Cachorro-do-mato vinagre tem ampla distribuição, mas é raro e pouco estudado

Speothos venaticus venaticus

 Um dos seis canídeos existentes no Brasil, o cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus) está presente em quase todos os biomas do país. Sua distribuição vai da Costa Rica e Panamá até a província de Misiones, na Argentina, e o estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. Além de sua raridade, é considerado de difícil localização pelo seu comportamento arredio e pouco conhecido.

O cachorro-do-mato-vinagre é único canídeo sul-americano que caça em matilha

O cachorro-do-mato-vinagre apresenta pelagem marrom escura, corpo alongado, possui pequenas orelhas arredondadas e pernas e cauda curtas. Medem entre 57 e 75 cm de comprimento, possuem 12 a 15 cm de cauda e podem pesar de 5 a 8 kg.  Possuem uma coloração castanho-avermelhada que escurece, tornando-se marrom-escuro ou preto na parte posterior e cauda. Apesar de pequenos, são ferozes e com fortes mandíbulas. São animais sociáveis vivendo em bandos de 2 a 12 indivíduos que cooperam caçando em matilhas, sendo os únicos canídeos sul-americanos que o fazem dessa forma colaborativa. Os hábitos da espécie são diurnos e, à noite, se recolhem para dormir em cavidades nas árvores ou tocas.

A espécie vive próxima à água sendo hábil nadador e mergulhador

Vive em florestas e cerrado, sempre perto da água. Possui uma adaptação para viver em regiões alagadas; seus dedos são ligados por uma membrana, o que o torna hábil mergulhador e nadador. Eles se alimentam predominantemente de grandes roedores, especialmente cutias, pacas e capivaras, além de pequenos veados e emas. Devido sua afinidade com a água, no Peru é conhecido como “cachorro d’água”.

Amplamente distribuído, com baixa densidade populacional e pouco conhecido pela ciência

É uma espécie pouco conhecida pela ciência, embora seja amplamente distribuída, no entanto apresenta baixa densidade populacional. Sua ocorrência é registrada na Costa Rica, Panamá, Equador, Colômbia, leste do Peru, Brasil, Venezuela, Guiana, Paraguai, nordeste da Argentina e leste da Bolívia. Em artigo publicado na revista científica Neotropical Biology and Conservation, em seu número de dezembro de 2017 foi confirmada a existência do cachorro-do-mato-vinagre na Costa Rica com a utilização de armadilhas fotográficas.

No Brasil está presente nos biomas Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, e foi registrada no bioma Caatinga, no Ceará, fora da área de ocorrência histórica da espécie. Antigamente, o cachorro-vinagre estava distribuído por quase todo o país. No entanto, hoje sua presença tem sido registrada em populações bastante fragmentadas em Unidades de Conservação.

Speothos venaticus venaticus

Existem três subespécies de cachorro-do-mato-vinagre

três subespécies do cachorro-do-mato-vinagre, duas delas com ocorrência no Brasil. O cachorro-do-mato-vinagre sul-americano (Speothos venaticus venaticus), com distribuição geográfica nas Guianas, norte e centro do Brasil até Mato Grosso, nordeste do Peru, leste do Equador, leste da Bolívia e norte do Paraguai. O cachorro-vinagre-do-sul (Speothos venaticus wingei), com uma distribuição que inclui o sul do Brasil e o Paraguai, bem como o extremo nordeste da Argentina. As primeiras fotos com armadilhas fotográficas desta subespécie na Argentina foram obtidas em abril de 2016 na província de Misiones, na Argentina.

Uma terceira subespécie, o cachorro-vinagre panamenho (Speothos venaticus panamensis) ocorre no noroeste da América do Sul com uma distribuição que inclui a Costa Rica, Panamá, norte da Colômbia, Venezuela e oeste do Equador. Só recentemente (2017) sua presença foi registrada na Costa Rica por meio de armadilha fotográfica.

Embora quase ameaçado no geral, no bioma Mata Atlântica está criticamente ameaçado

Considerando a população efetiva do cachorro-do-mato-vinagre em todo território brasileiro está estimada em cerca de 9.350 indivíduos. De acordo com a Lista Vermelha da IUCN, o cachorro-vinagre encontra-se “quase ameaçado” de extinção (NT). No Brasil a espécie é considerada no todo como “vulnerável”, no entanto existem situações específicas. O cachorro-vinagre-do-sul (Speothos venaticus wingei) está criticamente ameaçado em toda sua extensão. As duas maiores subpopulações dessa subespécie no bioma Mata Atlântica, a do fragmento de Paranapiacaba (SP) e a do Parque Nacional do Iguaçu (PR), não têm mais do que 50 indivíduos adultos cada. Somando-se as populações restantes de São Paulo e do Paraná, estima-se mais 179 indivíduos. Sendo assim, a provável população efetiva seria de 342 indivíduos na Mata Atlântica. No Rio Grande do Sul foi feito um registro, pela primeira vez, da subespécie em julho de 2020, no Parque Estadual do Turvo.  

Speothos venaticus wingei

O cachorro-do-mato-vinagre por ser uma espécie rara sua conservação deve ser priorizada, devido a que o desmatamento e a diminuição de presa ameaçam sua sobrevivência. No caso da subespécie do sul a situação é mais critica por estar criticamente ameaçada, apresentando números populacionais extremamente baixos.

Fonte: Ecoa, SEMA-RS, Instituto Pró-carnívoros, Onçafari, BioBrasil, Docelunas, ABC Rural, Conicet Nordeste, Weekend, SOS Pantanal, Ambiente Brasil, Biotemas, Biofaces, INPA

Foto:Cachorro-do-mato-vinagre_MPMS, segunda foto: do Pq Nacional das Emas_by Marcus Buononato e terceira foto: na Mata Atlântica_Zigh Koch