Redescoberto depois de 40 anos o Mutum-pinima ainda está à beira da extinção


Considerada durante muito tempo como uma espécie fantasma, quase lendária devido ao seu desaparecimento desde 1978, quando foi registrado pela última vez, o mutum-pinima (Crax pinima) foi redescoberto em dezembro de 2017 após 40 anos sem ser avistado. Atualmente é considerada uma espécie plena pela IUCN, anteriormente, era conhecida como subespécie do mutum-de-penacho (Crax fasciolata) com o nome científico de Crax fasciolata pinima.

Há um pequeno número de exemplares restantes do mutum-pinima numa área restrita

Atualmente a espécie ocorre na Reserva Biológica do Gurupi, e áreas adjacentes no Maranhão e há relatos de ocorrência na Reserva Florestal do Grupo Agropalma situada no município de Tailândia, no Pará. A população do mutum-pinima é difícil de ser avaliada devido ser raramente visto. No entanto, a identificação de apenas alguns espécimes nos últimos anos sugere que restariam menos de 100 indivíduos, possivelmente até menos de 50. Devido a isso a espécie é classificada como Criticamente Ameaçada (R) na Lista Vermelha da IUCN.

Habita as florestas existentes próximas aos rios, ciscando em suas margens bem cedo e ao entardecer e dormem empoleirados no tronco das árvores. Alimenta-se predominantemente de frutos, comem sementes e restos de vegetais, folhas, brotinhos, gafanhotos, pererecas, lagartos e aranhas.

Região onde vive o mutum-pinima é onde se inicia o arco do desmatamento da Amazônia

A região onde vive a espécie é conhecida como Centro de Endemismo Belém, uma área biogeográfica localizada entre os estados do Pará e Maranhão, que é também onde se inicia o arco do desmatamento, a área mais desmatada da Amazônia.  A expansão do agronegócio e da extração madeireira tornou o Centro de Endemismo Belém o setor mais desmatado da Amazônia, restando apenas algumas grandes e bem preservadas áreas florestais. Mesmo dentro de reservas como Gurupi, a destruição do habitat tem sido significativa, pois a extração ilegal de madeira, cultivo e pastagem continuam ocorrendo. A caça é um dos significativos fatores responsáveis pelo declínio da espécie.

O mutum-pinima tem acentuado dimorfismo sexual. O macho é negro com abdômen branco e as pernas enegrecidas, com a ponta da cauda branca e um bico amarelo. A região em volta dos olhos é nua e negra. A fêmea possui topete negro manchado de branco, cabeça e pescoço preto, peito cor de canela e barriga bege. No Pará a denominação de mutum-pinima tem o significado de “cheio de pintas” que é aplicado às fêmeas pôr as possuírem.

Proteção da espécie em Gurupi deve ser ampliada com a inclusão das terras indígenas

A ave sobrevive na Reserva Biológica de Gurupi e nas terras indígenas circunvizinhas, isso reforça a necessidade de integração dessas áreas, para aumentar a proteção dos últimos remanescentes de floresta amazônica do estado do Maranhão. Além disso há necessidade de investimento em pesquisa, educação ambiental e recuperação de habitat, especialmente de matas ciliares e formação de corredores ecológicos para conexão das áreas protegidas. Ainda é necessária uma salvaguarda de longo prazo com a criação em cativeiro, pois o mutum é facilmente mantido e reproduz-se com relativa facilidade em cativeiro. No Brasil e no México há uma pequena população de mutum-pinima cativos.

Lançada, neste ano, iniciativa para proteção do mutum-pinima com apoio internacional

Entre os esforços de conservação do mutum-pinima é importante citar a iniciativa que foi lançada em junho de 2022, pelos estados do Maranhão, Pará e Tocantins de criação de um Plano de Ação Territorial (PAT Meio Norte) para espécies ameaçadas de extinção e que integra o Projeto Pró-Espécies: Todos contra a extinção, que é financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), sendo o WWF-Brasil a agência executora.

Os organismos que representam os estados no PAT Meio Norte são:  a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais do estado do Maranhão (SEMA-MA), o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do estado do Pará (IDEFLOR-Bio) e o Instituto Natureza do Tocantins (NATURATINS).

A parceria entre os estados permitiu a definição de um território integrado na divisa entre os três estados, sendo a maior parte representada pelo bioma Amazônico e pelo ambiente de transição para o Cerrado brasileiro. Entre as espécies-alvo prioritárias do PAT Meio Norte categorizadas como CR (Criticamente em Perigo) de extinção está o mutum-pinima.

 

Fonte: ICMBio, Mundo das aves, Especes-menacees, Ambiente Brasil, BirdLife International, O Eco ,  WWF Brasil 

Foto: Mutum-pinima_by Emanuel Barreto