O macaco muriqui só é
encontrado na Mata Atlântica, é o maior primata das Américas. Atualmente
são divididos em duas espécies o muriqui-do-sul (Brachyteles
arachnoides) e o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus).
Os Muriquis do norte são encontrados desde o noroeste do Rio de Janeiro até o
sul da Bahia, incluindo os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, e os
Muriquis do sul são encontrados desde o sul do Rio de Janeiro até o norte do
Paraná, incluindo Estado de São Paulo.
Existem, diferenças observáveis
nas populações dos Muriquis do norte e do sul. As populações do norte,
possuem faces e genitália manchadas de rosa e branco (despigmentadas) e polegar
vestigial (vestígio de pouco ou nenhum uso), enquanto que as populações do sul
tem a coloração facial e genital inteiramente preta e não possuem qualquer
vestígio do polegar.
As ameaças ao muriqui-do-norte
O muriqui foi reconhecido pela UNESCO como identificador
de qualidade ambiental e o utiliza como símbolo de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Em
2011 o ICMBio lançou publicação
detalhando o Plano
Nacional para a Conservação dos Muriquis com 74 páginas onde fornece
importante dados sobre as duas espécies.
O muriqui-do-norte
apresenta uma tendência de diminuição populacional continuada em razão da
fragmentação severa da Mata Atlântica e do tamanho populacional reduzido de
algumas subpopulações. Sua população atual está estimada em cerca de 1000
indivíduos, espalhados em 13 grupos populacionais isolados uns dos outros,
assim distribuídos: oito localidades em Minas Gerais, três no Espírito Santo,
uma no Rio de Janeiro e uma na Bahia. Sofre ameaças resultantes da perda,
fragmentação e degradação da qualidade do hábitat, caça, especialmente
devido a assentamentos rurais, além de agricultura e pecuária. Atualmente, sua
ocorrência é reduzida a poucos fragmentos de floresta em Minas Gerais, Espírito
Santo, Bahia e Rio de Janeiro. Devido ao seu número reduzido e o risco que
corre devido às diversas ameaças à sua sobrevivência, o muriqui-do-norte
está classificado como “criticamente em perigo (CR)” de extinção pela IUCN.
Populações de muriquis estão
fragmentadas em áreas isoladas
As duas maiores populações do muriqui-do-norte
encontram-se no Parque
Nacional do Caparaó, na divisa de Minas com o Espírito Santo, com 372
indivíduos e no Parque Estadual
da Serra do Brigadeiro (PESB), em Minas Gerais, com 325 espécimes. Há
populações significativas da espécie somente nesses dois estados. Pesquisadores
e gestores públicos estão propondo a criação de um corredor ecológico entre
esses dois parques para conectar as duas maiores populações de muriquis do
norte. A terceira maior população da espécie está localizada na Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala, localizada
entre os municípios de Caratinga e Ipanema, em Minas Gerais, com 240
indivíduos. A entidade responsável por esta entidade mineira é a Sociedade para a Preservação do
Muriqui (Preserve-Muriqui) uma entidade privada sem fins lucrativos, com
sede no município de Caratinga. Na Bahia e no Rio de Janeiro as populações são
em número reduzido. Existem poucos indivíduos em cativeiro, e apenas o Centro
de Primatologia do Rio de Janeiro mantém um programa de reprodução em
cativeiro.
Bahia e Rio de Janeiro abrigam
populações reduzidas do muriqui-do-norte
Na Bahia, o último lugar onde
ocorre o muriqui-do-norte é o Parque
Nacional do Alto Cariri, criado em 2010, forma com o Parque Estadual Alto
Cariri e Refúgio de
Vida Silvestre Mata dos Muriquis, ambos em Minas Gerais, um dos maiores
trechos contínuos de mata do sudoeste da Bahia e extremo nordeste de Minas
Gerais. No Rio de Janeiro a pequena população está localizada no Parque
Estadual do Desengano, situado no Norte do estado e abrangendo os
municípios de Santa Maria Madalena, Campos dos Goytacazes e São Fidélis.
Programa de Conservação
Muriquis de Minas visa dar continuidade às ações do PAN Muriquis
Há diversas iniciativas buscando
tirar o muriqui-do-norte da perspectiva de extinção. Em Minas Gerais, em
2016, foi lançado o Programa
de Conservação Muriquis de Minas, idealizado por especialistas da ONG Muriqui
Instituto de Biodiversidade (MIB),
consolidado com o apoio da Fundação
Biodiversitas e seus parceiros e financiado pela Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O programa conta com outros
parceiros como a Reserva do Ibitipoca, Storm Security, as Universidades Federais de Goiás (UFG) e Regional Jataí (REJ) e de Viçosa (UFV). O projeto tem como objetivo dar
continuidade as ações de conservação do muriqui-do-norte em Minas
Gerais, previstas no Plano
de Ação Nacional para a conservação dos Muriquis (PAN Muriquis).
Projeto Rede Muriqui tem como objetivo encontrar fêmeas isoladas do primata e grupos isolados desconhecidos
As muriquis fêmeas ao atingirem a
maturidade sexual tem um comportamento fundamental para manter a diversidade
genética da espécie, de saírem de seu grupo para constituir uma nova família.
Ocorre que no ambiente impactado pelo desmatamento na Mata Atlântica,
onde predominam fragmentos isolados de floresta, muitas fêmeas se perdem e acabam
isoladas em porções de floresta. Levando em conta essa situação, em que se
perdem exemplares valiosos da espécie, surgiu em 2022 a iniciativa Projeto Rede
Muriqui, uma iniciativa do MIB, que busca muriquis isolados e perdidos em
fragmentos de floresta com apoio de proprietários rurais, prefeituras e
comunidades locais em 49 municípios entre Minas Gerais e Espírito Santo. A
proposta é um esforço de comunicação baseado em ciência cidadã, criando
uma rede de comunicação entre moradores e cientistas para identificar os
muriquis isolados. A fêmeas encontradas em isolamento, são capturadas para
posterior soltura dentro de um grupo com machos jovens. Para as viagens dos pesquisadores, a iniciativa
conta com o financiamento das empresas Gipsyy
e Ibiti Projeto. Os participantes do projeto
têm expectativa de que também sejam encontrados novos grupos isolados de
muriquis.
As pesquisas mostram que apesar
das dificuldades impostas pelos seres humanos, os muriquis-do-norte são
capazes de colonizar fragmentos de florestas próximas a áreas que ocupam
atualmente, indicando a possibilidade da tendência de declínio da espécie ser
interrompida. No entanto é necessário que haja ampliação da capacidade da floresta
de absorver essas novas populações, com medidas de restauração de ambientes
degradados, reconexão de fragmentos isolados de mata e ampliação das áreas florestais
de mata nativa.
Fontes: O
Eco,Século
Diário, Uaiagro,
Nova
Mata, Preserve Muriqui,
Biofaces,
MIB, WWF, Um Só Planeta