Solenodonte de Cuba, mamífero venenoso e fóssil vivo que resiste a extinção


Solenodontes são pequenos mamíferos que se situam entre as espécies mais evolutivamente distintas em todo planeta. Eles são os últimos sobreviventes de um grupo diversificado de antigos insetívoros que habitaram o Caribe e viveram milhões de anos sem mudanças significativas, um animal primitivo, considerado um fóssil vivo.

Atualmente existem apenas duas espécies de solenodonte – o solenodonte Hispaniola (Solenodon paradoxus) e o solenodonte cubano (Sonelodon cubanus). Todos os solenodontes são classificados na Lista Vermelha da IUCN como em perigo de extinção (EN).

Esses estranhos mamíferos são únicos ao possuírem veneno

Essas espécies são noturnas, passando o dia escondido em fendas de rochas, árvores ocas ou tocas que eles cavam. Pesam cerca de 1 kg, sendo que o solenodonte hispaniola é maior e mais pesado. Apresentam uma característica única entre os mamíferos, possuem veneno que injetam em suas presas utilizando seus incisivos inferiores. Esse veneno permite que se alimentem, além de insetos, de animais maiores como rãs, pequenos répteis e até mesmo alguns roedores.

Solenodonte cubano está correndo risco maior de extinção

Entre as duas espécies a que demanda maior preocupação de conservação é o solenodonte cubano, também conhecido como almiqui localmente, que já foi declarado extinto inúmeras vezes. Foi descoberto pela ciência em 1861 e durante o período de 1890 a 1970 nenhum exemplar foi identificado e, quando os cientistas já se resignavam em declará-lo extinto, três espécimes foram capturados em 1974 e 1975. Depois novamente desapareceu e quando foi considerado extinto, um novo exemplar foi avistado em 2003 no  Parque Nacional Alejandro de Humboldt   no extremo leste de Cuba.

Desde então uma equipe de pesquisadores cubanos e japoneses procurou os animais e finalmente tiveram sucesso em março e abril de 2012, quando capturaram e estudaram sete exemplares. Dessa equipe fizeram parte o Instituto de Ecologia e Sistemática de Cuba e do Japão vieram da Universidade de Tsukuba, da Universidade de Hokkaido, do Museu Nacional da Natureza e da Ciência e da Universidade de Educação de Miyagi.

Colheita de DNA do solenodonte cubano permitiu rever teorias sobre sua evolução

Os pesquisadores colheram DNA dos exemplares capturados e aprofundaram os estudos sobre a evolução do solenodonte e chegaram a conclusão de que essa família evolui de um ancestral há cerca de 59 milhões de anos, muito tempo depois dos dinossauros, contrariando as teorias vigentes até então. A análise da equipe também revelou que o solenodon cubano e o solenodon Hispaniola divergiram um do outro no início do Plioceno (3,7 a 4,8 milhões de anos atrás). A pesquisa foi publicada na revista Scientific Reports de 8 de agosto de 2016.

Resta uma pequena população no leste da ilha de Cuba do solenodonte cubano

Atualmente uma pequena população do solenodonte cubano sobrevive na região leste da ilha, na parte mais remota da Serra de Cristal e do Parque Nacional Alejandro de Humboldt. O comprimento de seu corpo é de 30 cm, a sua cauda tem 20 cm e o seu peso médio é de 800 g. As duas principais ameaças à espécie são a perda de habitat e a predação por espécies invasoras de mamíferos como cães, gatos, porcos e ratos pretos.

Projetos de conservação pretendem dimensionar a real situação do solenodonte cubano

Está em curso o  Projeto de Conservação do Solenodon Cubano uma parceria entre o Grupo de Especialistas e Pequenos Mamíferos da IUCN (SMSG, da sigla em inglês), o Zoo New England e biólogos locais de Cuba, que pretende avaliar a real situação do almiqui e propor medidas para a sua conservação. Num primeiro momento serão realizadas pesquisas de campo em toda a área de distribuição da espécie no Parque Nacional Alejandro de Humboldt. As comunidades rurais locais deverão participar para identificar e aumentar o conhecimento das ameaças enfrentadas pela espécie.

O Fundo de Conservação de Espécies Mohamed bin Zayed também desenvolve projeto de conservação do solenodonte cubano que pretende elaborar um plano de ação para o controle das espécies exóticas invasoras na área de habitat da espécie, trabalhar com as comunidades locais para elevar o nível de conhecimento do animal e vincular sua proteção e promover a restauração de áreas degradadas no Parque Nacional Alejandro de Humboldt.

Fonte: BBVA OpenMind, Edge of existence, Smals Mammals, Animal diversity, Animalia,AMNH, Scientific American, The Guardian, Island Conservation, Zoonomia, Eurekalert, The MBZ Species Conservation Fund   

Foto: Hokkaido University