O abutre-egipcio (Neophron percnopterus) é uma espécie de abutre encontrado na Europa, Ásia e África. São identificados facilmente pela plumagem branca e pescoço emplumado. São classificados globalmente pela Lista Vermelha da IUCN como em perigo (EN) de extinção.
São conhecidas três subespécies do abutre-egípcio:
O Neophron
percnopterus percnopterus que tem a maior distribuição,
ocorrendo no sul da Europa, norte da África (incluindo as ilhas de Cabo Verde),
Oriente Médio, Ásia Central e noroeste do subcontinente indiano; o N.p.
ginginianus, a menor subespécie, ocorre na maior parte do subcontinente
indiano e o N. p. majorensis, o de distribuição mais restrita e a maior
subespécie, é encontrado apenas nas Ilhas Canárias.
O abutre-egípcio-das-Canárias é
endêmico dessas ilhas do Atlântico
O abutre-egípcio-das-Canárias (Neophron
percnopterus majorensis) também conhecido localmente como “Guirre” é
uma subespécie que é encontrada somente nas Ilhas Canárias. Tendo sido
comum na maior parte do arquipélago, hoje só é encontrado nas ilhas mais
orientais de Fuerteventura, Lanzarote Alegranza.
O Guirre se alimenta
principalmente de carcaças de pequeno e médio porte (vertebrados), mas também
comem insetos e vertebrados jovens e podem se alimentar de vários tipos de
lixo, incluindo matéria vegetal. Também são frequentadores assíduos de
lixeiras.
Em áreas sem árvores, como em Fuerteventura,
eles normalmente usam postes de eletricidade para poleiros, o que determina que
os acidentes em linhas de energia são a principal causa de mortalidade não
natural.
Tendo chegado à beira da extinção, o
guirre se recupera
O abutre-egípcio foi difundido
em todo o arquipélago no início do século 20, mas seus números diminuíram
drasticamente e, em 1998, apenas cerca de 21 casais reprodutores permaneceram
em Fuerteventura. Graças a ações de conservação direcionadas, a população
quadruplicou entre 1998 e 2020, de 21 para 80 casais reprodutores. Esses
números mostram que a população do abutre-egípcio-das-Canárias está se
recuperando. Em 2021, iniciaram o vôo 49 jovens, 43 em Fuerteventura e 6 em
Lanzarote e ilhotas vizinhas; até 41 desses pássaros foram equipados com anéis
(assim como 46 indivíduos adultos, que foram capturados e marcados). Apesar do
aumento da população, os parâmetros reprodutivos mostram uma forte
irregularidade e uma aparente tendência decrescente. Uma pesquisa publicada na
revista científica Journal of
Applied Ecology, de fevereiro de 2019, estimou a sobrevivência anual do abutre-das-canárias
adulto em 93% ao ano, e poderia cair para 91% em 2020, valor ainda superior ao
dos primeiros anos de monitoramento (89 %).
Em 2021, a
população de abutres egípcios nas
Ilhas Canárias ultrapassou os 400 indivíduos, segundo o Projeto LIFE Egyptian Vulture. Nesse ano a população de abutres egípcios das Ilhas
atingiu 402 indivíduos, enquanto, em 2019, foram registrados 361
indivíduos. Assim, nas últimas três épocas reprodutivas, a população
registou um aumento superior a 11%, o que significa o maior crescimento
observado nos últimos anos. Além disso, em 2021, a
população de guirre consistia em 191 adultos reprodutores (171 em
Fuerteventura e 20 em Lanzarote e nas ilhas menores de Alegranza e Montaña
Clara) e 211 abutres não reprodutores
Embora aumentando sua população, o
guirre ainda corre muitos riscos
O abutre-egípcio-das-Canárias
está se recuperando da beira da extinção. Embora seus números estejam
aumentando constantemente, ainda corre riscos, devido a rápidas mudanças ambientais;
aumento no número de fazendas, desenvolvimento turístico e surgimento de novas
infraestruturas como parques eólicos. Outras ameaças permanecem como a morte por
eletrocussão e colisão com linhas de alta tensão, envenenamento ilegal e
intoxicação por chumbo por ingestão de balas. As ações de conservação
que estão sendo tomadas ou planejadas incluem medidas para mitigar a
mortalidade das linhas de transmissão, aumento da vigilância das áreas de
nidificação e educação pública.
Os esforços de conservação incluem a
educação ambiental das crianças em idade escolar
Um grupo de trabalho realiza
permanentemente atividades de monitoramento do Abutre-egípcio-das-Canárias. Este
grupo é constituído pela Estación
Biológica de Doñana-CSIC. O trabalho de campo realizado
pelos pesquisadores envolve o censo do abutre, o monitoramento da reprodução e
a utilização de poleiros e estações de alimentação complementares. A marcação de indivíduos também é realizada pelo grupo. Cerca
de 90% dos abutres-egípcios que vivem em Fuerteventura e Lanzarote estão
marcados com anéis tornando-os identificáveis. São 352 abutres egípcios com
um anel de PVC, que facilita a leitura à distância.
Entre os meses de janeiro e maio de
2021, foram realizadas 319 sessões educativas no âmbito do Projeto LiFE abutre-egípcio, sob a
coordenação da GESPLAN (Gestión
y Planeamiento Territorial y Medioambiental) Órgão do Governo das Ilhas
Canárias com o objetivo de divulgar a importância dessas aves das ilhas de
Lanzarote e Fuerteventura. Durante a atividade os alunos aprenderam sobre as
causas da redução do abutre-egípcio (inseticidas, eletrocussão e veneno).
Esse tipo de atividade mostra a importância da educação ambiental como suporte
à educação comum, sendo um complemento ao currículo escolar. Estas aulas, que
se repetirão em outros anos, permitem apresentar o guirre, a sua
biologia, a sua história, o seu presente e o seu futuro, para a escola primária
e do primeiro ano do ensino médio.
Foto: Abutre-egípcio-das-Canárias-Divulgação Cabildo de Fuenteventura