Pacarana difícil de ser avistada, pouco estudada e ameaçada pelo desmatamento


A Pacarana (Dinomys branickii) é um raro e lento roedor nativo da América do Sul. Seu nome, em linguagem indígena, significa “falsa paca” por ser, um pouco semelhante à paca (Cuniculus paca), um roedor diferente que não é da mesma família. Sua distribuição abrange as florestas tropicais da bacia do rio Amazonas ocidental e as encostas próximas da Cordilheira dos Andes. É encontrada no noroeste da Venezuela e Colômbia ao oeste da Bolívia, passando pelo Peru e Equador. No Brasil habita o Acre e a região oeste do Estado do Amazonas.

Considerada um fóssil vivo a pacarana deve ser preservada a todo custo

A pacarana é o único membro vivo de uma família (Dinomyidae) de grandes animais pré-históricos de milhões de anos atrás (período Mioceno), roedores gigantes do tamanho de um rinoceronte, como o que viveu na Argentina (Telicomys gigantissimus). Por esta razão a pacarana é atualmente considerada um fóssil vivo.

A pacarana é um dos maiores roedores do mundo, ocupando o terceiro lugar

A pacarana é o terceiro maior roedor do mundo, logo após a capivara e o castor. As pacaranas podem ser facilmente diferenciadas das pacas pela presença de sua longa cauda, coloração escura, cabeça e corpo mais robustos. Além disso, costumam ser mais pesadas e um pouco maiores do que as pacas. A pacarana tem um corpo robusto, pesando até 15 kg e medindo até 79 cm de comprimento, sem incluir a cauda grossa e peluda de até 20 cm. A espécie tem, ainda, orelhas pequenas e pescoço grosso. Essas partes, juntamente com as pernas dianteiras, são essencialmente de cor sólida, mas o resto de sua pelagem preta ou marrom grossa é quebrada por duas listras brancas graduadas em manchas ao longo das costas e fileiras de manchas brancas nas laterais.

A pacarana tem hábitos noturnos e apesar de construírem e viverem em tocas, são ótimas escaladoras. As pacaranas que vivem em cativeiro preferem subir em árvores para dormir. Elas se alimentam principalmente de frutas, folhas e caules de plantas. Enquanto se alimenta, assume uma postura sentada.

Pacaranas são animais dóceis e lentos o que facilita sua caça

Fato curioso é que o nome científico do gênero da pacarana vem de uma palavra grega que significa literalmente “rato terrível”. No entanto a espécie é totalmente diferente do que o vocábulo sugere, revelando-se em cativeiro como um animal dócil, mansos e afetuosos, que procuram ativamente os humanos para acaricia-los. Devido a essa docilidade tornaram-se animais que são caçados com certa facilidade quando encontrados.

Sua alta especificidade na seleção de habitats – florestas tropicais -, reduz a capacidade de expansão e estabelecimento das pacaranas, agravado pelas características de sua biologia reprodutiva que retardam sua recuperação populacional. Além disso sua relativa mansidão e tamanho, as tornam presa fácil para os predadores. Essas características tornam a espécie naturalmente vulnerável. Nesse sentido, a expansão da fronteira agrícola, que sempre traz consigo a destruição de habitats e a caça de subsistência, constituem as ameaças diretas mais relevantes que podem acelerar o processo de extinção.


Estudo revela que a caça é importante ameaça à sobrevivência da pacarana

Estudo da população de pacaranas na Colômbia publicado em março de 2016  denominado “A caça, ameaça potencial para a dinâmica populacional de pacaranas” revelou que a caça combinada com alta especificidade de nicho em face da fragmentação do habitat aumenta ainda mais o risco de extinção para as populações de pacaranas andinas colombianas. Os resultados mostraram que com a extração de indivíduos das populações projetadas em 100 anos, há uma redução de até 60%. O estudo mostrou que a espécie é propensa à extinção e são sensíveis à extração de indivíduos, de modo que a caça afeta as populações atingidas, somada à redução do habitat devido à fragmentação das florestas nos Andes da Colômbia.

A reprodução em cativeiro da pacarana para posterior soltura é medida iniciada na Colômbia

Em agosto de 2020, na Colômbia, 15 pacaranas foram soltos nas matas da Casa de Passagem de Fauna Torre IV, da Corporação Autônoma Regional de Caldas. Os animais fazem parte do projeto de pesquisa para a conservação desta espécie liderado pela Sociedade Colombiana de Etnobiologia (SCE), em conjunto com Arasari Conservación e Investigación (ACI) e apoiado pela Zoological Society for the Protection of Species and Populations (ZGAP), Newquay Zoo, Chester Zoo, Poznan Zoo, Los Angeles Zoo, Tierpark Cottbus e ZooAG Bielefeld e o Centro Internacional de Conservación de la Pacarana estabelecido em Torre IV. O grupo de animais foram criados em recinto fechado e tiveram origem em indivíduos recuperados em apreensões e outros que nasceram em cativeiro. Os animais ficaram quase três meses em fase de pré-soltura, sendo monitoradas permanentemente para avaliar sua adaptação a espaços abertos e fontes naturais de nutrição.

A preocupação quanto a sobrevivência das populações da pacarana está relacionada com as poucas pesquisas sobre a espécie, embora especialistas estimam que está havendo declínio de suas populações que chega a atingir 30% nos últimos dez anos devido à destruição, degradação e fragmentação do seu habitat, reduzindo sua distribuição e isolando subpopulações. As sugestões para melhorar as perspectivas de conservação da pacarana incluem a necessidade de estabelecer centros de reprodução com o objetivo de realizar programas de reintrodução em áreas adequadas. Atualmente apenas alguns zoológicos possuem exemplares da espécie. Uma colônia de criação de animais muito ativa é mantida no Zoológico de San Diego; originada com importações da Colômbia.

 Fonte: G1Globo, Animal Diversity, Bioweb, Fundación Ecominga, Britannica, WCS, Stringfixer, Libro Rojo de la Fauna Venezolana, Animal.Info, TSA, Infopédia, Tambotal Lodge, Semana, Alchetron, Lacobaya 

Foto: Pacarana_by Leonardo Kerber e segunda foto: by André Pessoa