Espécie de canídeo
sul-americano, o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas (Atelocynus
microtis) é encontrado na bacia amazônica da Colômbia, Equador,
Peru, Bolívia e Brasil. No bioma amazônico brasileiro ocorre nos estados
do Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará e Amazonas, com limites de distribuição ao
sul dos rios Amazonas e Negro, do rio Tocantins ao Mato Grosso, na bacia do rio
Paraguai. Duas subespécies são conhecidas: Atelocynus microtis microtis
e Atelocynus microtis sclateri
Raramente visto, o
cachorro-de-orelhas-curtas é o menos conhecido dos cachorros selvagens
É o menos conhecido dos canídeos
selvagens e raramente visto no seu ambiente natural. Tem um peso aproximado
de 10 kg, altura de cerca de 36 cm e mede por volta de um metro da cabeça até a
cauda longa e grossa. O focinho é longo e afilado e sua característica mais
marcante são as orelhas curtas e arredondadas. Seus membros curtos permitem que
ele se mova facilmente dentro de florestas densas.
Os cães de orelhas pequenas
são carnívoros generalistas, predando peixes, insetos, pequenos
mamíferos, anfíbios, pássaros e répteis. Também comem frutas, embora o item que
mais se sobressai na sua dieta são os peixes. Está espécie geralmente é
solitária, mas já foram observados caçando em pares.
O cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas
é normalmente associado com rios. Muitos dos avistamentos ocorrem com eles
dentro ou nas margens de rios e riachos. A membrana interdigital parcial de
suas patas sugere que são parcialmente aquáticos.
A espécie apresenta densidades
populacionais muito baixas e prefere florestas densas
Os cachorros-do-mato-de-orelhas-curtas
são uma das espécies mais raras de carnívoros da América do Sul, com uma
população estimada em apenas 15.000 indivíduos. Eles estão listados como quase
ameaçados de acordo com a Lista Vermelha de
Espécies Ameaçadas da IUCN. As principais ameaças a esta espécie são a perda
de habitat e a transmissão de doenças de cães domésticos. Essas doenças
incluem o vírus da cinomose canina e o parvovírus canino. A perda de habitat
está sendo o maior problema atual para a espécie, pois esta ocorre em
densidades populacionais muito baixas e apresenta preferência por áreas
não-perturbadas como florestas intactas.
O cachorro-de-orelhas-curtas é
especialmente afetado pelo desmatamento
Uma das maiores ameaças para a
sobrevivência da espécie é o desmatamento que ocorre em larga escala na
Amazônia. Cerca de 40% da distribuição geográfica da espécie se encontra
exatamente sobre o arco do desmatamento, região que concentra os maiores
índices de destruição da Floresta Amazônica.
Pesquisa apontou que o
arco-do-desmatamento reduziu muito a distribuição da espécie
Pesquisa publicada em 22 de abril
de 2020 na revista Royal Society
Open Science, avaliou que dentro do período de 3 gerações (18 anos), a
expansão do arco do desmatamento implicou em uma redução de cerca de 28%
da distribuição da espécie, indicando uma provável redução populacional
equivalente. O estudo indicou que os animais vivem bem em áreas de floresta
fechada e evitam as abertas. Os pesquisadores concluíram que a distribuição
geográfica dessa espécie pode encolher 30% até 2027, devido à perda de
vegetação nativa. Essa proporção pode chegar a 40% da distribuição da
espécie em áreas desprotegidas e ultrapassar 60% em algumas porções de terra
separadas por grandes rios da bacia amazônica. Os resultados enfatizam
que a perda de floresta representa uma séria ameaça à conservação da
espécie em um curto espaço de tempo. Por isso, os cientistas propuseram uma
reavaliação do status atual da Lista Vermelha da IUCN do cão de orelha curta de
Quase Ameaçado (NT) para vulnerável (VU).
Há necessidade urgente de se
intensificar estudos sobre a espécie para salvá-la da extinção
O cachorro-de-orelhas-curtas
não é objeto de pesquisas no Brasil. A biologia, patologia e ecologia da
espécie são pouco conhecidas. Especialmente falta qualquer estimativa
verdadeira da densidade populacional e uma compreensão dos requisitos de
habitat da espécie. O estabelecimento de medidas concretas de conservação da
espécie depende da contribuição que possa vir de um aumento dos estudos do cachorro-de-orelhas-curtas.
Fonte: ICMBio, Canid Specialist Group, Animal Diversity Web (ADW), Pró Carnívoros, Revista Pesquisa Fapesp, Ambiente Brasil, Stringfixer
Foto: Cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas_Igor de le Vingne