O marfim é produto
procurado no mundo todo como material associado a símbolo de riqueza ou
prestígio. Essa alta demanda tem provocado a morte de dezenas de milhares de
elefantes todos os anos, um a cada quinze minutos. Nos países asiáticos,
com destaque para a China, a existência de tradições milenares, associadas a
posse de marfim, são difíceis de serem combatidas.
O fato é que a utilização massiva
de marfim, em topo o mundo, para a confecção de diversos utensílios artesanais
como canecas, pentes, “hashi” (pauzinhos ou palitos utilizados como talheres em
parte dos países do Oriente), peças de xadrez, entre outros muito valorizados,
tem resultado no extermínio de animais.
Aumentou a procura pelo marfim
A procura pelo marfim nos últimos
anos teve um aumento significativo. Segundo a ONG Save the Elephants, em 2004
estavam registrados 31 pontos de vendas de marfim na China. Esse número subiu
para 145 em 2013. Além dessas lojas controladas, há inúmeros locais que
comercializam ilegalmente o “ouro branco”. Calcula-se que 90% do marfim
proveniente da China tenha origem ilegal.
Houve um crescimento
surpreendente dos preços do marfim no atacado em 2020. Isso incluiu um aumento
no preço do marfim no atacado na China, de cerca de US $ 750 / quilo no início
de 2017 para quase o dobro no final de 2020. Um aumento de preço menos drástico
também foi observado no Vietnã, com o preço do marfim atingindo US $ 689 / kg
em 2020 em comparação com uma média de US $ 629 / kg em 2018. O alto lucro
tem atraído diversas atividades criminosas.
Relatórios da Interpol, do PNUMA
(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), da OCDE (Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), do WWF (Fundo Mundial pela Vida
Selvagem) e de diversos setores independentes afirmam que o marfim africano
é um dos principais meios de financiamento desses grupos criminosos que
aterrorizam o continente.
A crueldade da matança dos
grandes paquidermes não tem limites. Para facilitar a caça os criminosos tem
utilizado lança-granadas, fuzis de alto poder destrutivo, e cianeto,
envenenando massivamente tanto os grandes animais que portam enormes presas
quanto as fêmeas grávidas e os filhotes.
Os mais visados são os elefantes
da savana africana
Mas os principais alvos do
comércio de marfim sempre foram os elefantes da Savana africana (Loxodonta africana) , os maiores de
todas as espécies, conhecidos por suas enormes e magníficas presas. Ao
contrário de suas contrapartes asiáticas, até mesmo as fêmeas têm presas. Essas
criaturas são frequentemente vistas nas vastas extensões das planícies de
savana, abrangendo o Quênia, Tanzânia e Uganda. O declínio mais chocante dessa
espécie de elefante foi testemunhado recentemente na Tanzânia em um
período de apenas seis anos. A contagem reduziu drasticamente de 109.000 para
43.000, o que é uma queda devastadora de 60 por cento.
A venda de marfim além de
beneficiar bandos de criminosos e terroristas, priva os países africanos de
arrecadar milhões de dólares gerados pelo turismo ecológico que tem como
principal atração a megafauna característica do continente. Moçambique, por
exemplo, perdeu em 2012 cerca de 21 milhões de dólares em receitas relacionadas
ao turismo, pois a redução drástica das populações de elefantes
prejudicou a visitação nas zonas turísticas que se beneficiavam de sua
presença. Hoje apenas 20% do habitat do elefante africano está sob proteção
formal.
Ações de governo toram efetiva
a proteção ao elefante
Uma boa notícia é o esforço
empreendido pela Tanzânia para combater a caça ao elefante. Esse país
havia perdido em cinco anos, entre 2009 e 2014, 60% da população do animal, um
número de mais de 60.000 elefantes.
Com o trabalho de uma força
tarefa, criada pelo governo, de combate ao tráfico de animais, as
populações de elefantes na Tanzânia aumentaram em 43.000 em 2014 para 60.000 em
2019, de acordo com fontes governamentais. Em um dos parques mais conhecidos, o
de Seremget, o número de elefantes aumentou de 6087 em 2014 para 7061 em 2020.
O trabalho realizado pelo governo
da Tanzânia mostra que um esforço concentrado de combate às máfias do marfim
é um caminho para recuperar as populações de elefantes.
No entanto, é urgente a adoção de
medidas que inviabilizem não somente a caça, mas o consumo do marfim. É
fácil culpar a cobiça dos caçadores furtivos, no entanto, são os consumidores
que recompensam essas práticas. Diminuir a valorização de produtos de marfim é
uma atitude responsável que pode fazer a diferença na sobrevivência dos
elefantes. Há vários produtos desse tipo que são comercializados em sites
chineses, também acessados por brasileiros que por ignorância ou cobiça,
contribuem para a matança desses icônicos animais. Utilizar os hashis de marfim
na culinária oriental para mostrar ascensão social e status, não é só de mau
gosto, mas uma atitude criminosa e insensata. Não há nenhuma segurança de que a
origem seja legal.
Diversas organizações de proteção
aos elefantes têm demonstrado que a comercialização do marfim está fora de
controle e a maior parte do que é vendido tem origem duvidosa. Evitar a
valorização de objetos de marfim é defender a vida de um belo e grandioso
animal que merece ser visto pelas próximas gerações caminhando livremente
nas pradarias e florestas africanas.
Foto: Christine Sponchia por Pixabay