Javali, pesadelo ecológico


 

Estamos acostumados a associar a degradação dos ecossistemas como a principal ameaça à biodiversidade global. No entanto, muitos desconhecem que a segunda maior ameaça à diversidade biológica são as espécies invasoras.

A Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB, define como espécie exótica invasora, toda aquela que se encontra fora de sua área de distribuição natural, que ameaça ecossistemas, hábitats ou espécies. Competem em vantagem com as espécies nativas e são favorecidas pela ausência de inimigos naturais, encontrando assim condições propícias para se reproduzirem, alterando o equilíbrio dos ecossistemas.

A disseminação do javali nos estados brasileiros

No Brasil, ocorrem diversas espécies exóticas e muitas delas se incorporaram à natureza sem causar grandes prejuízos ao meio ambiente ou à produção agrícola. No entanto, algumas espécies animais são particularmente prejudiciais ao meio ambiente e à agricultura sendo consideradas pragas por causar enormes prejuízos à lavoura, transmitir doenças ao gado ou causar a extinção de espécies nativas. 

Neste último caso, é particularmente preocupante a disseminação do Javali europeu (Sus Scrofa) em nosso país. Esses animais entraram no Rio Grande do Sul a partir de populações que se formaram fugindo de fazendas de criação no Uruguai, por volta da década de 1990, se tornaram praga. A partir daí foram se espalhando por vários Estados da Federação como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Acre e Rondônia. Sua disseminação também ocorreu devido a incorporação de animais oriundos de fugas ou solturas de criadouros domésticos.

Segundo o IBAMA dos 5.570 municípios brasileiros, 1.536 (27,57%) registraram ocorrência de javalis até 2018,  esses animais só não causaram problemas nos estados de Alagoas, Amapá, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe.

O cruzamento com os porcos domésticos dá origem aos javaporcos

O javali puro mede aproximadamente 1,30 m de comprimento e pesa cerca de 80 kg. Mas a maior parte das populações registradas no país é formada por animais híbridos produto do cruzamento com porcos domésticos, denominados “javaporcos”. Estes são de maior porte e podem atingir 250 kg demonstrando ferocidade igual ou maior do que o javali europeu.

O javali é um pesadelo ecológico, pois come ovos de tartarugas, de jabotis e das aves que nidificam no chão como as emas; destroem as margens de córregos, contribuindo com a erosão e poluem a água; destroem plantações de milho, soja, cana-de-açúcar entre outras culturas; destroem a capacidade de regeneração das matas, pois derrubam árvores em sua fase inicial para se alimentar de suas raízes além de consumirem brotos, sementes e mudas, dificultando o reflorestamento; destroem tocas de outros animais, concorrem com espécies nativas como o caititu e a queixada e são transmissores de várias doenças como a febre aftosa, brucelose suína e a doença de Aujeszky, podendo acarretar prejuízos enormes para a exportação de carne suína e bovina para o exterior.

Prejuízos dos agricultores

Não há estimativas precisas confiáveis sobre o número desses animais em território nacional, mas dá para se ter uma ideia da gravidade do problema pelo seu ciclo reprodutivo, muito curto. As fêmeas podem entrar no cio, pelo menos, duas vezes por ano, gerando seis filhotes em cada uma delas. Portanto, o índice de reprodução é muito alto, e em condições ideais como em áreas inundadas, é ainda maior.

Agricultores dos estados do Sul e Sudeste tem tido enormes prejuízos com a invasão desses animais. O agravamento da situação levou o IBAMA, através da instrução normativa 03/2013, de 31 de janeiro de 2013 a liberar a caça em todo território nacional, mediante a obtenção de licença especial e o cumprimento de uma série de exigências.

O processo de liberação da caça é ainda muito burocrático e não é suficiente para reduzir os prejuízos dos agricultores. A caça regulamentada pode gerar recursos que poderiam ser aplicados no controle da praga e na conservação da natureza, pois os javalis pela sua esperteza, e por não temerem enfrentar os caçadores, tornam-se atraentes para os amantes dessa prática.

Para que ocorra uma diminuição significativa desses animais é necessária uma estratégia voltada para a sua erradicação em algumas áreas como as unidades de conservação, com a manutenção sustentável desses animais nas áreas restantes. O Ibama publicou em 2020,Manual de boas práticas para o controle de javali que pode ser obtido em: https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/notas/2020/manejo-e-controle-de-javalis/20201217Manual_do_Javali_Digital.pdf

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