador invasor introduzido no final da
Segunda Guerra Mundial. A ave ko’ko não tinha experiência com tal
predador e não tinha comportamentos de proteção contra a cobra.
Consequentemente, era uma presa fácil para esse réptil que aniquilou a espécie
na ilha.
Captura dos exemplares
restantes foi fundamental para o início do programa de reprodução
Os últimos 21 exemplares da
espécie foram capturados, incluindo alguns ovos, para iniciar um programa de
reprodução em cativeiro. Foi assim que após seu desaparecimento em estado
selvagem na Ilha de Guam, a espécie foi criada em cativeiro pela Divisão de Recursos Aquáticos e de Vida
Selvagem em Guam e em alguns zoológicos do continente americano. O Programa
de reprodução em cativeiro teve início com apenas três zoológicos nos Estados
Unidos - o Zoológico do Bronx, o Zoológico da Filadélfia e o Zoológico
Nacional em Washington, DC. Sendo bem sucedido, o programa estendeu-se para
outros zoológicos a partir de 2008, incluindo o Audubon Zoo em Nova Orleans,
o San Diego Zoo, o Santa Fe College Teaching Zoo e
zoológicos em Chicago , Houston e Santo Antônio, somando-se 17 instituições no
total.
A volta à natureza da ave ko’ko
ainda não foi possível na Ilha de Guam
No entanto, devido a quantidade
de cobras marrom na ilha de Guam, tornou-se inviável a reintrodução nesse
espaço. Os exemplares foram soltos então nas ilhas vizinhas de Rota e Cocos que
não tinham esse predador. Desde 1995, mais de 100 exemplares foram introduzidos
na ilha de Rota na Comunidade
das Ilhas Marianas do Norte na tentativa de estabelecer uma colônia de
reprodução selvagem. No entanto a predação de gatos selvagens e as mortes
acidentais foram extremamente altas nessa ilha, dificultando a sobrevivência
sustentável do Ko’ko. Atualmente um pequeno número de aves ainda se
mantém em liberdade nesse local.
Resolveu-se então tentar a reintrodução
do Ko’ko na ilha de Cocos, sendo soltas 16 aves em 2010 e mais 12 em
2012. Atualmente apenas a população da ilha dos Cocos é considerada
autossustentável; embora a população deva ser extremamente pequena pelo
reduzido tamanho da ilha. Por esse motivo a IUCN mantém a espécie listada como criticamente
ameaçada (CR). Na reintrodução bem sucedida na ilha dos Cocos adotaram-se
diversas medidas preliminares para impedir ou diminuir a ação de predadores.
Inicialmente foram erradicados os ratos da ilha e as populações de lagartos-monitores
foram reduzidas para minimizar seus impactos nos Ko’ko que foram soltos.
Graças ao programa de reprodução em cativeiro de 35 anos, a ave Ko’ko de Guam
está agora estabelecida na vizinha Ilha dos Cocos que não tem cobras em seu
território.
As cobras extinguiram várias espécies
na Ilha de Guam
O que aconteceu na Ilha de
Guam deve servir de exemplo e alerta para outras regiões que sofrem com a
ação de predadores exóticos introduzidos e que aniquilam as espécies nativas.
Em Guam nove das onze espécies de pássaros nativos da floresta foram extintos.
Cinco deles eram endêmicos. Duas dessas espécies foram criadas em cativeiro – a
ave ko’ko e o martim pescador de Guam (Todiramphus cinnamominus ) -. Até
agora somente a ave ko’ko foi reintroduzida, com sucesso no ambiente
natural. Várias outras espécies nativas existem ainda em número muito pequenos
e seu futuro em Guam é incerto enquanto se mantiverem as cobras na ilha.
Somente com a remoção total
das cobras a ave ko’ko poderá voltar ao seu habitat original
A recuperação da ave ko’ko
é uma prova de quão eficaz pode ser a ação de conservação bem direcionada. No
entanto é fundamental para trazer espécies de volta que seu habitat não seja
destruído. A prioridade deve ser sempre conservar os habitats. No caso da ave
ko’ko para que retorne ao seu habitat original, a Ilha de Guam, a
cobra-marrom arbórea necessita ser removida completamente do local. Só então
poderia haver o retorno de espécies que desapareceram devido a esse predador
exótico.
Fonte: IUCN,
Datazone-birdlife,
Sputnik-Brasil,
Birdlife
International, NRDC,
Island
Conservation, Pacific
Daily News, CNN,
WildLife
Society
Foto: Ave Ko'ko da Ilha de Guam_by Jamie Greene